Em outubro, arrecadação registrou queda de 11,33%, para R$ 103 bilhões.
Nos dez primeiros meses do ano, somou R$ 1 trilhão - queda real de 4,54%.
Em meio a um cenário econômico complicado, com a
economia brasileira em recessão e queda no faturamento das empresas e nas
vendas ao consumidor, a arrecadação federal segue em terreno negativo, segundo
números divulgados pela Secretaria da Receita Federal nesta terça-feira (17).
Em outubro, de acordo com dados oficiais, o governo
arrecadou, em impostos e contribuições federais, além das "demais
receitas", R$ 103,53 bilhões – uma queda real de 11,33% sobre o mesmo mês
de 2014. É também o pior valor para meses de outubro desde 2009, quando chegou
a R$ 103,35 bilhões.
No acumulado dos dez primeiros meses deste ano, a
arrecadação somou R$ 1 trilhão. Mesmo assim, registrou um recuo real (após o
abatimento da inflação) de 4,54% frente ao mesmo período do ano passado. Este
foi o pior resultado para este período desde 2010, informou a Receita Federal.
De acordo com dados do Fisco, a arrecadação refletiu,
nos acumulado deste ano, o baixo nível de atividade econômica. De janeiro a
outubro, produção industrial recuou 6,84%, as vendas de bens e serviços caíram
6,76% e o valor em dólar das importações recuou 25,94%, apesar do aumento de
4,57% na massa salarial.
"O comportamento da arrecadação em outubro e no
período acumulado do ano reflete o desempenho negativo da atividade econômica.
Todos indicadores econômicos estão apontando para trajetória negativa e esse
viés negativo se reflete na arrecadação. A contração da atividade econômica
está afetando todas as empresas. A gente não vê nenhum grupo de empresas que
não esteja sendo afetado", avaliou o chefe do Centro de Estudos
Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias.
Os números do órgão mostram que o recuo da
arrecadação, em 2015, aconteceu apesar de receitas extras, neste ano, de R$
13,1 bilhões (R$ 4,6 bilhões de transferência de ativos entre empresas, R$ 1
bilhão de remessas para residentes no exterior e R$ 7,5 bilhões pela
recuperação de débitos em atraso). Em igual período do ano passado, as receitas
extraordinárias haviam somado R$ 8,76 bilhões.
O governo também informou que a arrecadação também se
ressente, em 2015, das desonerações de tributos feitas nos últimos anos parcialmente
revertidas, em alguns casos. De acordo com informações da Receita Federal, as
reduções de tributos realizadas nos últimos anos tiveram impacto de queda na
arrecadação de R$ 87,44 bilhões nos dez primeiros meses de 2015, contra R$
80,48 bilhões no mesmo período do ano passado.
Arrecadação de janeiro a outubro.
Segundo Malaquias, da Receita Federal, algumas
desonerações, que estavam previstas para serem revertidas parcialmente neste ano,
como a da folha de pagamento, só vai entrar em vigor no ano que vem. "O
que representaria acréscimo de receita só vai ser verificado ano que vem",
explicou ele.
O governo, entretanto, começou a aumentar impostos em
2015, como parte do ajuste fiscal para tentar reequilibrar as contas públicas.
Neste ano, o governo já subiu tributos sobre empréstimos, carros, cosméticos,
cerveja, vinhos, destilados, refrigerantes, bancos, receitas financeiras das
empresas, taxas de fiscalização de serviços públicos, gasolina, importações, e exportações
de manufaturados, entre outros. A maior parte destes aumentos já está valendo.
Arrecadação por tributos.
A Receita Federal informou que o Imposto de Renda
arrecadou R$ 274 bilhões de janeiro a outubro deste ano, com queda real de 3%
sobre o mesmo período do ano passado (R$ 283 bilhões). Os números foram
corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a
inflação oficial.
No caso do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a
arrecadação somou R$ 103,8 bilhões de janeiro a outubro, com queda real de
12,69% sobre o mesmo período ano anterior.
Sobre o IR das pessoas físicas, o valor arrecadado
totalizou R$ 25,66 bilhões na parcial de 2015, com recuo real de 6,3%. Já o
Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) arrecadou R$ 145,27 bilhões nos
primeiros dez meses do ano, com alta real de 6% sobre igual período de 2014.
No caso do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF),
houve uma alta real de 8,99%, para R$ 29,52 bilhões, de janeiro a outubro deste
ano. Neste caso, a arrecadação foi influenciada pela alta do tributo, que já
foi recomposto no início deste ano.
A Contribuição para Financiamento da
Seguridade Social (COFINS), por sua vez, arrecadou R$ 172,5 bilhões nos dez
primeiros meses deste ano, com queda real de 3,64%, enquanto a Contribuição
Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) registrou arrecadação de R$ 55,68 bilhões
no acumulado de 2015, com recuo real de 12,70%.
O fraco comportamento da arrecadação neste ano, apesar
do aumento de tributos autorizado pelo governo no começo de 2015, não tem
facilitado o cumprimento da meta de superávit primário (a economia para pagar
juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda) em 2015.
Recentemente, o governo enviou ofício ao Congresso Nacional para reduzir a meta
fiscal de 2015.
Inicialmente, a meta foi fixada pela equipe econômica
em R$ 66,3 bilhões para todo o setor público (governo, estados, municípios e
empresas estatais) em 2015. Em julho, porém, o governo anunciou que a meta foi
reduzida para 0,15% do PIB, ou R$ 8,74 bilhões e, no mês passado, anunciou que
as contas deverão ter novo rombo neste ano, de R$ 48,9 bilhões, sem contar as
chamadas "pedaladas" e a eventual frustração de receitas com leilão
de hidrelétricas.
Neste ano, além de aumentar tributos, para tentar
cumprir a meta fiscal, o governo também atuou na limitação de benefícios
sociais, como o seguro-desemprego, o auxílio-doença, o abono salarial e a
pensão por morte, medidas já aprovadas pelo Congresso Nacional e sancionadas
pela presidente da República. Além disso, também elevou tributos sobre a folha
de pagamentos, com impacto somente em 2016, revertendo parcialmente a
desoneração autorizada nos últimos anos.
O governo também está atuando do lado
da contenção de gastos, principalmente de investimentos. Em maio, foi anunciado
um bloqueio de R$ 69,9 bilhões em recursos do orçamento de 2015 e, em julho, a
equipe econômica informou que foi autorizado um bloqueio adicional de R$ 8,6
bilhões nos gastos dos ministérios. Para 2016, defende ainda a retomada da
CPMF.
Fonte: G1 – DF.
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