Edison Silva
FALTOU PRESSÃO
CARRO PIPA SALVA, MAS
ENVERGONHA O CEARENSE
Populações de mais de uma centena de municípios do Estado recebem o
socorro de 1084 carros pipa.
As consequências da prolongada
estiagem no Estado são realmente muito graves. Poucos têm a exata dimensão do
quadro existente no Interior cearense e as perspectivas mais sombrias ainda
para um futuro não muito distante, caso atrase, mais uma vez, a conclusão das
obras de Transposição de Águas do Rio São Francisco.
O Ceará, hoje, tem apenas um
terço da água que armazenou em passado recente, concentrado em um pequeno
universo do seu território, deixando exposto a necessidades e humilhação um
contingente populacional enorme, dependente do carro-pipa para receber um pouco
do líquido necessário à sua mais premente necessidade.
Alguns dos nossos representantes
têm tratado da questão, porém, com discursos político-eleitoreiros, e
consequentemente vazios, portanto, sem repercussão junto ao Governo Federal, do
qual, pelo estado de calamidade vivido, somos todos dependentes de sua
disposição de concluir a obra de transposição, a única capaz de socorrer os
cearenses e milhares de outros nordestinos sedentos por água.
A mais recente promessa é de que
ela estará pronta no fim de 2015, o ano do centenário da seca responsável pela
morte de uma multidão de conterrâneos e tão bem retratada por Rachel de
Queiroz.
Pressionado
Como os outros anúncios de
conclusão da obra não foram cumpridas, o noticiário que dá conta de ela estar
sendo atacada mais celeremente não nos estimula a acreditar venha a ser
realmente concluída na nova data.
O certo é que, mesmo acelerada,
não se justifica a tibieza da bancada federal, composta de três senadores e 21
deputados federais (o 22º é da oposição, Raimundo Gomes de Matos), e demais
lideranças políticas locais, em não ter pressionado o Governo Federal a concluir
a obra nos prazos anteriores, para evitar chegarmos ao triste quadro atual.
Relato do Ministério da
Integração Nacional dá conta de já ter sido feito 67,3% das obras de
transposição no trecho que “vai da captação do rio São Francisco, no município
de Cabrobró (PE), até o reservatório de Jati, em Jati (CE)”.
Em outro trecho, também no Ceará,
só tem 26,3% da obra executada, de Jati até o reservatório de Boi II, no
município de Brejo Santo. Pelo exemplo do que foi feito até aqui, não é preciso
ser cético para duvidar que tenhamos água do São Francisco no Ceará em 2015.
Em anos normais de inverno, o
Ceará tem condições de acumular até um total de 18,8 bilhões de metros cúbicos
de água. Um terço disso é só do Castanhão, o nosso maior reservatório.
Restante
Hoje, nos 149 açudes monitorados
pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos, órgão do Governo estadual tem
apenas 5,6 bilhões. Essa água está concentrada, praticamente, na área dos
Açudes Castanhão e Orós, pouco mais de 70% do total, ficando as demais regiões
do Estado com o restante.
É por isso que populações de 106
municípios cearenses dependem do carro-pipa para satisfação de suas mínimas
necessidades, um quadro vergonhoso em pleno século XXI. O Exército brasileiro
coordena a distribuição de água nessas localidades com um total de 1028 carros.
E a Defesa Civil do Estado atende a outros tantos moradores em áreas críticas
utilizando uma frota de 56 carros-pipa, todos captando água de reservatórios
distantes e parcialmente secos.
A perfuração de mais de mil poços
profundos, nos últimos cinco anos, contribuiu relativamente pouco no aumento da
oferta de água às populações carentes. Vários deles não responderam às
expectativas de suas vazões. Ainda não temos, com a precisão necessária, as
informações sobre o potencial hídrico do nosso subsolo para permitir se
localizar, com sucesso, onde deva ser feita a perfuração de poços, embora seja
infinitamente pequeno o número de perfuratrizes de posse da administração
pública.
Pela nova ordem, agora, só serão
perfurados poços onde o estudo justificar o investimento. E serão as
prefeituras ou quem se dirigir ao Estado pedindo um poço o responsável pelo
estudo geofísico do solo, o que por certo reduzirá o desperdício do trabalho de
escavação, e, óbvio, o número de poços sem utilidade.
O Estado, nos últimos anos, tem
feito investimentos para permitir uma melhor convivência do nosso povo com as
secas. Mas ainda falta muito para se chegar ao ponto ideal, onde o trauma da
falta de chuvas seja menos agressivo a todos. O Governo Federal tem ajudado
pouco. A situação de penúria do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS) mostra bem como a União continua desinteressada em fazer o Ceará e o
Nordeste romperem esse quadro mais que secular de vulnerabilidade. Sequer reestruturar
o órgão a nossa representação política conseguiu.
Privilegiada
Fortaleza e sua Região
Metropolitana são privilegiadas quanto à oferta de água para suas populações. O
Açude Castanhão garante o líquido que é distribuído pela Cagece. Até o ano
passado, a contribuição saída do Castanhão representava 80% de toda a água por
ele liberada. Neste ano ela chegou a 100%. O maior açude do Estado tem
capacidade para armazenar 6,7 bilhões de metros cúbicos. Hoje, acomoda apenas
2,3 bilhões, o correspondente a 36%.
*Edison Silva
JORNALISTA -
Editor de política. DN.
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