RECEITA INVESTIGA DOAÇÕES DE EMPREITEIRAS AO INSTITUTO LULA.
A Receita Federal abriu uma ação para fiscalizar a movimentação
financeira do Instituto Lula, fundado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva após deixar o Palácio do Planalto.
A Folha
apurou que o foco está no relacionamento da entidade com empresas que doaram
recursos para manutenção do instituto, especialmente o envolvido na Operação
Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras. Nessa categoria,
aparecem empreiteiras como Odebrecht e Camargo Corrêa.
A Receita quer checar a origem dos recursos destinados
ao instituto, como o dinheiro foi gasto e se essas contribuições foram
declaradas, tanto pelos doadores como pelo próprio instituto.
A investigação nasceu a partir de dados da área de
inteligência da Receita, que colabora com a Operação Lava Jato. Não há prazo
para sua conclusão.
Embora o instituto fique em São Paulo, a fiscalização
foi aberta pela Demac (Delegacia Especial de Maiores Contribuintes) do Rio de
Janeiro.
Há cerca de 20 dias, o instituto foi intimado a
apresentar documentos fiscais e informações contábeis.
Tinha até o fim do ano para fazer isso. Na tarde desta
terça-feira (22), no entanto, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto,
esteve na Superintendência da Receita em São Paulo para pedir a dilatação do
prazo.
À Folha,
ele disse que não poderia cumprir o cronograma fixado pela Receita por causa
das festas de fim de ano. Conseguiu mais 20 dias.
Essa foi a segunda vez que o presidente do Instituto
Lula foi à superintendência do fisco em São Paulo para tratar do assunto.
Semanas atrás, ele esteve na sede da Receita Federal para se inteirar do
assunto.
Okamotto nega que a ação seja um desdobramento da Lava
Jato. "É uma fiscalização normal. Querem saber se pagamos impostos
direito", afirma.
Como todo processo fiscal, a averiguação no Instituto
Lula é sigilosa. Por isso, a Receita não quis se manifestar.
Essa operação não tem ligação, pelo menos no primeiro
momento, com a LILS Palestras e Eventos, empresa do petista para administrar as
palestras para as quais é contratado.
Segundo seu estatuto, o instituto Lula, uma entidade
sem fins lucrativos, tem "compromisso com o desenvolvimento nacional e a
redução de desigualdades, visando o progresso socioeconômico do país".
O site da entidade aponta "a cooperação do Brasil
com a África e a América Latina" como eixo de atuação.
"O exercício pleno da democracia e a inclusão
social aliada ao desenvolvimento econômico estão entre as principais
realizações do governo Lula que o Instituto pretende estimular em outros
países", diz o site.
Para justificar essas doações, o instituto afirma que
os recursos patrocinam a manutenção e desenvolvimento de atividades.
O Instituto Lula não divulga a lista de empresas das
quais recebe doações, nem os valores que obteve.
OUTRO LADO.
Okamotto afirmou que a fiscalização aberta pela
Receita Federal é um "procedimento normal" e não tem relação com a
Lava Jato.
"A Receita quer saber se estamos pagando imposto
direitinho. E estamos. Dei de barato que esse é um procedimento normal",
disse Okamotto.
Diante da pergunta sobre a motivação da fiscalização,
Okamotto descartou ligação com a Lava Jato e afirmou que não faria sentido que
o instituto fosse investigado por conta de doações de empresas que já tiveram
seu sigilo quebrado durante a operação, que é capitaneada por Ministério
Público Federal e Polícia Federal.
"A Receita quer saber da contabilidade do
instituto. Todas as empresas podem ser fiscalizadas no Brasil", minimizou
o dirigente.
Okamotto disse que a Receita não informou que a operação
Lava Jato seja o pano de fundo para fiscalização no instituto. "Fomos
intimados a apresentar documentos sobre a contabilidade".
Sobre o pedido de mais prazo para apresentação de
documentos e informações fiscais, Paulo Okamotto afirmou que, por causa das
festas de fim de ano, não haveria tempo para reunir os dados que o fisco
solicitou.
Ele reclamou do fato de o procedimento ter vindo a
público, embora protegido por sigilo. "Não existe mais privacidade neste
país".
Procurada, a Receita Federal alegou sigilo para não se
manifestar sobre a fiscalização em questão.
A Odebrecht afirmou à reportagem, por meio de sua
assessoria, que "faz contribuições a fundações e institutos, a exemplo do
Instituto Lula, dentro de seu programa de apoio às iniciativas que promovem o
debate de causas de interesse social".
Em junho, quando suas doações se tornaram públicas em
decorrência da investigação da Lava Jato, a construtora Camargo Corrêa informou
que "as contribuições ao Instituto Lula referem-se a apoio institucional e
ao patrocínio de palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
exterior".
Outras suspeitas
contra Lula.
Amigo.
José Carlos Bumlai confessou ter repassado empréstimo
de R$ 12 milhões do Banco Schahin para o caixa dois do PT
Operação
Zelotes.
Filho do ex-presidente é alvo da PF por ter recebido
R$ 2,5 milhões de lobistas interessados em benefícios ao setor automotivo.
Delator.
Empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, disse ter entregue
R$ 2,4 milhões de caixa dois à campanha de reeleição de Lula em 2006.
Tráfico de
influência.
Lula é investigado por suspeita de favorecer a
Odebrecht, que pagou viagens do petista a países onde fez obras financiadas
pelo BNDES.
Fonte: Jornal "O Estado de S. Paulo".
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