COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
ESPELHO EXISTENCIAL.
‘descrição e opinião sobre a passagem do Papa Francisco’
Nobres:
Deixando de lado as questões
setoriais já que aqui, “bem dizia” uma personalidade folclórica da terrinha –
“É o centro das atenções do universo – “a exceção das exceções” – não é atoa o
estado de desleixe em que se encontra, entre outros. Para um “Brasil um pouco diferente”
mesmo contagiado pelo mundo da corrupção, naturalmente há momentos de magnitude
que a sociedade é centralmente participativa contanto que a euforia com que o
papa Francisco foi recebido nas ruas das cidades mostra que o povo já sabe
distinguir quem é quem. Que já sabe a quem festejar com alegria sã e a quem
apupar com a ira santa do protesto. Se o ocupante daquele carro que ficou
trancado junto a uma fila de ônibus na maior avenida do Rio, fosse algum dos
nossos governantes ou dos nossos políticos, qual seria a reação popular ao
reconhecê-lo? Sei apenas que o ocupante principal jamais abriria os vidros do
carro nem acenaria sorridente para a multidão! Francisco fez tudo isto por seu
estilo de vida, não por demagogia vazia e vã. Desde que, com João XXIII, a
partir de 1958 a Igreja libertou-se das amarras medievais e do horror da
Inquisição, não se via um papa tão humilde e humanizado quanto ele. Nem o
asceta Paulo VI ou o simpático Wojtyla. - Tempos depois, quando criticou o
"neoclericalismo rigoroso e hipócrita" dos padres que não batizavam
crianças nascidas fora do casamento, renascia o humanismo cristão. - Agora, na
viagem para a Jornada Mundial da Juventude, a humildade inata apareceu já pela
TV, ao vê-lo subir a escada do avião, em Roma, ele próprio levando sua imensa
pasta preta. Ao entrar, deu a mão às duas aeromoças. Aqui, na pompa do poder
(em que até vereador se trata de "vossa excelência") quem faria isto?
- “Ora esta gente depois de eleita não passa a falar com ninguém”. - Na
chegada, beijou na face a presidente Dilma, algo que nenhum Papa fizera em
público com mulher alguma em vez do postiço protocolo, humanizou o encontro.
Depois, as espontâneas cenas de rua que a TV mostrou, e que só ocorreram porque
"falhou" o esquema de segurança. Nenhum anjo levou o carro-guia por
caminho errado, mas o caos de 30 mil homens mobilizados para distanciá-lo do
povo, não para protegê-lo. No palácio do governo estadual, recebido pelo
"alto mundo" político e empresarial, respondeu às boas vindas da
presidente Dilma com um breve discurso. - Não tenho ouro nem prata, mas trago
Jesus Cristo!- disse à frente de um milhar de pessoas que, em boa parte, só
pensam e agem em função de ouro e prata e estão recheadas de metal. Logo, a
solidariedade cristã foi o tema da missa de abertura da Jornada. Na favela de
Varginha, fixou os olhos quando o representante dos moradores narrou que só
reformaram as ruas depois que se soube que o Papa iria lá. Entendeu o recado e
exortou a não perder a esperança ante a corrupção: "A realidade pode
mudar", disse. A chuva evitou que visse a devastação da mata e da área de
mangues de quase 2 milhões de metros quadrados (antes com micos, capivaras e
garças) na qual a prefeitura carioca gastou R$ 24 milhões em drenos e aterros
para construir o Campo da Fé. São Francisco de Assis teria chorado. O lodaçal
levou a transferir a grande missa final. O Papa não veio ao Brasil para
substituir-se aos governantes, mas para incentivar os jovens a não se deixarem
corromper "pelo deus dinheiro", como frisou para os argentinos. Foi
aplaudido sempre. Mas, quem concretizará suas mensagens e denunciará os
"mercadores da morte", a lógica do poder do dinheiro, o narcotráfico,
a corrupção que atravanca a justiça social e a solidariedade? - Para realizar o
que ele prega teremos governantes que, no Rio, foram incapazes de organizar o
trânsito, evitar a paralisação dos trens do metrô e que devastaram a própria
obra da Criação. O Papa parte e ficamos nós, cheios de nós. – Se conclui que é
uma contradição eletiva dos nossos governantes e com apoio de segmentos da
sociedade.
Antônio Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário