Sem ataques pessoais, Dilma e Aécio abordaram questões propositivas no
primeiro bloco, e compararam as gestões tucana e petista.
RIO - Em tom mais ameno do que no
último confronto e sem ataques pessoais, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT)
e Aécio Neves (PMDB) se enfrentaram neste domingo pela terceira vez no segundo
turno, em debate da Rede Record. O primeiro bloco, com oito perguntas diretas,
foi tomado por questões propositivas. A corrupção só veio à tona na referência
ao escândalo da Petrobras. Aécio trouxe para a pauta o reconhecimento de Dilma,
feito na véspera, de que houve, de fato, desvios na estatal. O tucano cobrou da
presidente uma posição em relação ao tesoureiro do PT, João Vaccari, que é
também conselheiro de Itaipu. Perguntou três vezes à presidente se ela não o
puniria, visto que ele fora citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto
Costa, na delação premiada. Aécio deu a entender que Vaccari ocupou o cargo
quando Dilma era ministra das Minas e Energia.
- Cobrei nestes últimos debates
uma posição em relação à Petrobras e não obtive. Quero fazer um reconhecimento
de público: ontem, a senhora reconheceu que houve desvios. Quando apresentamos
a proposta da CPI, fomos tachados de aproveitadores eleitorais. A senhora
confia no seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que é conselheiro de Itaipu? A
senhora confia nele?- perguntou Aécio.
Dilma devolveu a pergunta com
outra, deixando clara uma estratégia de associar o escândalo também a aliados
de Aécio:
- O senhor confia em todos
aqueles que, segundo as mesmas fontes que acusam Vaccari, dizem que o
ex-presidente do seu partido, lamentavelmente morto, recebeu recursos para
acabar com a CPI? — disse Dilma, citando a referência feita por Paulo Roberto
Costa ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra. - Porque, da última vez que um
delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô e dos trens, o
senhor disse que não ia confiar na palavra de delator.
Dilma, então, disse que sabe que
“há indícios de desvio de dinheiro” na Petrobras, e que ela deveria ser cumprimentada
porque disse que iria investigar assim que o Ministério Público e o Supremo
Tribunal Federal (STF) divulgassem informações e punissem os que cometeram
delitos. A petista voltou a lembrar casos de corrupção nos governos tucanos:
- No caso específico do seu
governo (gestões tucanas), não podem responder onde estão os corruptos da pasta
rosa, da compra de votos para a reeleição, do processo Sivam, dos trens e
metrôs. Todos inteiramente soltos. Sou a favor da punição, doa a quem doer. E
contra engavetamentos.
Ao comentar as declarações da
petista, Aécio disse que teria havido “um recuo'” de Dilma em relação à
declaração dada na véspera, de que houve desvios na estatal. Lembrou ainda que
o delator citou o nome da senadora Gleisi Hoffman, ex-ministra chefe da Casa
Civil, e seu marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações. E defendeu a
profissionalização da Petrobras.
- A senhora não acha mais que
houve desvio, mas indícios de desvios - disse o tucano, voltando a perguntar se
ela confiava no tesoureiro Vaccari, e a lembrar da presença dele no conselho de
Itaipu. - Na Petrobras, onde ele (Vaccari) não tinha acesso formal, dois terços
(da propina) eram para ele. E em Itaipu, onde ele tem um crachá, assina
documentos? (A corrupção) Está acontecendo também em outras empresas?
Governança foi o que faltou.
AÉCIO: COMPARAÇÃO COM 'DITADURAS AMIGAS'
Ao ouvir de Dilma que foi o
governo petista que investigou, Aécio reagiu:
- As instituições é que
investigam. Que triste é o país em que o presidente manda investigar. Isso pode
funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo - disse Aécio.
Ao defender o Bolsa Família,
Dilma se referiu aos projetos sociais da gestão Fernando Henrique como “o seu
Bolsa Família”. E, ao comparar com o programa em sua gestão, chamou de “meu
Bolsa Família”.
- Não faça isso com os
brasileiros. O seu Bolsa Família? Não é seu
- retrucou o tucano, citando o “terrorismo eleitoral’’ que a campanha
adversária estaria fazendo ao afirmar que ele, caso eleito, acabaria com o
programa— (O Bolsa Família) É do povo brasileiro. É uma marca perversa do PT
achar que os programas sociais lhe pertencem — disse Aécio, que, ao falar do
Mais Médicos, afirmou não querer “um programa para chamar de meu”.
A despeito da discussão em torno
da Petrobras, o debate não se aproximou de questões pessoais. Mais suave,
vestida de branco e batom roxo, Dilma foi a primeira a perguntar. Quis saber de
Aécio se ele se comprometeria com a continuação do Simples, que beneficia os
pequenos empreendedores. Na resposta, o tucano afirmou que a posição é “a mesma
que tivemos quando criamos o imposto, no governo Fernando Henrique”.
- A minha preocupação, candidata,
é que estamos tendo um decréscimo na geração desse emprego — disse Aécio.
Dilma afirmou que universalizou o
Simples. O clima estava tão ameno que Aécio chegou a agradecer a qualidade da
primeira pergunta feita por Dilma. Afirmou que não é preciso brigar pela
paternidade dos projetos. Em seguida, disse que o crescimento do país será
“praticamente nulo”, de 0,3%. A partir daí, os candidatos começaram a debater a
veracidade dos dados que cada um apresentava.
- Não sei por que o senhor é tão
pessimista em relação ao crescimento do país. É melhor rever suas contas. O
senhor também está errando nas contas da Segurança. Gasto R$ 4,4 bilhões ao
ano. O governo FH gastou R$ 1,2 bilhão ao ano.
Dilma voltou a associar a gestão tucana
à privatização de bancos públicos:- Escutei várias falas do seu candidato a
ministro da Fazenda (Arminio Fraga) de que ele iria reduzir o papel dos bancos
públicos, e no fim não sabia o que ia ficar. Acho lamentável esse terrorismo em
relação aos bancos públicos — disse Dilma.
A gestão em Minas foi usada por
Dilma para tentar atacar o tucano. Que reagiu, dizendo que concorria à
Presidência. Dilma afirmou que, no Mapa da Violência, o Sudeste registrou queda
de 37% nos homicídios; em MG houve um aumento de 52%.
Aos questionamentos sobre sua
atuação como governador, Aécio afirmou que “gostaria de repetir no país o que
fez em Minas”. Ao lembrar que o MP acionou o governo de Minas porque, na gestão
de Aécio, ele não cumpriu o investimento mínimo constitucional em Saúde, Dilma
leu o que disse ser uma frase de um conselheiro do Tribunal de Contas de Minas:
“É duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como despesa para
Saúde”.
A atuação de Aécio Neves como
presidente da Câmara também foi questionada por Dilma. Ela perguntou sobre
projeto posto em pauta em 2001 que flexibilizava as leis trabalhistas e
“significava perdas históricas para os trabalhadores”. Aécio respondeu
lembrando que fora “deputado constituinte” e que sempre garantiu o direito dos trabalhadores.
Ao reagir à pergunta sobre a inflação, que estaria fora do controle, Dilma
afirmou que “vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros”.
No terceiro bloco, Aécio se
dirigiu aos nordestinos e acusou Dilma de ter deixado obras inacabadas no
Nordeste, citando a transposição do Rio São Francisco e a Transnordestina.
Segundo ele, os nordestinos não foram beneficiados com sequer “uma gota d’água
da transposição”. Dilma respondeu que as obras estão andando e acusou o tucano
de ter como obra-modelo de sua gestão em Minas Gerais um centro administrativo
superfaturado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário