Ao G1 e à TV Globo, ele se diz 'usufrutuário em vida' de ativos fora do país.
Acusado de mentir à CPI, presidente da Câmara pode ter mandato cassado.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
reafirmou nesta sexta-feira (6), em entrevista ao G1 e à TV
Globo, que não tem contas bancárias nem é proprietário, acionista ou cotista de
empresas no exterior.
< Cunha admite, porém, ser "usufrutuário" de
ativos mantidos na Suíça e não declarados à Receita Federal e ao Banco Central
porque, segundo afirmou, são recursos que obteve no exterior, mantidos em
contas das quais não é mais o titular.
O presidente da Câmara responde a processo no Conselho
de Ética da Casa, no qual é acusado de quebra de decoro parlamentar por ter
supostamente mentido ao declarar à CPI da Petrobras que não tem
contas fora do país.
Cunha diz ter um contrato com um truste proprietário
de recursos "de origem antiga" que ele acumulou no exterior nos anos
1980. Um truste é uma entidade legal que administra propriedades e bens em nome
de um ou mais beneficiários mediante outorga.
"Desses ativos, administrados e geridos pelo
truste, eu sou usufrutuário em vida, em condições pré-contratadas",
afirmou Eduardo Cunha.
Na entrevista, Cunha antecipou a linha de defesa que
adotará no processo no Conselho
de Ética e que, se enviado ao plenário para votação, pode
levar à cassação do mandato.
Investigado na Operação Lava Jato e respondendo a inquérito
que tramita no Supremo Tribunal Federal, o presidente da Câmara é acusado em
representação dos partidos PSOL e Rede de ter mentido em depoimento à CPI da
Petrobras, em março, quando afirmou não
ter contas no exterior.
< PSOL uma espécie de sublegenda do PT - IRONICAMENTE ALUUNS DE SEUS MEMBROS FORAM EXPULSOS DA "SANTIDADE" PETISTA POR NÃO COMUNGAR COM A ROUBALHEIRA DO "ENTÃO - RECÉM INSTITUÍDO "MENSALÃO" (ausência da vergonha, aliás, abolida do dicionário político do País)
Documentos
enviados à Procuradoria Geral da República pelo Ministério Público da Suíça
dizem que ele é o controlador de contas naquele país.
A eventual comprovação da mentira é que caracterizaria
a quebra de decoro parlamentar, infração pela qual ele ficaria sujeito à
cassação do mandato pelo plenário. Daí a tentativa do presidente da Câmara de
reunir elementos para demonstrar que não mentiu ao afirmar à
CPI: "Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer
lugar que não seja a conta que está declarada no meu imposto de renda.”
Venda de
carne na África.
Cunha afirmou na entrevista que o dinheiro mantido no
exterior é “lícito” e proveniente da venda de carne e outros produtos
alimentícios no Zaire (atual República do Congo). Os valores teriam sido
acumulados na década de 1980, quando ele atuava como uma espécie de
“caixeiro-viajante”, vendendo mercadorias na África.
Outra parcela dos recursos depositados fora do Brasil
vem, de acordo com Cunha, de investimentos em ações e bolsas de valores de
países como Estados Unidos e China.
O presidente da Câmara argumenta
que, por não ser atualmente o titular das contas bancárias, não mentiu à CPI da
Petrobras quando disse, em março, que não possuía contas no exterior.
“Veja bem, a minha declaração à CPI pode ser
facilmente defendida. Eu não tenho conta no exterior, não sou proprietário ou
acionista, cotista de empresa offshore no exterior. O que tenho é um contrato
com um truste que passou a ter a propriedade nominal de ativos meus de origem
antiga. E desses ativos, administrados e geridos pelo truste, eu sou
usufrutuário em vida, em condições pré-contratadas, e por familiares meus, em
morte”, disse.
Os documentos enviados pelo Ministério Público da
Suíça apontam a existência de três contas ligadas a Eduardo Cunha, chamadas
Orion, Triumph, e Netherton. Além de outra, chamada Kopek, cuja titular é a
mulher dele, <Claudia Cruz.
