PAPÉIS SE INVERTEM NA BOLSA DE PROMESSAS.
Falas recentes da candidata
defendem o tripé do superávit fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante.
São Paulo. Faltando
40 dias para o primeiro turno da eleição, os dois principais candidatos da
oposição, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), inverteram os papéis e
passaram a defender propostas adaptadas às circunstâncias políticas.
Enquanto o tucano deixa de lado o
discurso do rigor fiscal e promete ampliar programas de transferência de renda,
a ex-ministra do Meio Ambiente concentra sua agenda na economia e envia sinais
ao mercado financeiro, agronegócio e empresários.
O então candidato do PSB, Eduardo
Campos, com 9% das intenções de voto, que morreu num acidente aéreo no dia 13
de agosto, apostava em promessas como o passe livre estudantil, escolas em tempo
integral para todos os alunos da rede pública, fim do fator previdenciário e
aumento dos gastos com saúde.
Substituta do ex-governador na
chapa pessebista, Marina inverteu o discurso. Deu uma pausa nas promessas
dispendiosas e passou a refazer o movimento de aproximação com o mercado que
seu antecessor já havia feito no primeiro semestre.
Suas falas mais recentes
enfatizam a defesa do tripé formado por superávit fiscal, meta de inflação e
câmbio flutuante. No primeiro ato de campanha, no Recife, sábado, destacou a
necessidade de combate à inflação.
Por outro lado, a campanha do PSB
pôs em campo assessores econômicos da candidata para dar entrevistas procurando
mostrar que ela vai tocar a economia de forma conservadora. Falaram
recentemente Neca Setubal e Eduardo Giannetti. Outra questão importante no
atual repertório de Marina é o "respeito às instituições".
O objetivo, segundo ela, é evitar
"qualquer interpretação errônea sobre o compromisso com os marcos
constitucionais que regem as relações da sociedade com o Estado
brasileiro".
Com o crescimento de Marina nas
pesquisas, o discurso da campanha está mudando. Ela já faz acenos para setores
do PT e do PSDB para indicar que conseguirá governar caso seja eleita.
Adversário
Após a morte de Campos e do luto
que paralisou a campanha, Aécio voltou à cena com um figurino bem diferente do
adotado no primeiro semestre, quando apresentava-se como o candidato da
austeridade.
Enquanto o ex-presidente do Banco
Central Armínio Fraga, que coordena o programa do tucano na área econômica,
dava entrevistas dizendo que o gasto público deveria ser limitado por lei,
Aécio citava uma máxima de seu avô, Tancredo Neves: "É proibido
gastar". "Se precisar passar quatro anos devendo popularidade para
fazer o que precisa ser feito, vou fazer. Que venha outro depois para colher os
louros", disse em abril.
Em eventos com empresários, o
candidato chegou a defender a flexibilização das leis trabalhistas em alguns
setores da economia, como o turismo.
Na retomada da campanha, porém, o
tucano passou a fazer promessas que elevariam o gasto público, mas sem explicar
de onde viriam os recursos.
Em visita a um abrigo de idosos
no domingo, Aécio prometeu que, se eleito, ampliará os benefícios pagos aos
aposentados, complementando a renda destes com valor adicional para a compra de
medicamentos.
O presidenciável Aécio Neves
(PSDB) ironizou ontem a intenção de auxiliares de Marina de governar com o
apoio dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso e disse que "vai
prevalecer o software original".
O tucano respondeu à afirmação do
economista Eduardo Giannetti, que disse que um governo Marina buscaria apoio do
petista e do tucano.
"Fico muito honrado ver
sempre referências positivas aos nossos quadros. Mas o que vai prevalecer é o
software original. Quem vai governar é o PSDB e com figuras qualificadas",
disse Aécio, em visita ao mercado do Saara, no Rio.
Giannetti disse que, se for
eleita, Marina procurará pessoas do PT e do PSDB para formar sua equipe de
governo. Para ele, até os ex-presidentes Lula e FHC poderiam colaborar.
Em passagem por Salvador no
sábado, o tucano reuniu lideranças do partido no Nordeste e aliados de outras
siglas para anunciar a "vitrine" de sua candidatura na região: o
programa "Nordeste Forte".
Entre outras promessas do tucano,
o projeto prevê elevar a renda per capita, Ideb e IDH da região semiárida da
região Nordeste em dez anos.
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