sexta-feira, 10 de outubro de 2014

EDITORIAL - SCARCELA JORGE - 'SEXTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2014

COMENTÁRIO
SCARCELA JORGE.

BOLSA ELEIÇÃO

Nobres:

Pela ação parcial nas eleições presidenciais no país, é muito provável que o Bolsa Família se transforme na principal polêmica da campanha para a Presidência da República no segundo turno, que ganha ênfase com o reinício do horário eleitoral obrigatório. Os meganúmeros relacionados ao maior programa social do país, porém, deixam evidente que o tema dificilmente será tratado com a objetividade necessária, pelo seu potencial de interferir na votação de um universo considerável de eleitores. Só no ano passado, R$ 24,5 bilhões do programa foram disputados por 14,1 milhões de famílias, o que pode alcançar 50 milhões de pessoas, um em cada quatro brasileiros, boa parte das quais eleitores. Definidos os resultados das urnas, porém, e levando-se em conta as dimensões dos números envolvidos, essa é uma questão que mereceria uma análise menos atrelada a interesses políticos. Não é de agora que o PT de Dilma Rousseff e o PSDB de Aécio Neves disputam a paternidade do principal programa de transferência de renda do país e talvez o maior responsável pela ascensão social de milhões de brasileiros que saíram da miséria absoluta para um padrão de consumo mínimo. Ainda assim, é indesejável que essa batalha se transforme no principal foco da campanha eleitoral de segundo turno, como já antecipam cabos eleitorais e marqueteiros. Até porque, basicamente, o que a candidatura da situação promete é manter o programa. E o que a oposição quer é transformá-lo em política de Estado, visando evitar manipulações políticas, classificando todas as famílias do Cadastro Único por níveis de risco. A campanha eleitoral daria uma ajuda importante para o país se contribuísse para desfazer o equívoco de generalizações como a de que muitos beneficiários “não merecem” o valor recebido. O combate à pobreza precisa constar das políticas públicas e o programa cumpre essa função. Ainda assim, é preciso que sejam enfrentadas as falhas na fiscalização e, particularmente, as fraudes que acabam prejudicando quem realmente precisa. Preocupa também o fato de o número de usuários se expandirem de forma descontrolada, a ponto de, em alguns Estados, o programa atender metade da população. O país precisa lutar para que as pessoas saiam do Bolsa Família, com estímulo ao estudo e à oferta de emprego, e não para que continuem cativas da ajuda oficial do Estado. Somos favoráveis a este tipo de programa que na verdade seria relevante, mas com outro empenho e que não se transformasse como referência eleitoreira, uma “norma” agregada interativa entre governo e a população participativa no programa.

Antônio Scarcela Jorge.

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