As investigações do Ministério Público suíço sobre contas suspeitas de movimentarem dinheiro obtido no esquema de corrupção na Petrobras.
As investigações ainda não foram encerradas, mas o
órgão já afirma que o centro financeiro do país foi seriamente afetado pelo
escândalo.
A apuração da operação Lava Jato no Brasil sobre a
corrupção na estatal chegaram a contas suspeitas no exterior, grande parte
delas na Suíça.
Mas qual é a dimensão do impacto do escândalo
brasileiro sobre o sistema financeiro suíço?
Procurado pela reportagem, o Ministério Público em
Berna diz que o escândalo gerou denúncias de lavagem de dinheiro em níveis
"muito acima da média" e que isso desencadeou extensas investigações
- que ainda estão em andamento.
"Os resultados iniciais das investigações
indicaram que o sistema financeiro da Suíça foi seriamente afetado pelo
escândalo, uma vez que diversas pessoas e companhias que já foram indiciadas e
condenadas no Brasil conduziam transações suspeitas envolvendo contas na
Suíça", afirmou a porta-voz Walburga Bur.
Nesta semana, a agência reguladora do mercado
financeiro suíço, FINMA, anunciou ter aberto investigações contra três bancos
que não observaram as práticas de combate à lavagem de dinheiro em contas
relacionadas ao escândalo da Petrobras.
As investigações são resultado de um amplo
levantamento que vinha sendo feito com diversas instituições financeiras
ligadas aos correntistas monitorados pelo MP suíço.
Não foram divulgados os nomes das três instituições
financeiras que estão sob investigação desde setembro.
"Em alguns bancos os esclarecimentos preliminares
ainda não foram concluídos", ressaltou à BBC Brasil Tobias Lux,
representante da FINMA.
De acordo com Lux, a diligência busca estabelecer até
que ponto esses bancos estão envolvidas no caso e como resguardaram, ou não, as
resoluções de vigilância financeira.
Se ficar comprovado que os bancos agiram
incorretamente, eles poderão sofrer sanções que incluem reestruturações
compulsórias, confisco de valores, revogação da licença de operação e, em
última instância, a liquidação.
A notícia da investigação foi dada com destaque pela
imprensa local. Um dos principais jornais do país, a Neue Zürcher Zeitung ,
disse que as investigações do escândalo brasileiro colocam a Suíça sob
"forte pressão" e representam "um alto risco à reputação"
do país , ecoando preocupações do MP.
Extensão das irregularidades.
Em março foi divulgado que pelo menos 30 bancos suíços
tinham contas investigadas pela Lava Jato. Essas contas, que totalizavam US$
400 milhões (R$ 1,5 bilhão), foram congeladas.
O MP se negou a divulgar dados atualizados, mas
confirmou que o número de contas e bancos investigados aumentou.
A título de referência, em 2014, o MROS (Money Laundry
Report Office Switzerland), departamento que recebe denúncias de lavagem de
dinheiro, contabilizou cerca de US$ 3 bilhões (R$ 11,3 bilhões) em ativos
ilegais reportados.
A reportagem sondou o MROS sobre a existência de dados
específicos sobre Brasil, mas o órgão disse não organizar estatísticas por
países. Consta, entretanto, que 60 denúncias enviadas ao MP ligadas à Petrobras
desencadearam a onda de investigação atual.
Problema sistêmico.
Para Maximilian Heywood, da ONG anticorrupção Transparência
Internacional, o impacto do escândalo brasileiro na Suíça "é mais um
exemplo das múltiplas falhas de prevenção à lavagem de dinheiro no setor
financeiro".
"Assim como no caso da FIFA, o que nós vemos aqui
é evidência de múltiplas transações, espalhadas em diversos bancos por um longo
período de tempo", diz. "Sim, há sem sombras de dúvida
vulnerabilidades sistêmicas”, afirmou.
A representante da Associação dos Bancos Suíços, Sindy
Schmiegel, interpreta o impacto do escândalo brasileiro sob um outro viés.
"Prefiro tomar isso como exemplo de que o sistema funciona", defende.
"Não se tratam de falhas endêmicas, mas sim de
provas de que o sistema responde, pois os casos foram devidamente reportados e
esperamos agora que a FINMA aja", reforçou.
Apesar de não estipular prazo para encerrar as
investigações, a agência supervisora prometeu emitir um relatório quando
concluir o trabalho.
O trabalho do Ministério Público, por sua vez, também
não dá sinais de arrefecimento.
"Ao conduzir essas investigações, o Procurador
Geral da Suíça está cumprindo seu dever de combater a corrupção internacional e
proteger o centro financeiro suíço, que está exposto a altos riscos de
reputação em incidentes desse tipo", disse a porta-voz Walburga Bur.
Fonte: BBC – Brasil e Suíça.
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