Meire Poza enumera quatro empreendimentos que abasteceram empresa de
Youssef; ela também citou contatos dele com ex-ministro Mário Negromonte,
Roseana Sarney e assessor de Candido Vaccarezza.
FOTO: RENAN CALHEIROS - O NOVO PATRONO DA CORRUPÇÃO.
BRASÍLIA - A contadora Meire
Pôza, que trabalhou para Alberto Youssef, afirmou que o doleiro se reuniu com o <presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para acertar investimentos do
fundo Postalis, dos Correios, em uma empresa de Youssef. O encontro ocorreu em
12 de março deste ano, cinco dias antes da prisão do doleiro, conforme a
contadora afirmou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista
da Petrobras nesta quarta-feira.

Eu estive com Youssef no café da
manhã no dia 14. Ele afirmou ter vindo a Brasília dois dias antes e ter
resolvido com o PT a aprovação da operação. Ele também disse ter conversado com
Renan para acertar a ponta que era do PMDB e que até o fim do mês a operação
com o Postalis iria sair. Não saiu porque Youssef foi preso, afirmou Meire.

No depoimento, Meire afirmou que
parlamentares do PT e do PMDB fizeram as negociações pelos aportes dos fundos
Postalis, dos Correios, e Funcef, da Caixa Econômica Federal (CEF), mediante
uma suposta partilha de comissões com integrantes dos dois partidos. Pelo PT,
as negociações teriam sido conduzidas pelo deputado federal André Vargas (sem
partido-PR). A proximidade e negócios conjuntos do deputado com o doleiro já
foram citados nas investigações da Lava-Jato.
A FUNCEF, em nota, esclarece que
a acusação feita nesta quarta é "velha e surgiu pela primeira vez em abril
deste ano". A nota diz que o Fundo de Pensão não teve ou tem qualquer
investimento nos negócios de Alberto Youssef.
Íntegra da nota:
"O Diretor Carlos Borges não
conhecia o Sr. Alberto Youssef, mas o recebeu na qualidade de empresário, a
pedido do Deputado André Vargas. No encontro, o empresário apresentou proposta
de investimento à FUNCEF. Entretanto, identificamos que o investimento proposto
não se adequava à política de investimentos da Fundação, momento em que foi
prontamente descartado. Faz parte da rotina e atribuições dos Diretores,
Gestores e Técnicos da Fundação atender gestores, empresários, consultores e
técnicos de empresas e bancos para apresentarem seu portfólio de produtos e
projetos para análises e possíveis parcerias com a Fundação. Este processo é
disciplinado por normativos internos e legais que envolvem criteriosas
avaliações econômico-financeiras, riscos, conformidade, jurídica, estratégia e
governança, com emissão de pareceres técnicos das diversas áreas da Fundação e
amplo processo negocial que suportam deliberação pelos órgãos estatutários da
FUNCEF. A FUNCEF não tem parceria, negócios ou está analisando qualquer projeto
com empresas vinculadas ao Sr. Alberto Youssef. O Diretor Carlos Borges conhece
o Deputado André Vargas em razão das funções institucionais que ambos
exercem."
Em nota, a assessoria do Senador
Renan Calheiros afirma que “não conhece a pessoa mencionada no noticiário como
‘doleiro Alberto Youssef e que só soube da existência do mesmo após as informações
publicadas pelos jornais”. Ainda segundo nota, Renan "nunca esteve,
agendou conversas e nunca ouviu falar de Alberto Youssef e de sua
contadora".
O valor dos aportes dos fundos de
pensão, ainda segundo o depoimento, seria de R$ 50 milhões.“Corretores” intermediários
que fariam o dinheiro chegar aos partidos ficaria com 10%.
A contadora também citou no
depoimento à CPI uma suposta participação da governadora do Maranhão, Roseana
Sarney (PMDB), no recebimento de propina por conta do pagamento de precatórios
do governo do estado à Constran. Meire afirmou ter se reunido, juntamente com
Youssef, com o então secretário da Casa Civil do Maranhão, João Guilherme
Abreu. O interesse da Constran era receber R$ 123 milhões em precatórios.
Segundo a contadora, ficou
acertado o pagamento de propina de R$ 6 milhões, por conta de um acerto para
parcelamento dos precatórios em 24 vezes. Uma das remessas foi levada por
Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte. O valor
foi de R$ 300 mil. A pessoa que recebeu o dinheiro teria reclamado da quantia e
consultado a governadora Roseana se o montante deveria ser recebido.
Adarico esteve no meu escritório
depois da prisão do Alberto. Ele disse que foi ao Maranhão levar o dinheiro e
que a pessoa afirmou que era pouco. Ela então teria entrado em contato com a
governadora para saber se ela concordaria em receber os R$ 300 mil, e ela teria
concordado — disse a contadora.
VACAREZZA TAMBÉM É CITADO
Meire afirmou ainda ter sido
procurada por um assessor do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), João Lima,
para operar investimentos do Igeprev, instituto de previdência do governo de
Tocantins. Segundo o que o assessor teria relatado à contadora, “eles
precisavam da comissão para pagar dívida de campanha’.
Naquela ocasião, segundo Meire,
não havia qualquer relação com os negócios de Youssef. Posteriormente é que
houve um aporte de R$ 13 milhões do Igeprev nas empresas do doleiro. Ela negou
ter sido procurada diretamente pelo deputado.
Não sei se João Lima pagou dívida
de campanha. O que sei é que esses mesmos personagens fizeram a operação dos R$
13 milhões do Igeprev. Como são os mesmos personagens, posso supor que o
assessor de Vaccarezza tenha participado dessa intermediação entre o fundo de
Youssef e o Igeprev — afirmou.
O deputado Cândido Vaccarezza
nega qualquer participação em operações de investimento do Igeprev ou uso de
dinheiro para quitar dívidas de campanha:
– Eu nunca pronunciei esse nome,
Igeprev. E essa contadora nunca teve contato comigo, ela própria disse isso.
João Lima foi assessor da liderança do governo por um pequeno período de tempo.
O que sobrou de dinheiro da campanha passada eu devolvi ao partido. E não tive
dívida de campanha.
YOUSSEF TERIA CONTATOS COM EX-MINISTRO
A contadora contou também que o
ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte, mantinha contatos com o doleiro, e
chegou a orientá-lo sobre a compra de uma empresa de controle de monitoramento
de veículos em Goiânia. Negromonte, que renunciou ao cargo de deputado federal
para assumir o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM)
da Bahia em junho deste ano, foi ministro da presidente Dilma Rousseff, entre
fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012.
O ex-ministro era visto com o
doleiro num restaurante em São Paulo comprado por Youssef, segundo a contadora.
De acordo com Meire, Negromonte indicou a doleiro a compra da empresa de
monitoramento, pois haveria a aprovação do Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran). O Denatran é vinculado ao Ministério das Cidades. O irmão do
ex-ministro, Adarico Negromonte, foi citado pela contadora como responsável por
transportar o dinheiro das empresas do doleiro.
Em nota, Mário Negromonte diz que
nunca teve relação de negócios com a empresa ou as pessoas citadas pela
contadora. Negromonte declara ainda que Meire está a serviço "de pessoas
que tiveram seus interesses contrariados", e que o depoimento dado nesta
quarta foi "irresponsável" e sem provas.
"Nunca tratei deste assunto
do sistema de bloqueadores de veículos fora do Ministério das Cidades e quando
foi tratado no Ministério, estavam presentes técnicos do Denatran, do Ministério
e representantes da Anfavea", afirma o ex-ministro da pasta. "Nunca
tive relação de negócios de qualquer natureza com a empresa e as pessoas
citadas pela contadora", diz.
QUATRO EMPRESAS SERIAM CLIENTES

