A petista disse que resultados difíceis produzem mudanças mais rápidas
do que vitórias muito amplas.
Brasília A
presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou em seu pronunciamento logo após ser
reeleita ontem que seu primeiro compromisso do segundo mandato será o do
diálogo em busca da união, depois que as urnas mostraram o país mais dividido
desde a redemocratização.
Falando a aliados e militantes,
Dilma disse que união não significa necessariamente unidade de ideias, mas
ressaltou que, algumas vezes, resultados apertados produzem mudanças mais
fortes e mais rápidas do que vitórias muito amplas.
A presidente teve 51,6% dos votos
válidos na votação deste domingo, contra 48,4% do candidato do PSDB, Aécio
Neves. Foi o placar mais apertado desde a redemocratização do Brasil, em 1985.
A diferença entre os candidatos foi de 3.458.891 votos. As abstenções somaram
21,10%, o que corresponde a um total de 30.137.165 votos.
"Minhas primeiras palavras
são, portanto, de chamamento de base e união... Nas democracias maduras, união
não significa necessariamente unidade de ideias nem ação monolítica conjunta.
Pressupõe, em primeiro lugar, abertura e disposição para o diálogo. Esta
presidente aqui está disposta ao diálogo, é esse meu primeiro compromisso do
segundo mandato: diálogo", disse a presidente reeleita.
REFORMA
POLÍTICA.
Em seu discurso, Dilma disse
ainda que a reforma política é a primeira e a mais importante de seu segundo
mandato.
"Meu compromisso, como ficou
claro durante toda a campanha, é deflagrar esta reforma que é responsabilidade
constitucional do Congresso e que deve mobilizar a sociedade em um plebiscito,
por meio de uma consulta popular", disse Dilma em um hotel de Brasília.
"Como instrumento desta
consulta, o plebiscito, nós vamos encontrar a força e a legitimidade... Para
levarmos à frente a reforma política", acrescentou. Ela disse saber que
foi reconduzida ao cargo para realizar mudanças que a sociedade brasileira
exige, e que tem um compromisso com a reforma política.
Sobre economia, Dilma disse que
promoverá ações localizadas, em especial para retomada do crescimento, garantia
do elevado nível de emprego e valorização dos salários.
"Vamos dar mais impulso à
atividade econômica em todos os setores, em especial no setor industrial",
disse ela. "Quero a parceria de todos os segmentos, setores, áreas
produtivas e financeiras, nessa tarefa que é responsabilidade de cada um de nós
brasileiros e brasileiras".
A presidente afirmou também que
seguirá "combatendo com rigor a inflação e avançando no terreno da
responsabilidade fiscal". Em outra frente, Dilma disse que terá o
"compromisso rigoroso" de combater a corrupção, com proposição de
mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade.
"Proponho mudanças na
legislação atual, para acabar com a impunidade, que é protetora da
corrupção", propôs.
Ela afirmou ainda que vai
procurar o diálogo com todos os setores da economia, em especial o industrial.
"Quero a parceria de todos os setores produtivos e financeiros nessa
tarefa que é responsabilidade de cada um de nós", avaliou.
No primeiro discurso após o
resultado, Dilma disse ainda que seguirá combatendo com rigor a inflação,
avançando no terreno da responsabilidade fiscal e dialogando com todas as
forças produtivas do Brasil.
Militante número 1
Para que a presidente Dilma fosse
a protagonista ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez papel de
coadjuvante na solenidade de anúncio da vitória. Mas, a candidata do PT fez
questão de mostrar a importância do padrinho, a quem agradeceu chamando de
"militante número 1", ao abrir seu discurso.
Nesse momento, a presidente Dilma
fez questão de se dirigir a Lula, que estava em segundo plano, ao lado de
outros ministros e coordenadores da campanha, e dar dois fortes abraços nele.
Ao final da festa, mais um abraço
apertado e Dilma ficou saudando e abraçando cada um dos ministros e presidentes
de partidos ali presentes. Dilma já tinha dado outros fortes abraços em Lula
pouco antes, ainda no Palácio da Alvorada. O primeiro, mais emocionado, quando
saíram os primeiros números da apuração. O segundo, ainda mais comemorado,
quando Dilma e Lula viram que tinham vencido as eleições em Minas.
"Ganhamos em Minas" , gritavam eles. Foi a certeza da vitória.
Durante discurso, com voz rouca,
a presidente mostrou-se impaciente quando os militantes gritavam em comemoração
insistentemente. "Gente, eu não posso gritar mais. Eu não consigo",
desabafou a presidente.
A petista, que garantiu ao seu
partido o quarto mandato consecutivo no governo central, terá grandes desafios,
como retomar o crescimento econômico e reconquistar a confiança de empresários
e investidores. Seu governo precisará também dar respostas à sociedade sobre a
suposta corrupção na Petrobras e que teria o envolvimento de partidos e
políticos da base aliada, que veio à tona durante a campanha e virou tema de
embate, porém sem força para mudar de forma significativa o voto de eleitores.
