COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
O ESPERADO IMPEACHMENT.
Nobres:
O povo brasileiro aguarda até com certa resignação a
hora do impeachment da presidente Dilma Rousseff por razões obvias. Esta demora
é em função de possíveis acordos entre os presidentes da Câmara e do Senado,
nefastos titulares comprometidos respectivamente até a alma com ações de
ladroagem promovidas no cenário “arrepiante” que ora passa o país. Dentro deste
contexto imundo da política é deveras agravante o somatório que envolve O
lulopetismo, que está prestes a completar 13 anos no Palácio do Planalto,
implodiu o Brasil. O PT recebeu um país cuja economia mal completara o trabalho
de estabilização e, em vez de consolidá-lo, resolveu que o tripé macroeconômico
dividiria espaço com uma política econômica baseada em muito consumo e pouco
investimento; por fim, o tripé foi abandonado com a adoção da “nova matriz
econômica” e a manutenção dos estímulos ao consumo. Os resultados aparecem
agora: recessão, inflação e desemprego. O surgimento da “nova classe média” tão
celebrada pelo petismo começou a se reverter. A consultoria Tendências estima
que, de 2015 a 2017, 3,1 milhões de famílias da “nova classe C” devem cair para
as classes D e É; - é quase a anulação da ascensão social verificada entre 2006
e 2012, quando 3,3 milhões de famílias das classes D e É - subiram degraus. No
campo moral, o petismo consagrou a noção de que os fins justificam os meios.
Mensaleiros condenados são aclamados como “guerreiros do povo brasileiro”
porque, no fim, tudo o que fizeram foi trabalhar pelo partido. Antigos inimigos
com invejável folha corrida viraram amigos do peito. No campo institucional,
fez-se o que foi possível para aparelhar o que estivesse pela frente, em alguns
casos com conseqüências trágicas para os trabalhadores, como na administração
temerária dos fundos de pensão de estatais. Além disso, as lideranças petistas
não perderam nenhuma oportunidade de atacar a liberdade de imprensa. No campo
diplomático, o lulopetismo fez do Brasil aliado incondicional do que há de pior
na América Latina e transformou o país em adversário do livre comércio. A
“preservação da estabilidade” traria consigo o risco moral de premiar
governantes, ainda que cometessem crimes de responsabilidade. Incompetência
generalizada, economia em frangalhos, popularidade em queda livre, alinhamentos
ideológicos nocivos, nada disso, no entanto, é causa para a remoção de um presidente
da República de seu cargo. A legislação brasileira exige atos muito concretos
de um chefe do Executivo para o impeachment. E, em nossa opinião, esses
elementos estão, sim, presentes nas ações de Dilma Rousseff. Podemos começar
como as “pedaladas fiscais”, apenas uma das irregularidades apontadas pelo TCU,
que no início de outubro recomendou ao Congresso que rejeitasse as contas de
2014 de Dilma. O pior, o Ministério da Fazenda informou ao Congresso Nacional
que pagaria, neste ano, R$ 57 bilhões para quitar as “pedaladas”, em uma
admissão implícita do mau uso dos bancos estatais. Isso sem falar das
maquiagens orçamentárias que ganharam o sugestivo nome de “criatividade
contábil”. Nunca antes na história deste país houve uma falsificação global em
larga escala da realidade econômica da nação. Mas os elementos que nos permitem
concluir que Dilma cometeu crime de responsabilidade não param por aí. A
pilhagem da Petrobras é obra de um grupo que já atuava na estatal desde a época
em que Dilma, ainda ministra de Lula, presidia o Conselho de Administração da
empresa. Impossível acreditar que, já na presidência da República, ela
ignorasse o que se passava nas diretorias da estatal. Ainda que não tenha se
beneficiado nem participado da roubalheira, ela prevaricou ao não agir com
firmeza para promover uma limpeza que era urgente. Se colocarmos a saída de
Eduardo Cunha em primeiro lugar na lista de prioridades, não o fizemos por
considerar seus erros mais graves que os de Dilma. A realidade é justamente a
oposta: a presidente da República tem prejudicado muito mais o país que o
presidente da Câmara. Mas Cunha já demonstrou que vê o impeachment apenas como
um brinquedo para chantagear o Planalto. Falta-lhe a seriedade necessária para
cuidar do assunto. Daí a necessidade de sua substituição por um parlamentar com
respaldo e autoridade moral que, além de devolver dinamismo ao Legislativo,
trate o impeachment não de forma oportunista, mas analisando fatos e
argumentos. Não se trata aqui de acreditar, ingenuamente, que o dia seguinte a
um eventual impeachment de Dilma e à saída de Eduardo Cunha do comando da
Câmara será o início de uma nova fase para o Brasil. Ambos a personalização de
uma série de problemas que persistirão mesmo que eles se tornem cartas fora do
baralho. Mas o combate a esses problemas será facilitado se os principais
cargos do Executivo e do Legislativo não forem ocupados por infratores. Também
não compartilhamos da crença de que é melhor manter o statu quo em nome
de uma suposta estabilidade, ou mesmo pela falta de quem encarne o discurso. A
própria situação atual já mostra que, se há algo estável no país hoje, é nossa
paralisia ou, dependendo do ponto de vista da nossa velocidade rumo ao abismo.
Só haveria uma situação em que se poderia considerar deixar de fazer o que deve
ser feito: no caso em que a alternativa fosse claramente pior. Mas não é este o
caso e, assim, essa “preservação da estabilidade” traria consigo o risco moral
de premiar governantes, ainda que cometessem crimes de responsabilidade. E esta
é a pior mensagem que se poderia passar ao país neste momento.
Antônio
Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário