Mercado financeiro acreditava que juros seriam mantidos em 11% ao ano. Inflação soma 6,75% em 12 meses até setembro, mas atividade está fraca.
Em sua primeira reunião após a
reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom),
colegiado formado pelo presidente e diretores do Banco Central, surpreendeu ao
elevar a taxa básica de juros da economia brasileira de 11% para 11,25% ao ano.
Foi a primeira elevação desde abril deste ano.
A decisão surpreendeu a maior
parte dos economistas do mercado financeiro, que apostavam maciçamente em nova
manutenção da taxa básica da economia em 11% ao ano. A decisão acontece em um
momento de fraca atividade econômica, tendo o Produto Interno Bruto (PIB)
registrado retração no primeiro e segundo trimestres deste ano - o que
configura recessão técnica - embora a inflação em doze meses até setembro tenha
somado 6,75%, acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
O próprio Banco Central havia
sinalizado, na ata da última reunião, que os juros não deveriam ser reduzidos.
Na ocasião, informou que seria plausível afirmar que, levando em conta
estratégia de não redução do instrumento de política monetária (juro), a
inflação tenderia a entrar em trajetória de convergência para a meta nos
trimestres finais do horizonte de projeção (2016).
Segundo analistas, vários fatores
que influenciam a inflação se contrapõem neste momento. O baixo nível de
atividade e a queda dos preços das "commodities" (produtos básicos
com cotação internacional) atuam para conter a inflação, ao mesmo tempo em que
a alta do dólar e dos preços administrados (como telefonia, água, energia,
combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros), continua pressionando os
preços. Além disso, a inflação de serviços, impulsionada pelos ganhos reais de
salários, segue elevada.
Decisão não foi unânime
A decisão do Copom, entretanto,
não foi unânime. Votaram pela elevação da taxa Selic o presidente da
instituição, Alexandre Tombini, além dos diretores Aldo Mendes, Anthero de
Moraes Meirelles, Carlos Hamilton e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção
da taxa Selic em 11% ao ano os seguintes integrantes do Comitê: Altamir Lopes,
Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim. Ao fim do encontro, foi
divulgada a seguinte explicação: "Para o Comitê, desde sua última reunião,
entre outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na
economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista
disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a
garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a
inflação em 2015 e 2016".
Metas de inflação.
Pelo sistema de metas de inflação
vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para atingir
objetivos pré-determinados. Para 2014, 2015 e 2016, a meta central de inflação
é de 4,5%, mas o IPCA, que serve de referência para o sistema brasileiro, pode
oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
No fim de setembro, o Banco
Central estimou, por meio do relatório de inflação, um IPCA de 6,3% para este
ano e de 5,8% a 6,1% para 2015, ou seja, valor ainda distante da meta central
de 4,5% para ambos os anos. Segundo a autoridade monetária informou naquele
momento, a inflação começará a convergir mais fortemente para a meta central
somente em 2016.
Em doze meses até setembro, o
IPCA somou 6,75% - acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
Entretanto, o governo considera que a meta foi cumprida ou não apenas com base
no acumulado em 12 meses até dezembro de cada ano.
Política econômica
A política econômica foi alvo de ataques da oposição durante a campanha presidencial deste ano. O baixo crescimento da economia brasileira, assim como o fato de a inflação estar oscilando ao redor de 6% nos últimos anos, foi atacada pelo candidato do PSDB, Aécio Neves
De acordo com Silvio Campos Neto,
economista-sênior da Tendências Consultoria, houve "perda de
credibilidade" do BC, uma vez que a inflação oscilou ao redor de 6% nos
últimos anos e meses, mais próxima do teto do sistema de metas, do que do objetivo
central de 4,5%. Para ele, a instituição teria de promover um aumento muito
grande da taxa neste momento para tentar retomar a confiança.
"A politica macroeconômica
está muito desajustada, especialmente o lado fiscal - gastos públicos - nos
últimos anos. Isso dificulta ainda mais o lado da política monetária [definição
dos juros]. É importante recolocar a parte macroeconômica em ordem, com uma
política mais consistente fiscal e monetária, e mostrar como lidar com o
câmbio, zerando o jogo, e passar para a sociedade quais são os objetivos",
avaliou o economista da Tendência, antes da reunião do Copom.
Fonte: G1 – Brasília
DF.
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