segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2015

COMENTÁRIO
Scarcela Jorge

REFERIMENTO INCONSEQUENTE.

Nobres:
Numa alusão de que toda memória do brasileiro é curta em se tratando de política, num contraste elementar a cada situação, entretanto, a que vivenciamos faz discorrer a lembrança da queda de Fernando Collor de Mello, sacramentada pelo Congresso Nacional e sob a mais estrita legalidade constitucional em 1992, é até hoje notada como uma referência da pujança que a nossa democracia alcançou após duas sofridas décadas de domínio de exceção promovido pelo regime militar. Naquela época, o Partido dos Trabalhadores esteve na linha de frente dos protestos pelo impeachment, ao lado de outras legendas políticas e entidades como a União Nacional dos Estudantes, a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa. Mereceram aplausos e passaram à história os que viram em Collor de Mello ações ou omissões caracterizadas como crime de responsabilidade. Ela procura desconhecer a própria razão e que os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, seu partido, o PT igualmente liderou manifestações cujo mote era “Fora FHC e o FMI”, em referência ao Fundo Monetária Internacional. Naquela época foi um direito legítimo, afirmado pelas vias institucionais, daqueles que viam também na gestão tucana indícios que poderiam levar à saída de FHC do Planalto, embora a mobilização não criada ambiente político propício a que se chegasse ao impeachment, como aconteceu com Collor. Agora, obviamente a história se repete; à medida que o escândalo das propinas da Petrobras ficou mais e mais cabeludo. Vários grupos, não necessariamente vinculados a partidos políticos, aticamente vêm percorrido ruas, notadamente de várias capitais brasileiras com o refrão “Fora Dilma. A reação do PT e da própria presidente a essas manifestações, no entanto, deixa evidente uma incoerência em relação à visão que o partido tinha das mobilizações que protagonizou no passado. “Golpista” é o adjetivo mais usado nesses casos, e o PT não está falando apenas dos verdadeiros golpistas, aqueles que deponham Dilma: o termo, na boca da presidente e de outros membros do PT, engloba qualquer um que vá às ruas pelo impeachment. Na opinião da presidente, agora com maior preocupação atinge por toda sociedade em relação aos mencionados protestos e seriam golpistas os que, seja nas tribunas do Congresso Nacional ou nas passeatas, acreditam que a corrupção instalada nos escamentos governamentais seria motivo suficiente para desalojá-la do Palácio do Planalto. Dilma em sua constante alocução usa um chavão idêntico amoldado em ditadura e tentou relativizar a visão autoritária presente na raiz da classificação que dá aos oposicionistas: por outro lado ao analisar as discussões provocadas pela Presidente, não dá sentido nenhum, pois o impeachment, reiteramos, é um instrumento legal e legítimo, nas melhores democracias e se aplica aos governantes que cometam crimes de responsabilidade, que, no exercício do poder, adotem condutas que atentem contra a Constituição e, entre outros motivos, atentem também contra a probidade administrativa. Assim, não poderá ser visto como golpe se for proposto o impeachment da presidente se ficar provado que ela sabia se beneficiou ou nada fez para conter a corrupção no seio do governo. Se em 1992 e nos anos FHC as manifestações populares eram legítimas, por que não considerar igualmente legítimos os movimentos que pedem o “Fora Dilma”? Sem entrar no mérito da luta, que já comentamos em ocasiões anteriores, não há razão para condenar sua manifestação, feita até agora de forma pacífica e conduzida sob a proteção de cláusulas pétreas da Constituição que garantem a livre expressão do pensamento, o que desautoriza a presidente a considerar como golpistas os que pedem “Fora Dilma” diante ainda do escândalo da Petrobras, as pedaladas fiscais e a crise moral principalmente, com fortes aliados corruptos no seio de seu governo  Ao demonizar a oposição, institucional ou popular, como golpista, a presidente usa palavras e atitudes que a aproximam do autoritarismo e parece desconhecer a legitimidade que a Constituição confere a seus adversários. Em síntese analisamos para expor somente o mérito, não desestimando coisa pior. Entretanto ela está usando ações de desespero, que visualiza ser insustentável e por razão acatada pela sociedade ética e majoritária do país.

Antônio Scarcela Jorge.

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