sexta-feira, 15 de agosto de 2014

TRAGÉDIA COM PRESIDENCIÁVEL

PT E PSDB.

PARTIDOS ANALISAM NOVAS ESTRATÉGIAS E ESPERAM MARINA.

TRÁGICA MORTE DE EDUARDO CAMPOS É TRAUMÁTICA TANTO PARA CORRELIGIONÁRIOS QUANTO PARA ADVERSÁRIOS.

O PSB tem até dia 23 de agosto para escolher um novo candidato à Presidência. O partido e Marina Silva já avisaram que neste momento não estão discutindo a sucessão e só farão isso após o enterro de Eduardo Campos.

Brasília. Ainda no aguardo do que ocorrerá com a candidatura presidencial do PSB, que deve indicar Marina Silva para a cabeça de chapa, integrantes das campanhas do PT e do PSDB já começam a analisar que mudanças farão na estratégia para manter a disputa polarizada diante de um quadro que consideram completamente novo.

Estrategistas avaliam, no entanto, que é cedo para fazer prognósticos claros e que a nova configuração da disputa não zera o jogo, mas vai exigir mudanças cuja amplitude só será conhecida após a decisão oficial do PSB e algumas rodadas de pesquisas eleitorais.

A trágica morte do candidato socialista e presidente do PSB, Eduardo Campos, num acidente aéreo anteontem ainda é traumática tanto para seus correligionários como para seus adversários, que tinham um histórico de proximidade com o político pernambucano.

O PSB tem até dia 23 de agosto para escolher um novo candidato à Presidência e o partido e Marina já avisaram que neste momento não estão discutindo a sucessão e só farão isso após o enterro de Eduardo Campos.

"Nós não estamos pensando em política. Estamos todos ainda perplexos. Não tem clima para isso", disse à Reuters uma fonte do partido ontem. "Estamos envolvidos com a burocracia do DNA dos corpos", acrescentou.

A despeito disso, Antônio Campos, irmão do ex-governador, divulgou uma carta pedindo que Marina assumisse a candidatura, na qual também agradeceu o apoio dos brasileiros aos familiares do ex-governador de Pernambuco.

"Como filiado ao PSB, membro do Diretório Nacional com direito a voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes, presidente do Instituto Miguel Arraes - IMA - e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição pessoal que Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo Brasil liderada pelo PSB", afirmou no texto. "Tenho convicção que essa seria a vontade de Eduardo", concluiu Antonio.

Horas depois da publicação da carta de Antonio, porém, o PSB divulgou um comunicado dizendo que tomará essa decisão em "momento oportuno e ao seu exclusivo critério".

Adversários

A presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição pelo PT, foi ministra ao lado de Eduardo Campos no governo Lula e se aproximou dele e da família.

Aécio Neves, candidato do PSB, tinha identificação pessoal com o pernambucano, porque os dois eram netos de políticos conhecidos nacionalmente, tinham sido governadores estaduais no mesmo período e chegaram a traçar estratégias eleitorais juntos nos meses iniciais da disputa presidencial. "Não mudou tudo, mas muda muita coisa", disse um dos estrategistas do tucano. Ele chegou a comparar que o impacto é semelhante a substituir Aécio por José Serra na disputa ou Dilma pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hipóteses que chegaram a ser ventiladas no PSDB e no PT, respectivamente. No ninho tucano, a ordem é manter a estratégia do programa eleitoral no rádio e na TV nos primeiros dias, apresentando Aécio ao eleitorado, mostrando suas realizações no governo de Minas Gerais e sua capacidade de gestão. Pelo menos por enquanto, segundo essa fonte.

"Nosso desafio não muda, temos que apresentar o candidato e torná-lo conhecido. Mas o programa é fruto de avaliação cotidiana", disse o estrategista.

No PT, não há dúvidas de que Marina assumirá a candidatura e a avaliação é que mesmo com esse novo quadro, que precisa ser pesquisado e analisado com mais calma, Dilma segue sendo a favorita para vencer a disputa.

"Estamos num momento de paralisia nas campanhas", disse um dos petistas ouvidos. Um outro integrante do comitê da campanha petista afirmou que nesse primeiro momento "tudo ficou mais confuso para todos".

Mas essa fonte acredita que Aécio tem mais a perder numa análise imediata, porque ficou sem uma linha auxiliar do discurso que tentava emplacar contra Dilma, apontando-a como má gestora. "Ele e o Campos, por terem sido governadores e bem avaliados, vinham dizendo e poderiam unir a artilharia nos debates nesse discurso da Dilma má gestora. Com a Marina, ele não terá essa parceria", disse a fonte. Esse integrante da campanha argumenta ainda que o tucano e o socialista tinham perfis semelhantes que os aproximavam, eram jovens políticos, netos de grandes personalidades da cena política e tinham acertado alianças regionais, que não foram avalizadas por Marina.

Essa fonte avalia, porém, que Dilma ganharia uma adversária com língua mais afiada e mais disposta a fazer críticas mais duras a ela e ao ex-presidente Lula, que Campos poupava.

Tendência é candidato próprio, diz Lyra

São Paulo. O governador de Pernambuco, João Lyra (PSB), afirmou na tarde de ontem, que a tendência é de que o PSB continue a ter candidato próprio à Presidência da República nas eleições deste ano.

De acordo com ele, apesar do momento de dor com a perda de Eduardo Campos, lideranças do partido já começaram a discutir quem deve ser o novo candidato. Ele avaliou ainda que a candidata a vice na chapa, Marina Silva, é "sem dúvida" um grande nome, mas o partido "vai amadurecer essa decisão" e anunciar o mais rápido possível.

