Pronunciamento, que seria nesta quinta-feira, não tem data para ocorrer.
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Disposta a
não declarar apoio formal a Aécio Neves (PSDB) antes que o tucano faça um gesto
de compromisso com bandeiras de esquerda como O
GLOBO mostrou em sua edição desta quinta-feira, a terceira colocada na eleição presidencial, Marina Silva, decidiu
cancelar o pronunciamento que faria nesta quinta, em Brasília.
Inicialmente, foi anunciado um encontro
no Rio de Janeiro para amanhã, mas a
Rede reavaliou e decidiu enviar por e-mail a Aécio Neves, às 14h50, um
documento com as propostas do partido, para que sejam incorporadas ao programa
do tucano, e para que o apoio da Rede a Aécio seja sacramentado. A Rede, agora,
vai aguardar sinalização do presidenciável para a incorporação desses programas.
Na quarta-feira, Marina chegou a visitar o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso para tratar da aliança no segundo turno, mas a formalização do apoio
ainda está distante. O encontro aconteceu no apartamento de FH em São Paulo e
foi confirmado por Walter Feldman, que coordenou a campanha da ex-senadora.
Marina decidiu desistir de fazer
uma declaração sobre o seu posicionamento no segundo turno da eleição nesta
quainta-feira porque não teria muito que anunciar. A candidata derrotada só vai
se manifestar em favor de Aécio Neves se ele fizer um gesto que indique o seu
compromisso com pautas tidas pelos marineiros como “de esquerda”, como a
reforma agrária, a não alteração das leis do trabalho no campo e os programas
sociais.
Esse compromisso não teria que
ser assumido com a própria ex-senadora, mas sim com os movimentos. A
presidenciável derrotada iria dizer nesta quinta-feira que não estará com
Dilma, quer mudança, mas sem se declarar de forma clara em favor da Aécio. A
fala seria um gesto para indicar a abertura para o diálogo. Mas os marineiros
avaliaram que as manifestações dos partidos da aliança em favor do tucano já
cumpriram esse papel. A ida do tucano à reunião do PSB na quarta-feira, que não
fazia parte do acordo firmado com os partidos aliados, também contribuiu para
que Marina desistisse de ir a Brasília. Ela quer evitar a todo custo aparecer
ao lado de Aécio antes que ela assuma os compromissos.
Um dos pontos considerados
fundamentais pelos marineiros seria um compromisso de Aécio em não permitir a
terceirização da mão de obra no setor agrícola, como defendem os ruralistas.
Essa flexibilização, na visão dos aliados de Marina, poderia permitir a
expansão da exploração do trabalho escravo.
Segundo Feldman, a pessebista
resolveu ficar em São Paulo para não tirar o protagonismo dos partidos. Desde o
resultado do primeiro turno na noite de domingo, Marina sinalizou que apoiará o
rival de Dilma, Aécio Neves. Questionado sobre o teor da conversa da ex-senadora
com o ex-presidente Fernando Henrique, Feldman foi taxativo: - “nunca
saberemos”. Ele afirmou que embora ainda não tenha sido aberta uma negociação
com Aécio em torno de programas, há uma expectativa de que o tucano tome a
iniciativa de incorporar a agenda de Marina em sua campanha.
- Nós não temos nenhuma linha de
negociação de programa com o Aécio. O que nós temos é uma sugestão programática
para qualificar o debate. E, como não estamos em hipótese alguma apoiando a
candidatura Dilma, sugerimos que o Aécio interprete, eventualmente incorpore.
Isso será sua própria iniciativa.
De acordo com ele, há setores na
Rede que condena a polarização entre o PT e o PSDB, por isso são contra
qualquer um dos dois candidatos que concorrem. Mas é possível que Marina feche
uma decisão pessoal, ainda que não haja um consenso entre todos os setores da
Rede e os demais partidos que fizeram parte de sua chapa.
‑ A Rede interpreta que a
população majoritária do Brasil é contra o atual governo. Portanto, nenhum tipo
de aproximação ou apoio à presidente Dilma. É uma manifestação forte, segura e
absolutamente consensual. Segundo, considera aqueles que tem a posição de
mudança. E analisa que na posição de mudança tem o voto em Aécio, o voto branco
e o voto nulo.
Feldman voltou a dizer que na
Rede, partido que Marina tentou criar ano passado, há um consenso de que a
população manifestou nas ruas ser contra o governo da presidente Dilma
Rousseff.
- Ela (Marina) tem a liberdade
para fazer sua própria síntese. É isso que nós vamos possivelmente receber hoje
e no máximo amanhã, disse Feldman.
O interlocutor de Marina afirmou
que ela foi procurada por Fernando Henrique Cardoso ontem e que ele contou que
estava adoentado. Marina então resolveu fazer uma vista “protocolar” ao tucano.
Feldman disse que ainda não houve conversas com Aécio sobre a agenda
programática que Marina tem a apresentar.
Em nota, a Rede Sustentabilidade
afirmou em nota que “se manterá vigilante e independente em relação ao próximo
governo”. “O resultado do primeiro turno tornou evidente que a maioria da
sociedade não aprova o atual governo e que não quer sua continuidade. Revelou
também que esse desejo de mudança foi tragado para dentro da velha polarização
PT x PSDB e aprisionado nos limites de uma estrutura política em crise
profunda”, diz o texto. A Rede alega que “nenhum dos caminhos aponta para uma
saída política de profundidade” e ressalta que “ao mesmo tempo em que saúda e
respeita o desejo de mudança, tem o dever de reconhecer que a sociedade
brasileira não encontrou ainda o caminho”. A nota ainda diz que o grupo vai
manter uma postura de independência em relação ao próximo governo.
Ontem, a maioria da Executiva Nacional do
PSB decidiu apoiar o candidato do PSDB no segundo turno da disputa presidencial. Por outro lado, ficarão liberadas
as alianças nos estados em que há segundo turno para governador. Após a
decisão, o tucano participou do anúncio do PSB de apoio à sua candidatura.
Fonte: Agência O Globo.
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