PARA CUNHA, LAVA JATO POUPA PT E MIRA EM POLÍTICOS DO PMDB.
Polícia Federal cumpriu mandados
de busca na casa de Cunha e na Câmara.
Ele disse estar 'tranquilo' e que considerou 'nada de mais' operação da PF.
Alvo de mandados de busca e apreensão da Operação Lava
Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusou o governo na
tarde desta terça-feira (15) de buscar "revanchismo" e tentar desviar
a "atenção da mídia" do processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff. Na visão do peemedebista, os investigadores do esquema de corrupção
que atuava na Petrobras poupam políticos do PT e mira no PMDB.
Em entrevista coletiva concedida horas após a Polícia
Federal (PF) apreender documentos e equipamentos em suas casas e escritórios,
Cunha afirmou que não há a menor hipótese de renunicar à presidência da Câmara.
"O governo quer desviar a mídia do processo de
impeachment e colocar em mim e no PMDB a concentração dos atos [investigados pela
Operação Lava Jato. Nada mais natural do que ele governo querer buscar
revanchismo", afirmou o deputado do PMDB.
Na manhã desta terça, a PF cumpriu
mandados de busca e apreensão na residência oficial de Cunha em
Brasília e na casa e no escritório dele no Rio de Janeiro. A ação foi batizada de
Catilinárias – uma referência ao senador romano Catilinas, que
tentou derrubar o governo.
Ao menos 12 policiais e três viaturas foram deslocados
para a residência oficial da presidência da Câmara, que fica na Península dos
Ministros. Segundo a PF, a busca na casa do presidente da Câmara durou mais
de cinco horas. Os agentes chegaram ao local por volta das 6h e foram recebidos
pelo próprio deputado.
Assim como nas outras ocasiões em que esteve no foco
das investigações da Operação Lava Jato, o presidente da Câmara voltou a
afirmar que não irá renunciar ao cargo.
Cunha centrou a entrevista coletiva em questionamentos
sobre a legitimidade das ações da Procuradoria-Geral da República. O
peemedebista voltou a argumentar que foi "escolhido para ser
investigado" e acusou o PT de ser o autor de "assalto" à
Petrobras.
Bumlai.
Ele também lembrou que o pecuarista Carlos Bumlai,
amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confessou em depoimento dado
à Polícia Federal, nesta segunda (14), que houve fraude
na quitação de um empréstimo de R$ 12 milhões feito por ele no Banco Schahin e que
esse dinheiro seria destinado a "caixa 2" do PT.
"A gente sabe que o PT é responsável por esse
assalto que aconteceu no Brasil. Esse assalto na Petrobras. Hoje o dia é a notícia
que o Bumlai entregou R$ 12 milhões do caixa dois para o PT e ficou pequeno no
jornal. Todo dia tem denúncia do PT.
Como o povo é inteligente e sabe que o dia
de hoje é o dia do Conselho de Ética e a véspera da decisão sobre o
impeachment, sabe que tem alguma coisa estranha no ar", disse.
"Não me parece que ninguém do PT que tem o foro
que eu tenho é sujeito a qualquer tipo de operação. Só são sujeitos de operação
aqueles que não são do PT", completou o presidente da Câmara.
Cunha respondeu dizendo que o caso é
"diferente". "O Delcídio foi preso num flagrante, por crime de
flagrante", ressaltou o peemedebista.
Delcídio do Amaral foi preso em 25 de novembro acusado
de tentar obstruir as investigações da Lava Jato. Uma conversa gravada pelo
filho do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró revelou
que, entre outras coisas, o petista havia sugerido alternativas de fuga para o
ex-dirigente da estatal.
'Estranheza'.
Cunha também disse que causou "estranheza" a
realização da operação no mesmo dia em que foi realizada reunião do
Conselho de Ética para analisar seu processo e na véspera da decisão do
Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o rito do processo de impeachment. Mesmo
assim, o peemedebista disse que considera "nada de mais" a ação da
PF.
"O que estranho é a gente estar no momento no dia
que vai ter o Conselho de Ética e na véspera da decisão do processo de
impeachment e de repente deflagram uma operação. A denúncia foi feita quatro
meses atrás", complementou o deputado.
Chaveiro.
Questionado por jornalistas sobre o que a Polícia
Federal levou da sua casa, Eduardo Cunha não quis dar detalhes: “São papéis,
papéis”, enfatizou.
Ele contou ainda que um chaveiro fosse chamado para
abrir um cofre “velho e antigo”, mas que não havia nada dentro. “Eu chamei o
chaveiro porque em toda residência de deputado federal tem um cofre velho,
antigo e que ninguém nem sabe, nunca foi aberto esse cofre. Eu nunca tive a
chave desse cofre. Eu chamei o chaveiro, mandei chamar, para abrir o cofre e
nada tinha”, relatou.
Cunha minimizou ainda a apreensão do seu celular
durante a operação da PF. Ele disse que o procedimento é “normal” e que, logo
mais, o equipamento estará de volta.
“O celular é normal, quando eles [PF] fazem busca e
apreensão, eles recolhem para fazer a captação dos dados e devolvem depois.
Devem estar me devolvendo.”
Tumulto no
Salão Verde.
Ao final da entrevista coletiva de Cunha, houve um
pequeno tumulto no Salão Verde. A secretária parlamentar do PSOL Evelyn Silva
disse ter sido agredida por um segurança da Polícia Legislativa que arrancou
das mãos dela uma camiseta com os dizeres "Fora, Cunha".
Ela contou que fazia um protesto silencioso sozinha
enquanto ouvia o presidente da Câmara falar, quando foi surpreendida pelo
segurança.
"Ele arrancou da minha mão a camiseta e eu saí
correndo atrás dele. Fui agredida", disse. Segundo a secretária
parlamentar, o segurança correu para dentro do plenário com a camiseta na mão e
ela teve o acesso barrado.
PMDB.
A Operação Catilinárias, deflagrada nesta terça, teve
como foco principal políticos
filiados e ligados ao PMDB, partido do vice-presidente da República, Michel
Temer, e que detém a maior bancada na Câmara dos Deputados.
Além de Cunha, foram alvos da operação os ministros,
Celso Pansera (PMDB-RJ), de
Ciência e Tecnologia, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), do Turismo; e o
deputado Federal Aníbal Gomes (PMDB-CE).
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também
encaminhou ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, uma
solicitação para entrar na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL).
No entanto, o magistrado da Corte negou
autorização para a Polícia Federal (PF) apreender documentos e
outras provas na residência de Renan.
A PF também cumpriu mandado na sede do PMDB em
Alagoas, reduto eleitoral de Renan Calheiros. Apesar de não ser alvo direto da
operação, a Procuradoria Geral da República fechou o cerco em torno do
peemedebista. Das mais de cinco dezenas de ações da Polícia Federal nesta
terça, ao menos duas mirou pessoas ligadas a Renan Calheiros: o deputado Aníbal
Gomes e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Fonte: G1 – DF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário