CRIMINALISTAS NÃO VÊEM PREJUÍZO, MAS ATRASO NA LAVA JATO COM A MORTE DE TEORI.
Para advogados, novo relator precisará de tempo
para ler o processo; magistrados dizem que interpretação das leis para autorizar
medidas da investigação pode mudar.
Criminalistas avaliam que a mudança na relatoria da
Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), após a morte do ministro
Teori Zavascki, não vai trazer prejuízo para o resultado dos processos, mas poderá
atrasar as investigações.
O destino de cerca de 40 inquéritos, envolvendo 13
senadores e 29 deputados federais, depende agora de uma decisão da presidente
do STF, Cármen Lúcia. Ela poderá sortear um novo relator ou deixar os processos
para o novo ministro, a ser indicado pelo presidente Michel Temer e aprovado
pelo Senado.
Entre advogados e magistrados habituados a grandes
casos criminais, a principal dificuldade de quem pegar o processo será ler
todos os documentos de quase três anos de investigações.
“É claro que o ministro que entrar vai ter uma certa
dificuldade para pegar o contexto da apuração, porque o Teori estava
acompanhando desde o início, fazia a ligação de um caso com outro, tinha tudo
na cabeça. Eu acho que o ministro que entrar vai ter essa dificuldade de
entender o todo. Mas não acho que terá nenhum tipo de prejuízo”, diz o advogado
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende os senadores Edison
Lobão (PMDB-MA) e Romero Jucá (PMDB-RR), além do ex-presidente José Sarney
(PMDB-AP) no escândalo.
Com quase 40 anos de atuação no STF, o advogado Nélio
Machado que defendeu o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o lobista
Fernando Baiano na Lava Jato – lembra que, apesar de o relator supervisionar as
investigações, as decisões finais, para punir ou absolver os acusados, são
sempre de um órgão colegiado, na maioria dos casos, a Segunda Turma, composta
por Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello.
“Claro que a perda de um ministro com a
respeitabilidade pesa em qualquer tribunal do mundo. Agora, há outros ministros
qualificados na casa, se houver redistribuição. E se eventualmente for
escolhido alguém, o STF tem história de atuação correta. As cosas vão tomar o
seu caminho, e isso não significa punir ou não punir, significa fazer justiça”,
diz o advogado, lembrando que a maioria dos processos ainda está no início, nas
investigações.
Diferenças de abordagem
Juízes também ouvidos pela reportagem, porém, avaliam
que não só a velocidade das investigações poderá mudar, mas também são as
abordagens do novo ministro em relação ao caso.
Para o desembargador federal Fausto De Sanctis,
especialista e autor de livros sobre lavagem de dinheiro (um dos principais
focos da Lava Jato), um dos fatores a serem levados em conta é a experiência do
juiz com o caso. Para ele, Teori já tinha posicionamentos firmados e princípios
seguidos desde o início, que poderão ser diferentes com outro ministro.
“É claro, todos seguem a lei, mas cada qual com a sua
interpretação, porque sempre se joga uma carga subjetiva, que é inevitável, a
subjetividade de uma interpretação da lei”, resume.
“Na prática quem dá o tom é o juiz. Porque dá as
linhas e as partes sabem até onde pode ir e não ir. Não adianta as pessoas
acharem que o juiz é autômato, que é pessoa absolutamente eqüidistante, porque
é o juiz quem dá o tom e o ritmo”, explica o desembargador.
Isso faz diferença, segundo ele, na agilidade ou
demora do juiz para decidir, por exemplo, sobre medidas investigativas, como
uma prorrogação de interceptação telefônica. Os fundamentos da decisão, se
estáveis, dão aos investigadores e à defesa mais clareza o que o juiz permite
ou não na coleta de provas, por exemplo.
“Não é porque o magistrado tem contato indevido com a
polícia, mas é porque a polícia se sente motivada quando há respaldo
institucional pelo que estão fazendo. Não de referendar tudo, de dizer que está
tudo certo. É uma resposta adequada no tempo devido, esperada em termos de
interpretação, que não surpreende o tempo todo”, diz o magistrado.
Decisões da primeira instância
Desembargador e doutrinador em direito penal,
Guilherme Nucci também vê diferenças na atuação de magistrados na condução de
investigações. Para ele, Teori vinha sendo “menos invasivo” nas decisões de
Sérgio Moro, responsável pelo caso na primeira instância, alterando muito pouco
suas determinações questionadas em recursos.
“Pode ser que agora o novo relator seja mais invasivo,
que possa coibir mais ações do juiz Sérgio Moro. Mas também não ponho muita fé
nisso, porque as investigações do Sérgio Moro já estão em andamento.
As
investigações agora sendo feitas cabem ao Supremo. O que vai acontecer é que o
novo relator vai poderá imprimir ritmo mais rápido ou mais vagaroso nas
investigações”, conclui Nucci.
Dentro da Lava Jato, a maior expectativa agora é com a
homologação da delação de 77 executivos da Odebrecht. Nesta última semana de
janeiro, Zavascki havia determinado a dois juízes auxiliares que checassem com
os colaboradores se os depoimentos foram tomados sem nenhum tipo de coação por
parte dos investigadores.
Com a morte do relator, o ato, que estava previsto
para o início de fevereiro, na volta do recesso no STF, deverá atrasar.
Trata-se do último passo para validar os acordos, que autoriza o
procurador-geral da República a pedir novas investigações sobre o esquema de
corrupção.
Fonte: G1 – DF.
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