quinta-feira, 16 de outubro de 2014

NO CEARÁ TEM DISSO SIM

 “POLÍTICA DO CEARÁ -

COMENTÁRIO
Wanderley Filho.


Existe mesmo uma milícia atuando no Ceará com objetivos eleitorais? De acordo com Cid e Ciro Gomes, governador e do secretário da Saúde do Ceará, a resposta é sim. E de acordo com os irmãos Ferreira Gomes, o líder do grupo seria o vereador Capitão Wagner, eleito deputado estadual com a maior votação da história no Estado.

Como nenhuma prova da existência dessa tal milícia é apresentada, a acusação sobrevive apenas como retórica política, sem sustentação material. Tanto é assim que Ciro Gomes pediu ajuda a um grupo militantes partidários, divulgando o próprio telefone para receber denúncias. É o disque-me-ajude-a-provar-o-que-eu-digo. Eis um factoide em busca de indícios que lhe sirvam de justificativa. Assim, a imagem de um policial prendendo um aliado do governo por crime eleitoral será utilizada como prova de que, num caso inédito no mundo, a oposição no Ceará persegue a situação com instrumentos do Estado.

Cortina de fumaça.

Como a suposta milícia existe somente nas palavras de autoridades envolvidas no processo eleitoral, é preciso verificar os efeitos práticos dessas acusações feitas sem o mínimo rigor investigativo.

De imediato, podemos constatar que: 1) a polêmica desvia o foco do debate sobre políticas de segurança no Ceará, tema evitado na campanha governista por motivos óbvios; 2) a questão acaba reduzida a uma briga entre Ciro Gomes e o Capitão Wagner, evitando uma discussão racional sobre o problema; 3) a baixaria encobre o fato escandaloso de que a grande maioria dos crimes eleitorais ocorridos no primeiro turno envolveu aliados do governo, conforme atesta o próprio Ministério Público Eleitoral. Em resumo, a presepada é tática diversionista para proteger o candidato do governo. O que parece desequilíbrio é, na verdade, método.

Oposição tímida.

A denúncia sem prova que toma conta do noticiário durante as eleições também prospera à medida que a oposição não denuncia a armação, única reação eficiente nesses casos, como 

(foto acima: - Este sim, uma figura controvertida - dispensa qualquer apresentação)

ensina  Arthur Schopenhauer em suas considerações sobre a dialética erística. Diante de um sofisma, o debatedor deve alertar o público para a manipulação das premissas, de modo a criar nele a desconfiança sobre as conclusões do adversário.

O candidato ao governo Eunício Oliveira (PMDB) poderia dizer, por exemplo, algo assim: “Meu adversário se esconde atrás das agressões feitas por Cid e Ciro, posando de pacífico, mas sem nunca contestar o que dizem, para fugir do debate responsável e profundo sobre segurança pública”.

Já o Capitão Wagner, atendendo ao chamado à passionalidade feito por Ciro, apenas morde a isca do diversionismo. O melhor seria cobrar ao secretário Servilho Paiva, por via judicial, informações sobre a existência ou não de investigação formal sobre as supostas milícias e se o seu nome consta nelas, para depois trazer a discussão de volta ao que interessa: por que os investimentos em segurança não deram os resultados esperados? E como fazer para corrigir o desastre dos últimos anos? Isso é tudo o que o governo quer evitar, o que tem sido feito com sucesso até agora.

*Wanderley Filho - Historiador e colunista de política da Tribuna Band News FM 101.7 e do Jornal Jangadeiro 2ª Edição - TV Jangadeiro/Bandeirantes.


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