Sob gritos de "guerreiro do povo brasileiro", o corpo do
ex-governador é enterrado ao lado do avô Miguel Arraes.
Recife. Sob 25
minutos de queima de fogos, aplausos e gritos de "viva Eduardo, viva
Arraes", Eduardo Campos foi sepultado na noite de ontem no cemitério de
Santo Amaro, em Recife. João Henrique (20), o segundo filho de Campos, tratou
de puxar os gritos de saudação ao pai. O candidato do PSB à Presidência da
República morreu na última quarta-feira, 13, em um acidente aéreo na cidade de
Santos, no litoral paulista.
O cemitério estava cheio de
simpatizantes e militantes do PSB, que lotaram as alamedas do local. Assim que
o caixão chegou, um princípio de tumulto se formou no portão principal. A
administração determinou o fechamento do portão, mas foi necessário reabri-lo,
diante da possibilidade de invasão do local.
Por todos os lados eram vistas
bandeiras do PSB. Muitos dos presentes vestiam camisetas em homenagem ao
presidenciável. Outros portavam fotos do candidato, assim como bandeiras do
Brasil e de Pernambuco. Em alguns momentos, entoaram a frase "Eduardo
guerreiro, do povo brasileiro".
Os integrantes da família de
Campos estiveram todo o tempo juntos. Quando o caixão começou a ser baixado ao
jazigo, a viúva Renata Campos e quatro dos cincos filhos do casal se abraçaram.
Também esteve no sepultamento a mãe do candidato, Ana Arraes, que é ministra do
Tribunal de Contas da União (TCU); e o irmão, o advogado Antonio Campos. A vice
da chapa de Campos à Presidência da República, a ex-ministra do meio ambiente e
ex-senadora Marina Silva, ficou ao lado da família durante todo o tempo.
Memória
O corpo do ex-governador de
Pernambuco foi enterrado ao lado do avô, Miguel Arraes, que também faleceu em
um 13 de agosto, de 2005. Arraes foi um dos ícones da esquerda na resistência à
ditadura militar no Brasil e também foi governador de Pernambuco.
Morto aos 49 anos, Campos jaz em
uma sepultura simples, sem luxo, rodeada apenas de flores e placas de mármore
com identificação.
O corpo do político foi velado
desde a madrugada de domingo no Palácio Campo das Princesas, sede do governo
pernambucano, de onde saiu o cortejo com o caixão acompanhado por milhares de
pessoas.
O carro do Corpo de Bombeiros, no
qual o corpo foi transportado, seguiu com a viúva e os filhos de Campos, a mãe,
o irmão e Marina Silva, que vai encabeçar a chapa do PSB no lugar dele. O
veículo trazia a faixa com a frase dita por ele um dia antes do trágico
acidente e que também estampava a camiseta de parte das milhares de pessoas que
foram prestar sua homenagem a Campos: "Não vamos desistir do Brasil".
Após governar Pernambuco por dois
mandatos, ele posicionava-se como um socialista pró-empresários e tinha cerca
de 10% das intenções de voto nas últimas pesquisas para a corrida presidencial,
atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves, candidato pelo PSDB.
Nas ruas, nos bancos, nas
calçadas em cima dos jazigos - alguns seculares de mármore -, cada metro do
Cemitério Santo Amaro foi disputado por admiradores do ex-governador na chegada
do caixão com os restos mortais do político. As vias próximas ao cemitério
estavam cheias de ônibus com caravanas de várias cidades do estado.
"Viemos prestar nossa
solidariedade e agradecer tudo de bom que ele fez pela gente" , disse
Mikaela Kalina, de 26 anos, que saiu da cidade de Ribeirão, a
aproximadamente 100 quilômetros do Recife. Com ela, mais 300 pessoas foram ao
Recife na caravana de oito ônibus.
Investigação
Próximo à cova, apenas a família
e amigos. Houve chuva de flores. O último adeus a Campos foi observado
atentamente pela multidão, que gritava pedindo justiça e que as causas do
acidente sejam esclarecidas. A esposa, Renata Campos, quatro dos cinco filhos do
casal, Maria Eduarda (22), João Henrique, Pedro (18) e José (9), a mãe, Ana
Arraes, que estiveram ao lado do caixão desde a madrugada, e o irmão, Antônio
Campos, estavam entre os mais emocionados. O quinto filho de Eduardo, Miguel,
tem apenas sete meses.
O auxiliar de serviços gerais
José Fernando de Souza, que há mais de 40 anos trabalha no cemitério, disse que
nunca tinha presenciado movimentação tão intensa em um sepultamento.
Desde a última quarta-feira, o
cemitério passou por reparos para abrigar o ex-governador. Ao longo do percurso
feito pelo cortejo fúnebre, centenas de coroas de flores enfeitaram as calçadas
e ajudavam a confortar a dor da família pela perda inesperada.
Com o sepultamento do maior nome
do partido, o PSB agora busca unidade em torno do nome de Marina Silva para
prosseguir a disputa pela Presidência da República.
150 mil pessoas nas ruas do Recife
Recife. Milhares
de pessoas fizeram fila ontem para se despedir do candidato do Partido
Socialista Brasileiro (PSB) à Presidência da República, Eduardo Campos, e
participaram de uma missa campal em homenagem ao político, em Recife (PE).
Em missa de corpo presente na
praça da República, celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando
Saburido, os filhos de Campos também prestaram homenagem ao pai. Antonio
Campos, irmão do candidato, lamentou a morte e pediu união após participar da
missa realizada em Recife.
"Ganhar ou perder a eleição
faz parte da vida, mas perder Eduardo, a figura humana de Eduardo e o líder que
era Eduardo, neste momento, não estava no nosso roteiro. É uma perda muito
grande. É um momento em que a gente tem que se unir. Eduardo deixou cinco
filhos", disse Antonio a jornalistas.
Homenagem
Além de familiares e da
população, diversos políticos e autoridades foram se despedir de Campos. A
presidente Dilma Rousseff, que participou das homenagens acompanhada do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi brevemente vaiada. Depois, houve
aplausos para ambos.
Segundo estimativa da Polícia
Militar, 100 mil pessoas participaram missa. Alguns vestiam camiseta com a foto
de Campos estampada e a frase: "Não vamos desistir do Brasil".
Os corpos do assessor de imprensa
de Eduardo Campos, Carlos Percol, e o fotógrafo da campanha, Alexandre Severo,
também foram velados e enterrados em Recife.
Os corpos do piloto Marcos
Martins e do copiloto Geraldo Cunha foram sepultados ontem. Martins foi
sepultado no Cemitério Municipal de Maringá (PR), por volta das 12h30. Ele
deixou dois filhos, de 2 anos e 7 anos. O corpo de Cunha foi enterrado no
Cemitério Santa Rita, em Governador Valadares (MG).
O ex-deputado Pedro Almeida
Valadares Neto, assessor de Campos, foi enterrado no Cemitério Colina de
Saudade, em Aracaju, Sergipe.
Fonte: Agência Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário