terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

HONRARIA DE NOVA RUSSAS

NOVARRUSSENSE

BENEMERENTE POR EXCELÊNCIA.

GONÇALINHA GATO - PRESERVOU A ARTE DA TECELAGEM EM NOVA RUSSAS.

Eliseu Silva.

In memoriam a minha querida vó - Amor eterno de minha vida!
Gonçala Mesquita de Sousa

Quem foi Gonçala gato?

Sendo o autor do texto um de seus netos, qual deles? prometo ao leitor ao final revelar, más  já declaro-me não ser a pessoa mais adequada ou imparcial para fazer essa singela homenagem. No entanto não conheço em Nova Russas os fatos dos relatos históricos que sejam absolutamente imparciais, porém não quero adentrar a tal mérito, más me nortearei pelos fatos verídicos, então vamos ao que interessa, saber quem foi Dona Gonçalinha. 

Gonçala Mesquita de Sousa, mais conhecida pela alcunha de  Gonçalinha Peba ou Gonçalinha GatoNascida no ano de 1924, natural de Nova Russas/Ce, nos Sertões dos Inhamuns, Casada com o saudoso José Manuel de Sousa, (Zé Gato), Mãe de 06 (seis) filhos, da direita para esquerda, temos: Cesarinho, Graça, Osmarina, Cícera, Luis e Rosa, ("família dos gatos").

"Somos felizes por sermos filhos (a) de Gonçalinha Gato!"

Família humilde, sim! porém dignas do respeito, eticidade e moralidade, cujo, tais princípios estão em fase de decadência ou mesmo em extinção, especialmente entre as células das famílias elitizadas, que se julgam serem as melhores de toda a sociedade, por estarem de posse ou usurpando do comando do meu País. 


Residiram por muitos anos na zona rural lidando com a roça, e cuidando do gado dos Senhorios Novarussenses, pois Ela era a tecelã e o Zé Gato era o vaqueiro da fazenda Vagem Grande de propriedade do Senhor Zeca Gildo, outros tempos na mesma lida na Fazenda Santana, onde antes era chamada de "Volta" de propriedade do então saudoso Ex-prefeito Manuel Evangelista, (Manezinho), cuja essa mesma propriedade foi vendida para um outro Ex-prefeito Adalberto Tavares, (faço uma ressalva do ponto de vista cronológico, de que tais títulos eletivos foram posteriores). Também moraram nas propriedades do (Dentista-Doutor) Alípio Gomes, más radicaram-se em Nova Betânia distrito de Nova Russas/CE. 

Gonçalinha, esposa, mãe, vó, bisavó, amiga e tecelã profissional por vocação.

Assim como tantas outras mulheres do Sertão, trabalhou duro na roça, sendo natural da capital do crochê (Nova Russas) era uma grande artesã, porém com um diferencial, pois o carro chefe de sua produção era a tecelagem.

Vovó era uma tecelã profissional da arte de fabricação de Redes Brancas, que se diga de passagem que cuida de uma arte em fase de extinção, provavelmente em razão da manufatura da revolução industrial, ou seja, O trabalho que antes era somente manual, passou a ser feito por máquinas, o que gerou uma maior produção em menor tempo. Além da utilização das máquinas, a manufatura passou a ter como marcante característica a utilização de um modo de trabalho em série, isso quer dizer que era feito etapa por etapa, e especializado, cada trabalhador tinha sua especialização numa área. 

O processamento de sua arte em tecelagem, iniciava com o ará a terra para o plantio do algodão, e sua colheita, e o seu descaroçamento, e o fiar, tudo de forma manual, era mesmo algo magnífico. A arte de Gonçalinha Peba despertou-me admiração e o orgulho de minha vó, pela sua vocação de entrelaçar aqueles milhares de fios, de orgiem de sua própria roça de algodão. 

Encerrado essa fase, temos a rede branca pronta, incorporava em Gonçalinha gato, uma outra profissional, sim, pois a produção de redes era para fins comerciais e Gonçalinha apesar de não ser doutora, entendia muito bem das letras e dos números, lembro que vovó sempre tinha um tempinho para ler poesia. Então não tinha qualquer dificuldade para negociar com qualquer cidadão dos diversos níveis da sociedade, assim suas redes nunca ficavam encalhadas. 

Lembro-me do meu tempo de menino, vovó zelava com muito amor do seu tear, certo dia ela me disse: "...Isso aqui meu filho é a minha ferramenta, é meu ganha pão. O meu tear velho é meu amigo, é da qui que sustei sua mãe e os outros filhos que tenho, foi de onde tirava o dinheirinho para comprar o caderno deles tudo, pois nunca fui mulher de ficar em casa só no pé do fogão, e nem sou besta pra ficar de queixo não mão, esperando o José (esposo) vir do roçado, faço minhas coisas de casa, faço meu crochê e terço essas minhas redes". 

