O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou
que a presidente Dilma Rousseff "negocie" sua renúncia com o
Congresso para "criar um clima positivo" no Brasil.
Segundo FHC, Dilma deveria condicionar sua saída à
aprovação de uma reforma política consistente e de mudanças no sistema de
Previdência Social, que devolvam governabilidade ao país. As declarações foram
dadas em uma entrevista à rádio Gaúcha, na manhã desta sexta-feira (30).
"Como está em situação delicada, com baixa
popularidade e dificuldades no Congresso, a presidente deveria dizer: dêem-me
tais e tais reformas, para criar um clima mais positivo no Brasil, que eu saio.
Na minha opinião, ou a presidente chama o país às falas e apresenta um caminho
crível para governar, ou então deixa uma marca forte a renúncia. 'Saio se
aprovarem tais e tais coisas, uma reforma eleitoral, uma reforma da
Previdência. Se fizerem isso o Congresso, eu caio fora'", recomendou.
FHC declarou que a solução menos custosa neste momento
é a renúncia da presidente, com a consequente posse do vice-presidente Michel
Temer (PMDB).
Segundo Cardoso, o impeachment é um processo longo,
que "paralisaria o país". Além disso, uma eventual impugnação da
chapa de Dilma e de Temer devido às denúncias de abuso de poder econômico na
campanha de 2014 também provocaria "grande confusão". "É fácil
de falar, mas tem custo elevado", avaliou o ex-presidente.
FHC também afirmou que aceitaria conversar com a
presidente Dilma, se fosse convidado. "Aceito [conversar] em qualquer
momento. Conversar não quer dizer aderir. Diria à presidente isso que estou
dizendo aqui: ou assume país de verdade ou vai perdendo oportunidades. A
situação é calamitosa. Não é momento de pensar em termos partidários, mas, sim,
em termos cívicos", disse.
Para Fernando Henrique, a solução da crise econômica
passa necessariamente pela reconstituição da base política do governo.
O ex-presidente reconheceu o "esforço" do
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para retomar o equilíbrio fiscal, mas
advertiu que não há base política para "levar adiante" o ajuste.
"É uma questão política. A presidente Dilma
continua perdendo mais força, mais credibilidade. É uma tristeza",
afirmou.
Lula cria sombra
sobre o governo.
Sobre Lula, FHC voltou a dizer que sua influência
sobre o governo cria "uma sombra" que não é boa para o país.
"Atrapalha o poder da presidente. Ele [Lula] está se expondo muito. Não
sou de jogar pedras no passado, reconheço que o ex-presidente fez coisas importantes
para o país. Mas essa sombra não é boa nem para ele e nem para o país",
avaliou.
Ataque contra
Cunha.
Cardoso também atacou o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse que o PSDB deve ser
"implacável" com o parlamentar, acusado de manter contas secretas na
Suíça para receber dinheiro de propina.
"Diante de tudo o que já se publicou, com toda a
documentação sobre as contas secretas, com tudo comprovado e tal, Cunha está
perdendo condições morais de ser presidente da Câmara. O PSDB deve ser
implacável com ele", aconselhou.
Petrobras.
O ex-presidente também defendeu seu governo
(1995-2002) e disse que "estourou" os primeiros indícios de
irregularidades administrativas na Petrobras.
FHC afirmou que, no seu governo, não havia
"roubalheira" na estatal, mas problemas de gestão. Eu estourei. Mudei
tudo.
O Philippe Reichstul que comandou a Petrobras entre 1999 e 2001
reestruturou de cabo a rabo. Mas em política você não faz o que quer na hora
que quer. Nós transformamos a Petrobras de uma repartição em uma empresa de
mercado, regulada por regras objetivas.
Eu não nomeei nenhum político para a
Petrobras, nem para o banco do Brasil, nem para a Caixa, nem para nenhuma das
empresas que ficaram para o Estado, afirmou.
Fonte: Agência Brasil.
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