Lyra afirmou que a definição da candidatura do PSB deve obedecer a "dois prazos": o legal e o político. "O legal são 10 dias, e o político nós temos que ter a consciência que o dia eleitoral começa no dia 19", disse, durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes, após reunião entre a comitiva do PSB com o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O pessebista afirmou também que a unidade já defendida por Campos deverá prevalecer no processo de escolha do novo candidato. "Temos convicção e absoluta certeza de que o PSB vai encontrar o melhor caminho para suceder Campos", afirmou. O governador comentou que já chegou, inclusive, a conversar com o presidente interino do PSB, Roberto Amaral.

"Essa é a tendência: de ter candidato próprio e deve se confirmar", declarou, acrescentando logo em seguida: "Não posso adiantar absolutamente nada em relação a isso, porque depende das conversações que vamos iniciar a partir de agora". Em entrevista, Lyra não afirmou claramente se o PSB vai continuar apoiando Alckmin em São Paulo numa eventual candidatura de Marina Silva, mas agradeceu, em nome dele e da família de Campos, a solidariedade e o empenho do tucano no processo de identificação dos corpos das vítimas e das causas do acidente.

Ele afirmou que, por telefone, a presidente Dilma Rousseff (PT) colocou à disposição todos os serviços do governo federal e informou que os corpos devem ser transportados em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Lyra disse esperar que a identificação das vítimas seja concluída entre hoje à tarde e amanhã, a partir de quando serão levadas para os respectivos Estados. O sepultamento deverá ocorrer 24 horas após os corpos chegarem aos destinos.

Liberação de corpos

O governador Geraldo Alckmin, por sua vez, não falou sobre política. Ele afirmou apenas que o governo está trabalhando para que a identificação dos corpos termine "o mais rapidamente".

Segundo ele, os corpos devem ser liberados entre dois e três dias. Alckmin citou que a esposa de Campos, Renata Campos, pediu para que todos os sete corpos fossem liberados juntos.

Marina Silva tenta se manter forte

São Paulo. A filha de Marina Silva, Mayara Lima, relatou o sentimento de tristeza após a morte do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos.

"Não é um momento fácil para a minha mãe e toda a equipe, mas ela tenta se manter forte", escreveu, em mensagem no Facebook. "É tão destruidor o sentimento que eu e minha família sentimos que, ao imaginar a dor da família do Eduardo, me assusto", escreveu.

O texto foi publicado ao lado de uma foto com a presença de Mayara, Marina, Campos e seu filho João. Segundo o relato de Mayara, a foto foi tirada no dia em que ela conheceu Campos.
"Naquela sala de um apartamento dentro da cidade de São Paulo, cheia de gente, estava acontecendo história", escreveu. "Dava para sentir que uma agenda com compromissos para um Brasil que queremos se formava. Eu estava ali como uma mera espectadora e já sentia que estava por vir algo grande pela frente", lembrou.

A filha da vice de Eduardo Campos ainda acrescentou que o Brasil perdeu um grande político, "uma pessoa de caráter e compromissos admiráveis".

Substituição

O porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade, o ex-deputado federal Walter Feldman, disse que a escolha de Marina Silva como substituta de Eduardo Campos na chapa presidencial do PSB não está sendo discutida neste momento pela cúpula da campanha. Segundo Feldman, Marina sequer permite a discussão sobre seu nome e um possível vice menos de 48 horas depois da morte do candidato à Presidência da República.

O aliado de Marina disse que não há clima para tomar uma decisão e que ela considera um desrespeito com a dor da família de Campos discutir seu substituto na eleição presidencial. "Nossa posição é deixar essa questão para depois do sepultamento", reiterou.

Enquanto os aliados evitam falar sobre a substituição da cabeça de chapa do PSB, a equipe que cuida da produção do primeiro programa que vai ao ar na próxima terça decidiu que o tempo da coligação será de homenagem ao candidato.

TSE pode avaliar adiamento de horário

São Paulo. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Dias Toffoli, afirmou no fim da tarde de ontem, que a Corte poderia analisar o adiamento da propaganda eleitoral gratuita caso haja um consenso entre todos os partidos envolvidos na disputa à Presidência da República.

O candidato do PV à presidência, Eduardo Jorge, disse mais cedo que iria pedir ao TSE a suspensão da propaganda eleitoral, em razão da morte do candidato do PSB, Eduardo Campos.

"Os prazos são fixados por lei e, portanto, são obrigatórios. O que poderia ser analisado pela Justiça eleitoral seria um consenso entre todas as candidaturas", afirmou Toffoli, destacando que a decisão dependeria da análise do colegiado do TSE. Se apenas uma ou duas candidaturas se manifestarem nesse sentido, disse o presidente da Corte, não haveria fundamento legal para fazer a alteração. O horário eleitoral gratuito está previsto para ter início no próximo dia 19, terça-feira. A data é anterior ao final do prazo que a coligação Unidos pelo Brasil, que lançou Campos à Presidência, tem para apresentar substituto no pleito.

Toffoli afirmou ainda que o prazo de dez dias para apresentação de um substituto começou correr desde ontem. "Do ponto de vista formal, seria necessário a identificação do corpo e a comunicação ao TSE. Mas como todos os envolvidos já reconheceram que ele estava no voo, já há o que chamamos de fato público e notório", afirmou o ministro. Ele lembrou que a substituição deve ser decidida pela maioria absoluta das executivas dos partidos que compõem a coligação e não há necessidade de realizar uma nova convenção. No decorrer do prazo de dez dias, a regularidade da coligação sobrevive. Assim como a candidatura da vice, Marina Silva. Os registros de candidatura são feitos separadamente para partido e coligação, candidato e vice-candidato.

"Não há mais cabeça de chapa. Esse registro para candidato a presidente fica dependendo de substituição", afirmou Toffoli.
Fonte: Agência Brasil.



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