domingo, 13 de dezembro de 2015

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - DOMINGO, 13 DE DEZEMBRO DE 2015

COMENTÁRIO
Scarcela Jorge

 MEA CULPA DA PRESIDENTE.

Nobres:
De princípio nos reportamos “quase” somente às alusões técnicas embasadas na Lei de Responsabilidade Fiscal, criada para conter graves abusos que gestores seriam punidos pelo seu desconserto. O desleixo das leis que não são observadas pelos gestores, e ou interpretam o espírito arrogante e imperialista como está acontecendo com a presidente Dilma, segundo ela, não recai atos de corrupção e similares no contexto de seu governo. Foi esta a explicação equívoca em que se expressou ao saber que o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, tinha acolhido um pedido de impeachment de Dilma. É até dispensável em ser esta questão foi retomada em outras ocasiões pela própria Dilma ou por seus aliados. E, de fato, até o momento não há nenhuma comprovação de que Dilma estivesse pessoalmente envolvida em atos de corrupção. Mas Dilma se defendia daquilo de que não era acusada. O pedido de impeachment redigido por Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal se baseia não em atos de corrupção, mas em irregularidades fiscais cometidas por Dilma em 2014 e 2015. Algumas dessas operações já foram inclusive analisadas pelo TCU, que recomendou ao Congresso Nacional a rejeição das contas de 2014 da presidente. Nas “pedaladas”, o governo deixou de repassar dinheiro a bancos estatais, forçando-os a custear de forma indireta programas sociais e de ajuda a empresários. Na prática, trata-se de um empréstimo proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Outro tipo de irregularidade, cometido tanto em 2014 quanto em 2015, foi a edição de decretos sem número que abriam crédito suplementar sem autorização do Congresso. O governante que manipula o orçamento demonstra descaso completo com os recursos públicos como um todo. Essas são apenas algumas das irregularidades apontadas, e já são suficientes para configurar desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal e à Lei 1.079/50, que define os crimes de responsabilidade. Esta lei enumera artigos pertinentes aos “crimes de responsabilidade e contra a lei orçamentária, as “pedaladas” e outras violações também se encaixam na definição do inciso VI do artigo 85 da Constituição. Para o grande público, a gravidade da violação das leis orçamentárias não é tão evidente quanto à dos atos de corrupção como os que temos nos acostumado a ver no noticiário: desvios, propinodutos, apropriação sistemática de recursos públicos, pilhagem de estatais. Ela é também mais difícil de explicar à opinião pública: é fácil entender por que um Fiat Elba comprado com dinheiro de caixa dois é motivo de impeachment, mas compreender o que é uma “pedalada”, e por que ela também merece ser punida com a cassação, é outra coisa. Mas a grande verdade é que gambiarras orçamentárias são tão graves quanto os atos de corrupção. O governante que manipula o orçamento demonstra descaso completo com os recursos públicos como um todo. E o Brasil percorreu um longo caminho para que se criasse a consciência de que um governante não pode dispor dos bens públicos como bem entender. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um marco nesse sentido, ao deixar claro que não basta ao mandatário simplesmente equilibrar receita e despesa: também é necessário administrar com lisura os recursos públicos. Nos últimos dias, Dilma parou de se defender do que não era acusada e passou a justificar as “pedaladas”. Na quarta-feira, em Roraima, ela argumentou que “nós o governo somos os únicos donos” da Caixa Econômica Federal, como se isso permitisse ao governo usar o dinheiro da Caixa em descompasso com o que prevê a lei. Ainda disse que foi “por conta que (sic) nós fomos capazes de fazer o maior programa habitacional da história que nós hoje somos responsabilizados”. Dilma confessou – não existe outra interpretação possível para essas afirmações. Ela admitiu as “pedaladas”. Admitiu a promiscuidade entre Tesouro Nacional e Caixa, mas quer ser absolvida porque “foi pelos pobres”, em uma variante do “rouba, mas faz” malufista. O governo não está argumentando que as operações irregulares com o orçamento jamais ocorreram. Dilma está admitindo as movimentações, mas alega (contra o próprio texto legal) que elas seriam lícitas ou que não deveriam ser punidas porque foram feitas com um bom propósito. Aceitar esse raciocínio, mantendo Dilma na Presidência, é dar carta branca para atuais e futuros governantes maquiarem as contas públicas como bem entenderem; é deixar a porta aberta para desmontar o que conquistamos a duras penas. Neste contexto, estamos a isentar os escândalos estarrecedores que fazem um cenário corrupto de seu governo em todo o mundo e nas outras razões deveria a muito está fora do governo.
Antônio Scarcela Jorge.

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