COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
NATURALIDADE CORRUPTA
Nobres
Os presidentes
da Câmara e do Senado, ao usarem aviões da Força Aérea Brasileira (FAB),
gozando, erradamente, de suas prerrogativas, deixam à mostra a fragmentação do “eu
próprio” que está
ligada à política nacional. Nela, tudo indica, existe uma disparidade entre a
parte psicótica da personalidade e a não psicótica de pessoas públicas, de tal
forma que, finalmente, a diferença entre ambas se torna intransponível. Franz
Kafka afirmava que crer no progresso não significa que já tenha ocorrido
qualquer progresso. No caso da vida pública brasileira, a ética como primazia,
ainda que em atitudes legais, caso do uso dos aviões da FAB, sempre fica em
segundo plano. Pagar o preço das passagens não atenua coisa alguma eticamente
falando. O ato de usar aviões oficiais para viagens absolutamente particulares
e ainda levando parentes e amigos ficaram lá, indelével, marcado. Parece
que, para algumas autoridades - e não é de hoje nem deste ou daquele partido -
elas se movem não em um mundo de sonhos, mas, sim, em um mundo em que seus
desejos, sempre que atendidos, constituem a realização dos sonhos. Suas
impressões éticas sofrem uma forma de mutilação na base da própria satisfação,
sem importar toda a consciência coletiva, o sofrido povo brasileiro. Certos
políticos parecem prisioneiros de um estado mental de alienação social,
incapazes de evadir-se dele, porque lhes falta o aparelho psíquico de percepção
da realidade do País em que vivem, com seus problemas crônicos, frases e
promessas repetidas, mas jamais cumpridas, e a impunidade sistemática obtida
nas filigranas jurídicas que permeiam os códigos penais. A reforma política,
por exemplo, está há 15 anos à espera de votação. E só deverá sair o tal de
plebiscito em 2014. Se os políticos que cometem deslizes tivessem a percepção
da realidade brasileira, encontrariam a chave que lhes permitiria a liberdade
de agir eticamente sempre e isso os libertaria - pois a verdade sempre liberta
-, e seria o caminho natural para onde se abrigariam. É enjoativamente
repetitivo ficar analisando casos de corrupção, inclusive os que estão
ocorrendo, lamentavelmente, de maneira corriqueira também aqui no Estado do
Ceará, no meio, e no interior é uma situação “desastrosa” lamentavelmente em
comunhão de pessoas que se abrigam do poder, consequentemente usam da
“bajulação” como “único mérito” de se instar no governo. mas não se pode fugir
da notícia. Esperar soluções é uma retórica enfadonhamente repetitiva até
porque um problema bem identificado é um problema metade resolvido, segundo os
melhores analistas. A questão que se coloca, entretanto, é que estamos
identificando, denunciando, reclamando e clamando por soluções de problemas há
muitos anos e o que vemos são apenas repetições, com uma ou outra novidade,
geralmente tecnológica, no modo de operação das fraudes ou da falta de ética.
Antônio Scarcela Jorge.
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