COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
Nobres:
Não obstante da gravidade do quadro econômico e do
empobrecimento real, o país vive uma fase de inércia econômica que pode
comprometer seriamente o desempenho da economia em 2016, ano em que a população
aumentará novamente em um milhão e seiscentos mil habitantes. Se o PIB de 2016
não se recuperar, o empobrecimento prosseguirá e poderá passar a barreira dos
5% da renda nacional. Para a maior parte da população, esses números todos
podem não ser bem compreendidos em sua ordem de grandeza, mas muitos são os
economistas e especialistas alarmados com a deterioração da situação social
derivada da realidade econômica. O Brasil é tolerante demais com os problemas e
lento demais em enfrentar suas próprias tragédias. Apesar do péssimo cenário,
há uma inércia econômica geral, em parte provocada pela crise política e pela
destruição da ética pública; a Operação Lava Jato, ao contrário do que pessoas
próximas ao governo alegam, não é causa do problema, mas meramente a exposição
escancarada da nossa crise moral. A inércia começa com o envio ao parlamento de
proposta orçamentária para 2016 com déficit primário de R$ 30,5 bilhões, cuja
solução foi transferida pelo Executivo aos parlamentares, que estão paralisados
ante a falta de saída. O que a presidente Dilma pretendia com essa manobra
“maquiavélica” era levar o parlamento a aprovar aumento de alguns impostos e a
recriar a CPMF. Porém, dada a dificuldade de carregar a população com mais
tributos, o que seria gravíssimo diante do empobrecimento real médio, ninguém
sabe qual será o orçamento federal para 2016. O governo da União acenou com uma
reforma administrativa para reduzir gastos e melhorar a eficiência da máquina
estatal, divulgou alterações tímidas na composição dos ministérios e
secretarias, e afirmou que seriam diminuídos os custos com a burocracia
estatal. Infelizmente, mais uma vez, o barulho foi maior que os ganhos reais. A
economia de dinheiro com as mudanças é desprezível e incapaz de contribuir
significativamente para reduzir o déficit orçamentário. Nem o governo nem o
parlamento demonstram saber o que fazer, e ainda desconhecemos com que regras
devem planejar as nossas vidas e seus negócios, fazendo que o ambiente de
incerteza seja mais um desestímulo aos negócios e aos investimentos
privados. Tem se revelado bastante
pequena a capacidade do sistema político brasileiro, especialmente os poderes
Legislativo e Executivo, em compreender os aspectos técnicos da crise, adquirir
a convicção de sua gravidade e adotar a ação política necessária para tirar a
nação do caos em que se encontra. Prova da inércia está, também, na falta de
solução estrutural para a crise financeira das duas previdências sociais, a dos
servidores públicos e da dos trabalhadores privados, e o descaso com que é
tratada a constatação de que o Brasil continua em último lugar de
competitividade entre os países do G20. Apenas esses problemas deveriam ser
suficientes para provocar ampla mobilização política dos representantes do povo
no governo e no parlamento e tirá-los do letargo em que se encontram.
Infelizmente, ao contrário das nações desenvolvidas, o Brasil é tolerante
demais com os problemas e lento demais em enfrentar suas próprias tragédias.
Antônio
Scarcela Jorge.
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