Cunha disse que Orion, Triumph e Netherton foram
abertas pelos trustes constituídos por ele para administrar o dinheiro que
obteve na venda de carne e investimento em ações, nas décadas de 1980 e 1990.
Ele também confirmou a existência da conta em nome da mulher.
Declaração
às autoridades.
Nenhuma das contas mencionadas pelo Ministério Público
da Suíça nem as contas abertas anteriormente por Cunha foi declarada ao Banco
Central e à Receita
Federal.
Cunha diz que não precisaria declarar os valores
atualmente existentes no exterior às autoridades brasileiras porque não é o
titular das contas – os titulares, afirmou, são os trustes.
Além disso, segundo ele, os recursos foram gerados e
investidos no exterior, sem ter havido envio de dinheiro do Brasil para fora. O
peemedebista argumenta que, se tivesse declarado, seria tributado duas vezes –
pelas normas do país onde está o dinheiro e pelas regras brasileiras.
“Não declarei
ao Banco Central e à Receita Federal porque não houve evasão de recursos. Foram
recursos gerados e ganhos no exterior. Hoje, já está fora do período fiscal. A
discussão seria sobre a manutenção ou não desses recursos de forma não
declarada. Não sou proprietário mais desses recursos. O proprietário é o
truste, eu sou apenas o contratante e beneficiário em vida. Por isso a gente
acha, os advogados entendem, que não tem obrigatoriedade de declarar o suposto
benefício “ alega o presidente da Câmara.
No entanto, de acordo com o Banco Central, todos os
acordos de truste que envolvam a guarda e administração de ativos no exterior,
tendo como beneficiários pessoas físicas ou jurídicas residentes no Brasil
devem ser declaradas por meio de Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior
(CBE). A declaração precisa ser feita em nome do “beneficiário residente” no
Brasil.
O tributarista Heleno Torres, professor da
Universidade de São Paulo, afirmou, em entrevista à TV Globo, que os valores
também precisariam ser declarados à Receita Federal. “Todos os recursos
investidos ou aplicados em trustes no exterior devem ser declarados à Receita
Federal e ao Banco Central. É perfeitamente lícito, mas sempre efetuada a
declaração ao Banco Central e à Receita Federal”, disse.
Caminho do
dinheiro.
Cunha afirmou que as primeiras contas no exterior
foram abertas nos anos 1980, para depositar dinheiro proveniente da venda de
mercadorias para o Zaire. Na década de 1990, as contas “engordaram” com
dinheiro que ele obteve em lucro de operações nas bolsas de valores. Naquela
época, as contas estavam em nome do próprio Cunha.
Até 2007, o presidente da Câmara diz ter conseguido
cerca de US$ 4 milhões. Perguntado se teria provas dos recursos obtidos com
operações em bolsa e comércio internacional. Cunha disse que não.
“Veja bem, naquele momento constituí uma companhia
fora do Brasil que fazia essa intermediação de mercadorias para serem
importadas e exportadas. Obviamente que estamos falando de coisa de 30 anos
atrás. Isso não tem documento nem contabilidade de assunto dessa natureza. Essa
empresa já foi desfeita. Eu não tenho mais a guarda de nenhum documento que
possa gerar isso, a não ser meu passaporte provando as minhas viagens”, disse.
Em 1993, o presidente da Câmara diz ter aberto conta
no banco Merrill Lynch, em Nova York, para gerir esses recursos.
Em 2003, contratou dois trustes, no mesmo banco, para
administrar os valores e passou a ser beneficiário dos recursos em condições
específicas, como pagamento de cursos no exterior para os filhos.
Outra parte do dinheiro deveria render para, após a
morte, ficar com a família. Portanto, só no banco de Nova York, Cunha manteve
por dez anos conta em nome próprio e sem declarar.
“Não declarei porque o recurso foi gerado fora do
país. Pela legislação do país que ele existia, ele foi tributado. Você não
tinha naquela época legislação clara sobre lucros no exterior, como tem hoje.
Não houve uma evasão de divisas. O que houve foram ganhos no exterior que não
foram declarados aqui”, disse.
Em 2007, segundo Cunha, os trustes foram transferidos
para a Suíça, por decisão do Merrill Lynch, porque o banco teria uma nova
orientação de que contas de estrangeiros deveriam ficar na sede do país
europeu.
Entre maio de 2007 e junho de 2008, após o
Merrill Lynch ser vendido para o banco Julius Baer, houve nova composição de
trustes, com a abertura das contas Triumph e Orion, citadas nos documentos que
o Ministério Público da Suíça enviou à Procuradoria Geral da República.
De acordo com Cunha, em setembro de 2008, criou-se a
conta Netherton, para onde foram transferidos os recursos das duas contas
anteriormente criadas. Essa conta permanece em operação, e o saldo de 2,348
milhões de francos suíços (equivalente a R$ 8,89 milhões, ao câmbio desta
sexta) foi bloqueado pelas autoridades da Suíça. A Orion e a Triumph foram
extintas.
Conta da
mulher.
A conta Kopek, da mulher de Cunha, foi aberta em
fevereiro de 2008. Segundo o presidente da Câmara, ela possuía como finalidade
única pagar despesas de cartão de crédito internacional usado para gastos da
família. O peemedebista afirma que já chegou a depositar até US$ 225 mil
em “garantia” aos cartões de crédito.
Confrontado com a exigência do Banco Central de que
contas com mais de US$ 100 mil sejam declaradas por meio da Declaração de
Capitais Brasileiros no Exterior (CBE), Cunha afirmou não considerar os US$ 225
mil rendimentos da conta, mas sim dinheiro em posse dos cartões de crédito.
Ainda assim, ele admite a possibilidade de declarar a
conta e pagar multa e Imposto de Renda pelos anos em que não houve comunicação
às autoridades brasileiras.
“Essa conta não foi declarada porque não tinha saldo
superior a US$ 100 mil. O dinheiro era do cartão de crédito”, justificou.
Depósito
de US$ 1,3 mi.
Cunha também diz que não sabe como comprovar a origem
de um depósito de 1,3 milhões de francos suíços (US$ 1,3 milhão) feito em 2011
na conta Netherton, da qual é beneficiário.
Esse depósito, feito em cinco transferências, foi apontado em
depoimento ao Ministério Público Federal por João Augusto
Henriques, lobista supostamente ligado ao PMDB.
Investigado na Operação Lava Jato, João Augusto
Henriques disse que o dinheiro seria de um contrato da Petrobras para a
exploração de petróleo em Benin, na África.
O lobista diz que fez a transferência a mando do
economista Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz, ex-líder do PMDB na
Câmara, morto em 2009.
Na entrevista ao G1 e à TV Globo,
Eduardo Cunha afirma que só soube do depósito um ano depois de o dinheiro
aparecer na conta.
O peemedebista diz acreditar que o 1,3 milhão de
francos suíços seriam pagamento de uma dívida que o pai de Felipe Diniz,
Fernando Diniz, teria contraído com Cunha antes de morrer.
Ele apresentou documentos que mostram quatro
transferências de 250 mil francos e uma de 311 mil, em junho de 2011.
Segundo o peemedebista, o dinheiro não foi reconhecido
nem aplicado pelo truste que opera a conta na Suíça, por não ser um recurso
esperado.
“O truste nem sequer aplicou na taxa de juros mínima,
para não perder dinheiro. Qualquer ativo adicional precisa ser contratado, até
porque o truste não quer ser associado a uma possível lavagem de dinheiro”,
disse.
O peemedebista afirma que não conversou com Felipe
Diniz sobre esse depósito, por temer que isso fosse interpretado pelo
Ministério Público como combinação de versões.
Segundo Cunha, Diniz desmentiu, em depoimento ao MPF,
que tenha determinado esse depósito de 1,3 milhão de francos.
“A única coisa que posso ter me arrependido é de não
ter feito uma gestão mais forte desse recurso que o truste teve. A declaração
das contas, em si, entende que não era obrigatória. Não me arrependo disso
porque teria feito exatamente a mesma coisa”, afirmou o presidente da Câmara.
Fonte: Agência O Globo.
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