COMENTÁRIO
SCARCELA JORGE.
ACINTE A CIDADANIA.
Nobres:
Entre
dessas coisas que acontece no país, não dá para crer quando partidos políticos
derrotados no primeiro turno recomendam a seus filiados que votem em branco ou
anulem o voto. Ainda que tais opções sejam um direito do eleitor, tanto que a
urna contempla essas duas possibilidades, as agremiações políticas existem para
captar votos e não para torná-los inúteis. Ao sugerir aos filiados que
renunciem à escolha, o partido passa uma mensagem negativa e desrespeitosa à
maioria do eleitorado que optou por outras legendas no primeiro turno. Fica a
impressão de que os dirigentes políticos que assim agem consideram-se os únicos
capazes de administrar o país e os Estados. Muito mais digno seria liberar o
eleitor ainda que a filiação não tire o livre-arbítrio para votar em quem
quiser. Mesmo antes de sugestões equivocadas como essas, disparadas agora por
líderes de partidos políticos, o número de eleitores que votaram em branco
anularam o voto ou se abstiveram na disputa ao Palácio do Planalto alcançou 27%
no primeiro turno. O percentual perde apenas para o de 1998, quando chegou a
36%. Só os votos nulos e brancos para a presidência confirmados no último
domingo superam em quase três vezes a soma dos recebidos pelos partidos de
pequeno porte. E é de alguns dirigentes dessas legendas que mais partem
recomendações inaceitáveis, como a de o eleitor fugir ao seu compromisso cívico
marcado para o próximo dia 26. Infelizmente, a democracia brasileira reduz as
alternativas para os inconformados com a política ou colocados diante de
situações atípicas, como a de optar por candidatos que não chegam a
empolgá-los. Ainda assim, o eleitor precisa estar consciente de que, ao abdicar
do direito de fazer suas escolhas, como sugerem alguns líderes partidários,
delega esse poder para outros decidirem em seu nome. E voto não tem como ser
terceirizado. A democracia e muitos políticos vêm evoluindo, mas seguem às
voltas com deformações. Mais do que em qualquer outra época, porém, os eleitores
dispõem hoje de uma série de mecanismos para avaliar candidatos antes e depois
de definirem seu voto. Por isso, a recomendação de políticos para os eleitores votarem
nulos ou em branco no segundo turno constitui-se num inaceitável desserviço à
cidadania, tornando-se ainda mais instar o retrocesso político da nação.
Antônio
Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário