COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
FRENTE DO FISIOLOGISMO.
Nobres:
Como sempre foi o PMDB, (dividido em várias frentes e
ao mesmo tempo, homogêneo, em se tratando em preservar seus interesses de
acordo com a conveniência presentemente). No ensejo o “partido” divulgou um
documento do partido sob o título de “Uma ponte para o futuro”, uma espécie de
diretriz para um programa de governo. Trata-se de estratégia do partido para se
distanciar da política econômica adotada pelo governo Dilma e anunciar as
linhas de uma eventual candidatura própria à Presidência em 2018. No documento,
o PMDB condena claramente os pilares do modelo assumido nos dois mandatos de
Dilma Rousseff e, de forma surpreendente, rompe com seu próprio passado de
partido nacionalista, estatizante e intervencionista, para assumir idéias e
políticas liberais. As críticas ao modelo adotado pelo PT, inclusive condenando
certas práticas adotadas nos dois mandatos de Lula, são amplas, profundas e não
deixam margem a dúvidas. O documento reconhece que o mundo mudou e que o país
precisa se inserir no contexto internacional, aderir à globalização, atrair
investimentos estrangeiros, der segurança jurídica aos investidores
internacionais, estimular os negócios privados, buscar acordos comerciais com o
mundo desenvolvido e criar condições para os negócios privados e os
investimentos empresariais em todos os setores da economia, inclusive na
infraestrutura. O partido reconhece que o velho modelo estatizante praticado na
América Latina faliu mais uma vez. Ao contrário
do que pregavam caciques do partido no passado, com base nas idéias de
economistas da Universidade de Campinas cujo viés era nitidamente estatizante,
intervencionista e adepto de déficits orçamentários, o documento dá uma guinada
ampla: propõe austeridade fiscal, equilíbrio das finanças públicas, ajustes nas
contas atuais e controle da dívida pública; e condena novos aumentos de impostos.
A quem deve lembrar, no tempo do Plano Cruzado implantado em fevereiro de 1986
pelo presidente José Sarney, do PMDB, os economistas do partido apareciam na
televisão defendendo mais gasto público e diziam com todas as letras que o
déficit fiscal não era importante, enquanto propunham expansão da estatização e
controle das atividades privadas, em particular com os congelamentos de preços
que ficaram famosos nos anos 80. O mais surpreendente no documento do PMDB é a
informação clara de que o país precisa retomar a privatização de atividades
empresariais sob o controle do Estado, rever o modelo de partilha adotado na
exploração do pré-sal e fazer reformas na Previdência Social, inclusive
propondo idade mínima de aposentadoria pelo INSS de 65 anos para homens e 60
para as mulheres. O partido dá uma forte guinada liberal e reconhece que o
velho modelo estatizante, intervencionista, antiempresarial e protecionista
praticado na América Latina faliu mais uma vez e não é mais solução alguma para
o atraso e a pobreza. O PMDB nunca foi um partido nitidamente marxista, mas
sempre professou um ideário estatizante, intervencionista e antiglobalização,
com viés de forte tutela sobre a sociedade, e seus líderes mais proeminentes em
geral vinham de origem socialista. Em alguns momentos da vida nacional, o
partido ensaiou reconhecer que tanto o socialismo marxista quanto o modelo
excessivo estatal não eram soluções viáveis. Agora, na forma de um documento a
ser aprovado na reunião do próximo dia 17 de novembro, o partido adota a mesma
postura e faz profissão de fé em um modelo econômico moderno, liberal,
internacionalista e menos estatizante. O problema do PMDB não está no teor das
teses professadas no documento, mas sim em convencer a sociedade de que o
partido entendeu que a realidade atual do Brasil e do mundo é outra, que é
preciso adotar um modelo de mais liberdade econômica e mais abertura e que não
está blefando apenas em busca de uma chance real de chegar à Presidência com
candidatura própria. Esse trabalho de convencimento é duro especialmente pelo
fato de o documento certamente não ser consenso nem mesmo dentro da legenda, ou
alguém imagina um Roberto Requião aderindo ao ideário nele proposto? O PMDB é
um dos dois maiores partidos do país, está sempre no poder, mas nunca conseguiu
eleger um presidente da República em eleições diretas. Se o documento divulgado
pelo PMDB for para valer, o partido entendeu que não pode ser algo parecido uma
hora com o PT, outra hora com o PSDB, e partiu para tentar algo que o Brasil
nunca foi: um país de estrutura econômica liberal a favor de um modelo
capitalista moderno, sem perder a preocupação social. É puro fisiologismo.
Antônio
Scarcela Jorge.
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