'Combati o bom combate', diz Aécio.
São Paulo
Derrotado, mas com um capital político de 51 milhões de votos, o candidato do
PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse que deixa a disputa "mais vivo do
que nunca" e que o resultado da eleição impõe uma prioridade a Dilma
Rousseff (PT): unir o País.
Num discurso de dois minutos e em
tom sereno, o político tucano agradeceu os brasileiros e afirmou que cumpriu
sua missão. Aécio disse que a campanha o permitiu "voltar a sonhar e
acreditar na construção de um novo projeto".
"Combati o bom combate,
cumpri minha missão e guardei a fé. Obrigada a todos os brasileiros",
declarou o mineiro.
O candidato derrotado disse que
cumprimentou a presidente Dilma, por telefone. "Cumprimentei agora há
pouco a presidente reeleita, desejei a ela sucesso na condução de seu próximo governo
e ressaltei: considero que a maior de todas as prioridades deve ser unir o
Brasil em torno de um projeto honrado e que dignifique a todos".
Ao lado de seus aliados, entre
eles o candidato a vice da chapa, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), e o senador
eleito, José Serra (PSDB-SP), Aécio voltou a usar uma mensagem de São Paulo
que, segundo ele, "reflete o sentimento que tem hoje a minha alma e o meu
coração: combati o bom combate, cumpri minha missão e guardei a fé".
Embora discreta, a fala de Aécio
aponta para a determinação do mineiro em se manter na liderança da oposição
pelos próximos quatro anos. "Mais vivo do que nunca, mais sonhador do que
nunca, eu deixo essa campanha, ao final, com o sentimento que cumprimos o nosso
papel".
O semblante dos tucanos era de
abatimento. Aliado de primeira hora de Aécio, o senador eleito Antonio Anastásia (PSDB-MG), estava com os olhos marejados quando o presidenciável
subiu para fazer o pronunciamento após o resultado.
Aécio aguardou o resultado da
apuração no apartamento de sua irmã, Andrea Neves, em Belo Horizonte. Ao lado
de políticos, familiares e amigos, como o apresentador Luciano Huck. Segundo
pessoas que estavam no local, o candidato passou quase o tempo inteiro com a
família e demonstrou tranquilidade.
Ele aguardou a abertura dos
números oficiais de frente para a TV, abraçado com a mulher, Letícia Weber, a
mãe, Maria Lúcia, e a filha mais velha, Gabriela. Como a apuração já estava
adiantada no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu os dados,
assim que os números apareceram, Aécio admitiu a derrota.
Houve silêncio na sala. O próprio
candidato rompeu. "É isso aí, bola pra frente, pessoal. Temos que
continuar. Fizemos um bom trabalho".
Do lado de fora do prédio,
dezenas de apoiadores esperavam o resultado. Eles foram chegando a partir das
18h, com cartazes, bandeiras e fotos de Aécio. Gritaram apoio a ele. No momento
em que o resultado da eleição saiu, houve choro e revolta.
"É triste, é desesperador.
Era a chance de o Brasil mudar", disse a cabeleireira, Zila Porto, de 48
anos. "É o voto da fome, mas temos que respeitar", disse o engenheiro
Cipriano Oliveira, 59, que puxou o hino nacional assim que a derrota foi
confirmada.
Durante o dia, Aécio e seus
aliados sonharam com a vitória. A pesquisa Datafolha, que indicou uma
recuperação do tucano nos últimos dois dias da disputa alimentaram a esperança
de uma virada na última hora, a exemplo do que ocorreu na passagem de Aécio do
primeiro para o segundo turno.
Uma das maiores decepções com a
derrota veio do berço político do tucano, Minas Gerais, onde ele perdeu a
eleição para Dilma, por cerca de quatro pontos percentuais: 52% a 48%.
Para o deputado Marcus Pestana
(PSDB-MG) o partido vai precisar fazer uma reflexão sobre esse resultado. O
grupo de Aécio comandou o Estado por 12 anos, mas, agora, perdeu o governo para
o PT.
Na saída do evento em que falou
com a imprensa, Aécio Neves recebeu um abraço de Pimenta da Veiga, candidato
que escolheu para concorrer em Minas e que perdeu já no primeiro turno. "Lutamos,
lutamos", disse Aécio ao aliado.
'Candidato excepcional'
Em sua primeira entrevista após a
derrota do senador Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o
correligionário foi um candidato excepcional e atribuiu a derrota ao tom agressivo
adotado pela campanha da presidente Dilma.
"Eu tenho muita experiência
de vida política e nunca tinha visto um esforço de destruição de candidaturas
como o que foi feito com a Marina e com o Aécio", afirmou ele no térreo do
edifício onde mora, no bairro Higienópolis, em São Paulo.
O tucano ainda avaliou que o
resultado apertado da eleição deve dar origem a um segundo mandato de
dificuldades para a presidente Dilma.
Fonte: Reuters.
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