SUPLENTES DOS CANDIDATOS
AO SENADO SÃO OS MAIS RICOS E ATUAM COMO FINANCIADORES.
Na disputa deste ano, os
substitutos imediatos dos postulantes ao Senado declararam ter fortuna de R$
7,3 milhões per capita, mais de 15 vezes o patrimônio médio de todos os 25 mil
concorrentes; posto costuma ser de quem banca a campanha do titular
Um apartamento de R$ 8
milhões no Leblon a poucos metros da praia, quadros de Di Cavalcanti, Cândido
Portinari e Iberê Camargo, R$ 67 milhões na conta do banco e até um time de
futebol na primeira divisão estadual. Esses são alguns dos bens que compõem a
polpuda lista de patrimônio dos suplentes de senador, os candidatos mais ricos
desta eleição. Na média, os primeiros-suplentes declararam ter fortuna de R$
7,3 milhões - mais de 15 vezes o patrimônio médio de todos os 25 mil candidatos
registrados para concorrer neste ano.
Os suplentes compõem a chapa do
candidato a senador e exercem o mandato caso o titular seja afastado por
motivos de saúde ou peça licença para concorrer a outro cargo público (como o
governo de um Estado) ou assuma um ministério, por exemplo.
A explicação de por que razão
eles são tão mais ricos que a média está na ponta da língua dos políticos.
"O primeiro-suplente normalmente é um cara muito rico porque é quem banca
a campanha do senador. Ele tem o voto e o primeiro-suplente costuma ser o cara que
tem o dinheiro. É uma regra geral", diz Saulo Queiroz, secretário-geral do
PSD, sigla com os dois suplentes mais ricos desta eleição: Ronaldo Cezar Coelho
(PSD-RJ) e Joel Malucelli (PSD-PR). Ambos têm patrimônio maior que R$ 200
milhões.
Para testar essa hipótese, o
Estadão Dados analisou os números da eleição de 2010. Eles mostram que, quanto
mais rico foi o suplente do candidato naquele ano, maior foi a chance de a
chapa ser eleita. Na média de todos os suplentes, não houve correlação entre o
seu patrimônio e o sucesso eleitoral da candidatura. Mas quando são analisados
apenas os suplentes com patrimônio maior que R$ 4 milhões, o índice de sucesso
foi de quase 85% - 20 das 24 chapas com suplentes ricos assim foram eleitas.
Isso significa que o patrimônio
dos suplentes provavelmente se relaciona com a vitória nas eleições no caso dos
megarricos, embora não impacte definitivamente o resultado da eleição para o
candidato médio. Uma das possíveis explicações para esse fenômeno estar
concentrado na ponta é a de que os possíveis suplentes mais ricos escolham
participar de chapas que tenham mais chance de ganhar, ou seja, que tenham um
candidato conhecido ou já eleito anteriormente como cabeça.
Seria uma via de mão dupla: o
partido quer um suplente rico que ajude a bancar a campanha e o suplente, um
candidato com boas chances de ganhar.
"A quantidade de recursos
próprios que o candidato aporta para a campanha é uma das variáveis que impacta
a possibilidade de sucesso eleitoral. Essa relação existe para deputados
estaduais e federais", diz Bruno Speck, professor de Ciência Política da
USP e estudioso do assunto.
Ele diz que o mecanismo de
montagem de uma chapa ao Senado ainda é pouco estudado e que são necessárias
mais pesquisas nesse sentido. "Mas me parece razoável crer que há o
impacto do patrimônio nas eleições para senadores."
Evidência. Os dados de 2010
parecem apontar nesse sentido. Todos os 24 candidatos a senador que tinham
suplentes com fortuna maior que R$ 4 milhões já haviam ocupado cargos eletivos
de destaque. César Maia (DEM-RJ), titular do suplente mais rico de 2014 e do
segundo mais rico de 2010, já foi prefeito do Rio por 12 anos. Outros estavam
concorrendo à reeleição em 2010, como Delcídio Amaral (PT-MS), Romeu Tuma
(PTB-SP) e Demóstenes Torres (DEM-GO), todos com suplentes entre os dez mais
ricos daquele ano. E ainda havia os que foram eleitos deputados em 2006 com
grande votação - caso de Ciro Nogueira (PP-PI), cujo suplente era o mais rico
de 2010.
As doações de suplentes para as
campanhas também são relevantes. Dos 24 mais ricos de 2010, 19 deram
contribuições a candidatos, comitês ou partidos naquele ano. A maior foi de R$
960 mil, feita por Raimundo Lira (PMDB-PB) ao titular da chapa, Vital do Rêgo
(PMDB-PB), eleito senador. Se vencer a disputa ao governo da Paraíba em
outubro, Lira assume a vaga no Senado em definitivo.
Escala. Após os suplentes, o
cargo que concentra os candidatos mais ricos é o dos próprios senadores, com
média de R$ 4,9 milhões. Já os mais pobres são os que concorrem a deputado
estadual (R$ 305 mil), distrital (R$ 318 mil) e federal (R$ 557 mil).
Fonte: Agência Estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário