APÓS MASSACRES, TEMER DISCUTE CRISE DOS PRESÍDIOS NA CASA DE CÁRMEN LÚCIA.
Os presidentes da República e do STF se reuniram por quase três horas neste sábado; segundo assessores, eles trataram de ações conjuntas para conter o caos nas prisões.
O presidente Michel Temer passou quase três horas na
manhã deste sábado (7) na casa da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Cármen Lúcia, tratando reservadamente com a magistrada sobre a crise
penitenciária. O encontro não estava previsto na agenda oficial do
peemedebista.
Temer deixou o Palácio do Jaburu residência oficial da
Vice-Presidência por volta das 10h em direção à residência da presidente da
Suprema Corte, localizada no Lago Sul, bairro nobre da capital federal.
Ele deixou a casa de Cármen Lúcia pouco depois das 13h
e não falou com a imprensa. A ministra do STF, que também não quis falar com os
jornalistas acompanhou o presidente da República até a porta da casa.
Para não chamar a atenção, Temer não usou os
tradicionais carros oficiais pretos da Presidência, e sim um carro sem
identificação oficial prata. Um veículo preto da equipe de seguranças do
Planalto acompanhou o deslocamento do chefe do Executivo.
De acordo com assessores, Temer e Cármen Lúcia já
haviam conversado por telefone nesta sexta-feira (6), após a divulgação da
matança na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo que deixou 31 mortos no maior
presídio de Roraima, para discutir a situação dos presídios.
No início da semana, entre domingo (1º) e segunda (2),
56 presos haviam sido mortos em uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio
Jobim, em Manaus. Outros 4 detentos foram mortos em outra penitenciária da
capital amazonense.
No diálogo telefônico desta sexta, informou um
interlocutor de Temer, os presidentes da República e do Supremo teriam
combinado de se encontrar pessoalmente neste fim de semana para aprofundar a
discussão sobre o caos nas prisões.
No encontro, além de tratar da repercussão dos
massacres registrados nesta semana em Manaus e Boa Vista, os chefes do
Executivo e do Judiciário iriam negociar possíveis ações conjuntas entre os
dois Poderes para conter a crise nos presídios e evitar que as rebeliões que
ocorreram na Região Norte se espalhem para outras penitenciárias do país,
informaram assessores.
Semana trágica
Os primeiros dias do ano de 2017 que estreou com uma
chacina com 60 mortos na capital do Amazonas já trouxeram desgaste político
para ao Palácio do Planalto.
Embora o governo federal tenha tentado terceirizar a
responsabilidade das chacinas de Manaus e de Boa Vista aos governos estaduais e
à empresa que administra a penitenciária amazonense, a crise penitenciária teve
impacto no Palácio do Planalto e, inclusive, já derrubou um integrante do
Executivo federal.
Nesta sexta, o secretário nacional de Juventude, Bruno
Júlio, pediu demissão após dar uma declaração polêmica sobre as rebeliões nos
presídios de Roraima e Manaus. Segundo a assessoria do Planalto, Temer aceitou
o pedido de demissão do auxiliar.
Após declaração polêmica sobre massacre em presídios,
secretário Bruno Júlio pede demissão.
Bruno Júlio, que é filiado ao PMDB e havia sido
nomeado para a secretaria em junho, afirmou à coluna do jornalista Ilimar
Franco, do jornal "O Globo", que tinham que ter matado mais presos e
que deveria haver uma chacina por semana.
Antes da polêmica envolvendo o secretário, o próprio
Temer já havia sido criticado por conta da demora em se manifestar sobre o
massacre no presídio amazonense. O peemedebista levou quatro dias para comentar
publicamente o assunto e quando falou gerou ainda mais polêmica ao classificar
o episódio de "acidente pavoroso".
Diante da repercussão negativa, para tentar explicar
outros sinônimos da palavra "acidente", mas foi ainda mais criticado.
O professor da língua portuguesa Sérgio Nogueira que o
uso do termo "acidente" não é "adequado" para o episódio
envolvendo a rebelião no presídio em Manaus.
Visita a Manaus
Temer enviou o ministro da Justiça, Alexandre de
Moraes, a Manaus, mas não foi pessoalmente à capital do Amazonas depois da
chacina.
Já a presidente do Supremo esteve em Manaus na última
quinta (5) para tratar da crise nos presídios da Região Norte e das rebeliões
no Amazonas.
Nas cinco horas em que Cármen Lúcia ficou na capital
amazonense, ela participou de três reuniões fechadas: com desembargadores,
juízes federais, presidentes dos tribunais de Justiça dos estados da Região
Norte e Ministério Público de Contas do estado.
Após a conversa dos desembargadores com a presidente
do STF, o Tribunal de Justiça do Amazonas informou que o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) vai criar um grupo de trabalho para acompanhar e fiscalizar as
medidas adotadas pelo governo do Amazonas para tentar resolver a crise
penitenciária.
Ainda de acordo com o tribunal, a magistrada
determinou um levantamento da população de presos do Amazonas com divisão por
crimes e situação dos processos por detento.
Pelos dados de controle da Secretaria de Administração
Penitenciária, até o dia 30 de dezembro a população nos 11 presídios do
Amazonas passava de 10 mil. A capacidade é para pouco mais de três mil.
Governo de RR pediu no fim de 2016 ajuda para
segurança em presídios.
Força Nacional
Para tentar reverter a agenda negativa, o governo
decidiu antecipar nesta semana o lançamento do Plano Nacional de Segurança, que
prevê, entre outros pontos, a criação de centros de inteligência da polícia nas
capitais, forças-tarefa do Ministério Público para investigar homicídios e
combate ao tráfico nas fronteiras.
No entanto, a iniciativa federal para conter a
criminalidade foi ofuscada por conta de uma nova polêmica.
Depois da divulgação do massacre no presídio de Boa
Vista, o governo de Roraima informou que havia pedido ao Executivo federal, em
novembro, o reforço da Força Nacional devido a problemas no sistema
penitenciário. O ministro da Justiça, porém, negou o envio.
A solicitação do governo de Roraima foi feita após
confronto com 10 mortos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a mesma onde
ocorreu a matança desta sexta-feira.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que, na
ocasião, Alexandre de Moraes explicou à governadora de Roraima, Suely Campos
(PP), que a Força Nacional não pode atuar dentro dos presídios, assumindo a
administração dos estabelecimentos prisionais.
Fonte: G1 – DF.
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