COMENTÁRIO
SCARCELA JORGE.
REFLEXÕES
SOBRE A POLÍTICA.
Nobres:
O Brasil chegou ao final do
processo eleitoral obsecrando pelo um balanço que permita o pensamento para
além dos limites evidenciados pelas campanhas. Possivelmente tenha sido a
eleição com maior carga de acusações entre os candidatos notadamente na disputa
à presidência. Técnicas de “desconstrução”, manipulação e agenciamento do medo
foram usadas à dissipação o que estimulou a intolerância e autorizou a dispersão
de preconceito e ódio. Boa parte dos segmentos mobilizados pelas campanhas
tratou os adversários como inimigos em uma guerra civil; um tipo de engajamento
que agencia o desinteresse e o ceticismo da maioria diante da própria
política. A excitação é uma estridência que se preenche de vazios e que
se impõe pela radical despolitização. Para que se perceba isto, basta pensar
sobre as diferenças entre os projetos nacionais selecionados para o 2º turno. A
polarização entre PT e PSDB não permitiu um contraste entre visões
programáticas, mas entre símbolos. As diferenças de programa certamente
existem, mas não é possível falar delas, porque delas as campanhas não
trataram. Não por acaso, Dilma e Aécio sequer apresentaram programas, mas
declarações genéricas formatadas em sintonia com expectativas difusas do
eleitorado. É praticamente inadmissível impor as regras eleitorais vigentes e do modelo
político brasileiro, a oferta consistente de um programa político agrega desvantagens
extraordinárias. Clareza propositiva, apresentação de evidências que amparem argumentos,
assim como o anúncio de políticas públicas demandam partidos sérios e
candidatos muito preparados, mas, antes disso, exigem um sistema politico que
castigue o oportunismo, a incompetência e a corrupção. O que temos, entretanto,
é o oposto: um sistema orientado pelo vício que desaconselha à razão e premiou
o cinismo. Há quem imagine que, o Brasil será um país fraturado por projetos
políticos antagônicos. Antes fosse este o quadro. O risco maior me parece ser o
oposto, o de sairmos destas eleições pateticamente mais uniformes em torno dos
mesmos impasses, mais unidos em torno da ausência de reformas e mais
identificados na prática de arrastar para o futuro os problemas mais sérios. Se
não houve mudanças de governo, seria natural transformar o conceito ético para
encontrar um país verdadeiro.
Antônio Scarcela Jorge.
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