COMENTÁRIO
Wanderley Filho.
Existe mesmo uma milícia atuando
no Ceará com objetivos eleitorais? De acordo com Cid e Ciro Gomes, governador e
do secretário da Saúde do Ceará, a resposta é sim. E de acordo com os irmãos
Ferreira Gomes, o líder do grupo seria o vereador Capitão Wagner, eleito
deputado estadual com a maior votação da história no Estado.
Como nenhuma prova da existência
dessa tal milícia é apresentada, a acusação sobrevive apenas como retórica
política, sem sustentação material. Tanto é assim que Ciro Gomes pediu ajuda a
um grupo militantes partidários, divulgando o próprio telefone para receber denúncias. É o
disque-me-ajude-a-provar-o-que-eu-digo. Eis um factoide em busca de
indícios que lhe sirvam de justificativa. Assim, a imagem de um policial
prendendo um aliado do governo por crime eleitoral será utilizada como prova de
que, num caso inédito no mundo, a oposição no Ceará persegue a situação com
instrumentos do Estado.
Cortina de
fumaça.
Como a suposta milícia existe
somente nas palavras de autoridades envolvidas no processo eleitoral, é preciso
verificar os efeitos práticos dessas acusações feitas sem o mínimo rigor
investigativo.
De imediato, podemos constatar
que: 1) a polêmica desvia o foco do debate sobre políticas de segurança no
Ceará, tema evitado na campanha governista por motivos óbvios; 2) a questão
acaba reduzida a uma briga entre Ciro Gomes e o Capitão Wagner, evitando uma
discussão racional sobre o problema; 3) a baixaria encobre o fato escandaloso
de que a grande maioria dos crimes eleitorais ocorridos no primeiro turno
envolveu aliados do governo, conforme atesta o próprio Ministério Público
Eleitoral. Em resumo, a presepada
é tática diversionista para proteger o candidato do governo. O que
parece desequilíbrio é, na verdade, método.
Oposição
tímida.
A denúncia sem prova que toma
conta do noticiário durante as eleições também prospera à medida que a oposição
não denuncia a armação, única reação eficiente nesses casos, como
(foto acima: - Este sim, uma figura controvertida - dispensa qualquer apresentação)
ensina
Arthur Schopenhauer em suas considerações sobre a dialética erística. Diante de
um sofisma, o debatedor deve alertar o público para a manipulação das
premissas, de modo a criar nele a desconfiança sobre as conclusões do
adversário.
O candidato ao governo Eunício
Oliveira (PMDB) poderia dizer, por exemplo, algo assim: “Meu adversário se
esconde atrás das agressões feitas por Cid e Ciro, posando de pacífico, mas sem
nunca contestar o que dizem, para fugir do debate responsável e profundo sobre
segurança pública”.
Já o Capitão Wagner, atendendo ao
chamado à passionalidade feito por Ciro, apenas morde a isca do diversionismo.
O melhor seria cobrar ao secretário Servilho Paiva, por via judicial,
informações sobre a existência ou não de investigação formal sobre as supostas
milícias e se o seu nome consta nelas, para depois trazer a discussão de volta
ao que interessa: por que os investimentos em segurança não deram os resultados
esperados? E como fazer para corrigir o desastre dos últimos anos? Isso é tudo
o que o governo quer evitar, o que tem sido feito com sucesso até agora.
*Wanderley
Filho - Historiador e colunista de política da Tribuna Band News FM 101.7 e do
Jornal Jangadeiro 2ª Edição - TV Jangadeiro/Bandeirantes.
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