Antônio
Ribeiro.
“GOSTOU, GOSTOU. QUEM NÃO GOSTOU VÁ PARA
O INFERNO.”
Antes do massacre Alemanha 7 x 1
Brasil, o professor Felipe Scolari lembrou em entrevista coletiva à imprensa
que sempre faz do seu jeito e arrematou: “Gostou, gostou. Quem não gostou vá
para o inferno.” De fato, justiça se faça, o treinador cujos resultados
recentes foram perder a Eurocopa para Grécia em casa e rebaixar o Palmeiras
para a segundona, cumpriu a promessa no Mineirão.
O inferno pode ser medido palmo a
palmo. A mais elástica goleada sofrida pela Seleção Brasileira no espaço de um
século. A maior derrota em uma semifinal na história das 20 copas. O resultado
mais vexatório apresentado por um país anfitrião. E o improvável mesmo nas
peladas de várzea: tomar 5 gols em menos de meia hora.
O atacante Fred tentou resumir o
réquiem: “Uma cicatriz para toda vida”. Errou de novo. Cicatrizes podem
desaparecer com cirurgias corretivas. A humilhação na gloriosa odisseia do
futebol brasileiro permanecerá indelével até sob eventual intervenção de
uma força tarefa de dedicados revisionistas.
Em notável estado choque pós-goleada
e com a chancela do coordenador técnico Carlos Alberto Parreira, no dia
seguinte, portanto com tempo para reflexão o goleiro Júlio César, veterano de
copas, asseverou ter sido um fenômeno “inexplicável”. Isso como se a razão
tivesse tomado um foguete para lua fugindo do Império da Fatalidade.
Não. Todo efeito tem causa. Nada
acontece por geração espontânea tal como demonstrado pelo microbiologista
francês Louis Pasteur. O time alemão atual tem uma divisão de boleiros muito
talentosos. O Brasil de 2014 possui bem menos. Mas não foi à proporção que fez
a diferença brutal. A questão é puramente técnica.
Desde 2006 quando perderam uma
copa em casa, os alemães vem se empenhando em reproduzir com teuta aplicação e
pragmatismo os fundamentos das nossas mais celebradas vitórias no passado.
Valorizam o toque de bola, a precisão dos passes e a mobilidade em ritmo
rápido, condizente com o futebol moderno. Todos juntos e no mesmo sentido, os
fatores facilitam chegar ao objetivo final, o gol.
Introduziram também uma variante
na prancheta que deu certo na prática. O goleiro como líbero. Manuel Neuer é o
último zagueiro. Não é novidade para quem acompanha o Bayern de Munique,
campeão da Bundesliga, Liga dos Campeões — a final foi contra outro time
alemão, o Borrússia — e base da Mannschaft.
Jogar junto contribui para o
entrosamento. No entanto, ainda que com jogadores da mesma equipe, a comissão
técnica alemã só deu folga aos jogadores uma vez. Trata-se de engano
sustentar que a vergonha dos 8 de julho se deu porque don Scolari não
treinou o time com este ou aquele boleiro. O Brasil não treinou o suficiente
ponto. Os moradores de Teresópolis com vista para os gramados da Granja Comary
se espantaram com abstinência. Nem a presença de Neymar teria evitado a
debacle.
Seria prova de imbecilidade se o
7 x 1 sobreviva apenas como uma página negra. Parafraseando Winston Churchill:
“Se estiver atravessando o inferno, continue andando.” Passa da hora do Brasil
aposentar a autossuficiência sem lastro, a soberba fora do lugar, a arrogância
que tenta esconder o arcaísmo incompatível com o futebol moderno e, sobretudo,
a corrupção da cartolagem. Valeria a pena debruçar sobre o exemplo alemão.
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