BNDES VAI PAGAR R$ 4,8 BILHÕES EM DIVIDENDOS À UNIÃO.
Tesouro
Nacional pressionou banco a realizar o pagamento para ajudar no fechamento das
contas do governo neste ano.
A
poucos dias do fim do exercício de 2015, o Tesouro Nacional
buscou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
uma robusta contribuição para ajudar no fechamento das contas do governo.
Depois de forte pressão da equipe econômica, o banco aprovou antes do Natal o
pagamento de cerca de R$ 4,8 bilhões em dividendos
à União, segundo fontes com conhecimento da operação.
Nos últimos meses, o banco de desenvolvimento, que
começou a diminuir de tamanho no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff,
travava uma queda de braço com o governo federal para evitar o repasse dos
dividendos.
O BNDES ainda não havia repassado nada em 2015. A última
transferência do banco ao Tesouro - seu único acionista - foi feita em setembro
do ano passado.
O pagamento dos dividendos foi acertado na mesma
semana em que o governo decidiu colocar em dia seu débito de R$ 15,1 bilhões
com o banco por conta das pedaladas fiscais. Procurado, o BNDES informou que
não comentaria o repasse.
Mesmo com o aval do Congresso para fechar o ano com
déficit de até R$ 119,8 bilhões, o governo federal precisou contar com o
reforço de caixa do BNDES para conseguir cumprir a meta fiscal de 2015.
Desde
2008, os dividendos pagos pelo BNDES e pela Caixa se transformaram numa das
principais fontes de receitas extraordinárias para garantir o cumprimento das
metas fiscais. Só o BNDES pagou R$ 63 bilhões em dividendos desde 2008.
A política de aumento de dividendos contribuiu para a perda
da credibilidade da política fiscal, por conta dos vultosos empréstimos
concedidos pelo Tesouro aos bancos públicos.
Esses repasses ajudaram a melhorar
o lucro dos bancos e, com isso, também inflaram a distribuição de dividendos,
numa manobra que ficou conhecida como transformação de "dívida em
receitas" para aumentar o superávit das contas públicas.
Pedido.
O pagamento dos dividendos foi pedido em dois ofícios
de 15 de dezembro, assinados pelo então secretário do Tesouro da equipe do
ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, Marcelo Saintive.
Os recursos se referem
tanto a uma complementação do lucro de 2014 quanto a uma parcial do resultado
de 2015 - normalmente, as empresas pagam dividendos após a divulgação do
balanço anual, no início do ano seguinte.
Mesmo com a troca de comando na Fazenda, a exigência
do Tesouro de cobrar o pagamento dos dividendos foi mantida pelo novo ministro
Nelson Barbosa.
A autorização para o pagamento foi dada pelo conselho do banco
em reunião realizada no dia 23, quando Barbosa já estava à frente da Fazenda.
A cúpula do BNDES vinha resistindo a manter esse ritmo
de repasse porque precisa reforçar seu capital regulamentar, principalmente por
causa do que a Petrobrás lhe deve.
É uma estratégia gerencial dos bancos
reservar parte de seus lucros para reforçar seu capital, melhorando seus
indicadores perante as regras de regulação do Banco Central (BC) e ampliando
sua capacidade de emprestar.
Por causa da Petrobrás, o BNDES está desenquadrado das
normas do BC sobre exposição a um único cliente. A exposição leva em conta
todos os recursos que um banco compromete com seus clientes, incluindo dívida e
participação acionária.
Hoje, o limite de exposição do BNDES para uma mesma
empresa é de R$ 24,7 bilhões, segundo dados do terceiro trimestre, mas, no caso
da Petrobrás, esse valor está acima do dobro.
A instituição de fomento encerrou
2014 com cerca de R$ 64 bilhões comprometidos com a petroleira, conforme
cruzamento de dados feito pelo jornal O Estado de São Paulo em abril.
Neste fim de ano, segundo uma fonte, essa exposição
caiu para pouco mais de R$ 50 bilhões, sobretudo por causa da queda das ações
da Petrobrás.
O BC não aplica sanções contra o BNDES porque há cerca de 15 anos
algumas exceções na hora de calcular o limite da exposição à Petrobrás foram
criadas em resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Uma delas permitia ao BNDES excluir a participação
acionária do cálculo.
A mais recente dessas resoluções, do fim de junho,
impediu o BNDES de dar novos empréstimos à petroleira e estabeleceu um
cronograma para a eliminação do excesso de exposição, até 2024.
De 2016 a 2018, o BNDES está obrigado a reduzir em 20%
o excedente.
Se o banco pudesse usar o lucro para aumentar o capital, o limite
subiria, dando folga perante o BC. Sendo acionado pelo Tesouro para pagar
dividendos, o BNDES poderá agora necessitar de novas exceções para não ficar de
fato desenquadrado.
Fonte: G1 – DF.
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