COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
ATÉ QUANDO
VAI A BLINDAGEM.
Nobres:
A sociedade não admite que o momento político
carregado pela corrupção descomedida seja permanente e que o governo e uma
parcela da população as extremas: os aculturados e cientistas do lulopetismo
saiam ilesos deste destoucado conceito, inspirado até pelo fanatismo que
experimenta tão mal este país. Por instigação desses segmentos Lula sempre
soube se desvincular inteligentemente dos vários escândalos que atingiram seu
governo e o Partido dos Trabalhadores desde 2003. No mensalão, Lula passou do
“fui traído” para o “eu não sabia” e, no fim de seu mandato, “o mensalão é uma
farsa”. Ainda que a cúpula do partido estivesse envolvida e tivesse sido
condenada pelo Supremo Tribunal Federal, nada parecia capaz de atingir Lula. Não
mais. Já são muitos os indícios levantados pela Polícia Federal e pelo
Ministério Público Federal de que Lula teria contribuído e até mesmo
participado de atos ilícitos que, em princípio, poderiam levá-lo a responder
por crimes de lavagem, tráfico de influência, corrupção passiva e outros
delitos previstos no Código Penal. Ele não está só nestas suspeitas; elas atingem
pessoas de sua família, dois filhos e a nora. Alguns fatos estão comprovados e
documentados à exaustão. Não se nega, por exemplo, que Lula se locomove pelo
mundo a bordo de jatinhos de grandes empreiteiras e recebe fortunas por
palestras que profere geralmente coincidentes com contatos pessoais do
ex-presidente com governantes e empresários estrangeiros, potenciais clientes
de obras bilionárias de interesse dos patrocinadores de suas viagens. As
conferências do ex-presidente renderam-lhe R$ 27 milhões. Referências a
episódios desta natureza estão presentes em depoimentos jurados de delatores
premiados perante a Operação Lava Jato. Lula e Rui Falcão lançam a carta da
“perseguição” e a usam com mais veemência à medida que o cerco se fecha. Até
aí, nada de flagrantemente irregular. Mas a situação ganha outros contornos
quando aparecem vestígios consistentes de movimentações financeiras na Operação
Zelotes, aquela que investiga delinqüências no Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais (Carf), órgão do Ministério da Fazenda pródigo em conceder
suspeitos perdões e abatimentos de dívidas tributárias, benesses que ajudaram
empresas a não ter de recolher bilhões ao fisco. A Zelotes ainda investiga a
edição da Medida Provisória que prorrogou a isenção de IPI a montadoras e não
teria nascido por acaso, mas supostamente por influência de um dos filhos de
Lula, Luís Cláudio, cuja empresa de consultoria esportiva recebeu R$ 1,5 milhão
por “serviços prestados” ao lobista que atuou para introduzir providenciais
emendas à MP, posteriormente convertida em lei. Outro filho de Lula, Fábio
Luiz, o “Lulinha”, ex-tratador de animais do zoológico de São Bernardo, aparece
em outro caso relatado por Fernando Baiano; o delator ainda acrescentou que o
empresário José Carlos Bumlai, fazendeiro amigo de Lula, teria pago a quitação
do imóvel de uma nora do ex-presidente. Além disso, a relação entre Lula e a
empreiteira Odebrecht é alvo de investigação no Distrito Federal. Ainda não é
tudo: o nome do ex-presidente aparece também em transações bancárias com
indícios de irregularidades identificados pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), da ordem de R$ 500 milhões. Deste total, R$ 300
milhões foram movimentados em conjunto com outros de seus mais diletos amigos,
como o ex-ministro Antonio Palocci, o governador de Minas Gerais Fernando
Pimentel e a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. As notícias, claro,
repercutem intensamente. Haveria sinais inequívocos de que Lula estaria sendo
vítima de maquinações políticas alimentadas pela oposição? Da suposta má
vontade com que a grande imprensa trata o ex-presidente e seu partido, o PT? De
abusos cometidos por policiais insatisfeitos, procuradores vaidosos e juízes à
procura de holofotes? É o que dizem tanto Lula quanto o presidente do PT, Rui
Falcão, que lançam a carta da “perseguição” e a usam com mais veemência à
medida que o cerco se fecha. De fato, Lula não foi denunciado à Justiça, e nem
julgado. Mas a presunção de inocência que se deve conceder nesta situação não
autoriza Lula, nem seus defensores, a desmoralizar as instituições que vêm
realizando as investigações sobre as atividades do ex-presidente, nem atacar a
imprensa que faz seu trabalho com independência. O ex-presidente, por mais que
acredite estar acima de qualquer lei ou norma, é um brasileiro como qualquer
outro. Se os indícios que há contra o Lula, e eles existem em abundância, são
fortes, que se investigue até o fim. Será que o Brasil vai sempre depender de
um ex-presidente populista que abriga nitidamente ações escusas.
Antônio
Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário