Ministro avalia
que a prisão do senador teve grande impacto na articulação política.
O Ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini,
avalia que a prisão do senador Delcídio Amaral teve grande impacto pelo bom
trânsito que ele mantinha na base aliada e na oposição. A nova meta fiscal
acabou não sendo votado, o que travará a máquina.
O senhor ficou surpreso com essas revelações
envolvendo o senador Delcídio Amaral?
A gente fica, né? Primeiro, ele vai prestar
esclarecimentos sobre aquilo que parece, ouvindo as gravações.
Mas a gente
nunca imaginou que o Delcídio pudesse estar, digamos, preocupado com a delação
de Cerveró nesse nível. Da nossa parte, é surpresa e tristeza por envolver uma
pessoa que convivia conosco semanalmente.
A oposição registrou no Senado que
também estava triste, porque a relação sempre foi muito civilizada, cordial. Ele
é uma pessoa que gosta de costurar acordos, não é um líder só de enfrentar, mas
também de dialogar.
E a presidente Dilma Rousseff, como se sente?
Da mesma forma que eu, que o Jaques (Wagner). O
sentimento é assim: é uma tragédia que isso aconteça com uma pessoa que tinha
um relacionamento bom na situação e na oposição.
O que o governo vai fazer, já que não cumpriu a meta
fiscal?
Nossa preocupação é cumprir a lei, mas não deixar que
haja transtorno para as pessoas que precisam dos serviços do governo. Nós não
queremos, por exemplo, que faltem recursos para fiscalização ambiental, Polícia
Federal e para os órgãos que exercem atividades de Estado e precisam continuar
funcionando.
Não são despesas obrigatórias, são despesas
discricionárias, mas essenciais. Um contingenciamento com válvula de escape.
Lá nos EUA tem uma disputa política. Aqui, eu não acho
que esse tema tenha o mesmo nível de disputa política. Embora a oposição vá
fazer o embate legítimo, eu acho que a própria oposição sabe que isso não
interessa ao país.
É legítimo que eles façam o embate no processo de votação, e
a base tenha consciência de que só depende dela, só depende de nós. Nós
queremos deixar claro que não é bom para o país, mas não queremos que isso seja
encarado como pressão, e sim como explicitação do problema, para a gente
trabalhar com calma e votar.
Até porque acho que votaria esta semana, se não
houvesse o episódio do Delcídio.
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Como o governo está lidando com o caso Delcídio?
Foi um problema que não foi provocado nem atingiu o
Poder Executivo.
Os fatos divulgados não são da atividade dele de líder do
governo. Ele vai responder por isso, certamente vai prestar esclarecimentos, e
o Poder Judiciário e o Ministério Público vão tomar as medidas que acharem
corretas.
É um fato que obviamente nos entristeceu, nos deixou chateados, mas
nossa função é governar o país. Então, nós temos que continuar nosso trabalho e
deixar que isso seja tratado pelas instâncias do Judiciário e do Ministério
Público.
O governo está abandonando o senador Delcídio?
Nós não temos nenhuma razão para tratar o assunto
dentro do governo, porque não se refere a atividades de governo.
Não houve
nenhum tipo de “Ah, ele tava fazendo uma coisa que tinha a ver com a função
dele de líder”. Não. Não tinha a ver. É só ver o que está na gravação, e você
vê claramente que era uma ação dele como pessoa, não uma ação do líder do
governo.
Se ele se sentir abandonado, não pode representar
ameaça ao governo?
Não vou especular sobre isso porque não tenho nenhuma
base para ter esse tipo de especulação ou fazer futurologia. No que se refere à
sua atividade como líder, ele sempre foi muito correto e transparente na
relação com o governo.
Sempre agiu seguindo as orientações do governo e sempre
conduziu com responsabilidade seu papel no Senado. É isso que a gente pode
dizer sobre ele.
Sem Delcídio, vai ser possível retomar o trabalho de
recompor a base?
Vamos trabalhar para isso. Vamos ouvir os líderes na
segunda-feira, para depois apresentar sugestões de nomes à presidente Dilma.
Mas acho que sim (é possível reconciliar a base).
As pessoas todas são
importantes, mas, diante da necessidade de substituir, vamos procurar a melhor
pessoa possível.
Já existe um nome mais provável?
Não tem. A gente evita falar de nomes justamente
porque ninguém foi sondado.
O líder do governo tem que ser uma pessoa com bom
trânsito entre os líderes dos partidos. Depois, se possível, que também tenha
bom trânsito com a oposição.
E que tenha muita capacidade de diálogo, que
perceba rapidamente quais são os impasses para alcançar os objetivos nas
votações.
‘Não queremos, por exemplo, que faltem recursos para
fiscalização ambiental, para a Polícia Federal e para órgãos que exercem
atividades de Estado’
- Ricardo Berzoini
Sobre ajuste fiscal.
Há alguma restrição a alguém do PT?
Não. Nem há também a necessidade de que seja alguém do
PT. Pode ser do PT ou de qualquer partido da base.
Algumas pessoas dizem que o PT tem postura dúbia:
quando as acusações são de corrupção feita “em nome do partido”, há um
acolhimento do acusado; quando é por atos privados, há um abandono.
A nota que Rui Falcão soltou tem caráter eminentemente
partidário e responde à percepção daquele momento. Se houver qualquer
consideração diferente, ele pode reavaliar. A nota deixou claro que não havia
nenhum assunto partidário sendo tratado.
Nenhum petista, nem o Rui Falcão, trabalha com a
lógica de julgá-lo (Delcídio) por essas atitudes sem que ele tenha o direito de
defesa.
É claro que o que veio à tona é grave, mas é preciso que se tenha o
contraditório.
Mas a nota criou um constrangimento para a bancada,
que votou para tirá-lo da prisão?
Não, porque a nota não condena Delcídio. Ela
simplesmente esclarece a natureza da relação com o partido. Os assuntos de
caráter partidários não devem, necessariamente, condicionar os votos dos
parlamentares.
Os parlamentares estavam apreciando não uma questão individual
de Delcídio, mas se a decisão do Supremo feria prerrogativa do Parlamento, que
é a inviolabilidade do mandato. Em nenhum momento eles julgaram se Delcídio é
culpado ou inocente.
Pode ter aberto um precedente perigoso para o
Congresso?
É um debate muito difícil de fazer. De um lado, estava
todo mundo chocado com a degravação, mas, por outro, há necessidade de ser
muito vigilante com a prerrogativa parlamentar. O debate foi muito duro.
Fonte: G1 – DF.
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