Meire Poza afirmou não ter
“informações diretas” sobre os contratos das empreiteiras com a Petrobras. Ela
disse ser possível, no entanto, que o doleiro tenha presenteado outros
servidores da estatal, além do ex-diretor Paulo Roberto Costa.
Costa ganhou uma Land Rover de
presente do doleiro. Meire também confirmou que Youssef deu um helicóptero ao
deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA), no valor de R$ 800 mil. Ainda segundo a
contadora, o doleiro presentou uma amante com apartamentos e restaurantes, de
nome Taiana. Quebras de sigilos telefônicos mostram diversas conversas entre
Youssef e Taiana de Sousa Camargo, que trabalhou no gabinete da deputada
federal Aline Corrêa (PP-SP).
O Youssef recebia o dinheiro das empreiteiras
e usava para comprar um terreno no Rio de Janeiro, por exemplo, disse Meire no
depoimento, em resposta aos primeiros questionamentos do relator da CPI,
deputado Marco Maia (PT-RS).
Meire já prestou depoimento no
Conselho de Ética da Câmara, que abriu processo para investigar a relação de
Youssef com o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA). Na ocasião, ela confirmou
que o parlamentar recebeu dinheiro do doleiro, disse que Youssef fez pagamentos
a outras pessoas e o definiu como "banco".
A contadora decidiu colaborar com
a Justiça do Paraná, onde tramitam os processos relacionados à Operação
Lava-Jato, que desvendou um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo um
montante de R$ 10 bilhões. Ela confirmou a emissão de notas fiscais frias a
empreiteiras, por meio das empresas de Youssef, com o objetivo de dissimular a
prestação de serviços. Meire falou em "malas de dinheiro"
movimentadas pelas empresas.
Fonte: Agência O Globo.
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