Certo dia ao ver vó ali grudada no seu tear, já viúva e mergulhadas em seus pensamentos, percebi seus olhos cheios de lágrimas, não resisti e a pergunta saltou, - por que vó chora? a voz tremula e chorosa de minha vó: " ...Ora meu filho é de tristeza, agora que estou viúva e velha, acho que tem gente ficando doido(a), não é porque estou aposentada que tenho de desfazer do meu tear, a ele podem até derrubar, más só depois de eu morta..." Posteriormente compreendi, que tinha sido uma sugestão de algum dos filho(a), que falou para a velhinha: -mamãe deixe esse tear de mão, a senhora não precisa mais de trabalhar.

"Palmatória quebra dedo
Chicote deixa vergão
Cacete quebra costela
Mas não quebra opinião!"

- O Quinze - Rachel de Queiroz  

Moral da história, ninguém conseguiu dobrar a velhinha a deixar sua profissão, muito menos colocar abaixo no chão (derrubar)  o tear, trabalhou com dignidade até enquanto Deus permitiu lhe a vida com saúde.  

Gonçala Mesquita de Sousa-Tecelã, teceu muitas redes para nobres e plebeus, preservando a arte da tecelagem, assim colaborou para a formação do patrimônio artístico, histórico e cultural do Povo de Nova Russas-CE. No dia 14 de março do ano de 2007, Gonçalinha foi chamada por Deus, para tecer uma nova vida no Céu. 


Meu nome tem seis letras
Com E escrevo Eliseu
Com L escrevo  Liberdade
Com I escrevo Inverno
Com S escrevo Sertão
Com E escrevo Expressão
Com U escrevo Universo

O sobre nome tem cinco letras
Com S sinto Saudade
Com I  escrevo In memoriam
Com L me vem a Lembrança
Com V escrevo vovó
Com A escrevo amada
Minha pessoa estimada

Conhecendo o Tear
Tear de Fazer Redes
Supõe-se que as rocas como rodas de fiar tiveram origem na India entre os anos 500 and 1000 d.c. No século XIII a roda de fiar é introduzida na Europa e compete com a roca e o fuso.5
São dois os tipos de rodas mais frequentes:
  • roda de fiar com manivela, consiste geralmente num mesa apoiada sobre quatro pés, com uma roda montada numa das extremidades,
esta é accionada por uma manivela anexa ao eixo da roda, na outra extremidade da mesa tem um fuso de ferro com um carreto em madeira que recebe o movimento da roda através de um cordel que os liga;
  • roda de fiar com pedal, que além de fiar enrola o fio
Roca de Fiar

Roca de Fiar
Roca manual

Fuso de Fiar



Descaroçador de Algodão

Balança





Pluma de Algodão

Novelos de Fios


Redes que minha vó fazia




Autor: Eliseu Silva





Conhecimento da Arte 

NORDESTE // CEARÁ
Tradição das redes de dormir, dos índios para o mundo moderno

Leonardo Heffer.

Do NE10/Ceará
Para o nordestino, ela é quase que uma companheira. Praticamente da família, faltando só mesmo fazer aniversário, com direito a bolo (se é que não há quem o faça!). Mas poucos tem conhecimento que ela é uma tradição herdada daqueles que primeiro habitaram nossas terras: os índios. Em tempos idos, de fios torcidos, muitas vezes com travessas que apenas reforçavam a estrutura, as "inis", como chamavam seus criadores, serviam como o principal canto de repouso e de outras atividades afins.


"Descoberta", assim como as terras virgens de Portugal além-Atlântico, "ini" passou a ser chamada de "rede". O pai da alcunha, Pero Vaz de Caminha, aquele mesmo da carta que informava a "terra descoberta", deu a luz à cria (ou apenas mudou o nome no registro do cartório) em uma carta ao rei de Portugal. A data do nascimento: segunda-feira, 27 de abril de 1500.



Em trecho do registro de Caminha, assim foram descritas: "em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam".



Uma das primeiras tradições de terras brasileiras, entre as inúmeras, as redes invadiram o reino português. Em mãos diferentes as dos índios, as redes de dormir ganharam sofisticação. As primeiras, de tecido compacto, foram feitas pelas portuguesas. Os teares só trouxeram à vida, a criatividade: maciez, cores, franjas e varandas, ornamentação.



Mas engana-se quem acredita que a cultura das redes permaneceu apenas deste lado do Atlântico. Um dos poucos nomes no Brasil a se preocupar em resgatar tal invasão cultural mundo afora, o potiguar Luís da Câmara Cascudo, tem até livro com uma pesquisa etnográfica das redes de dormir. Em Roma, as redes ganharam status de transporte; na França, status de riqueza; nos navios, serviam como cama para os marinheiros;



No Brasil, a rede passou de um mero instrumento de descanso, para se tornar garoto propaganda de turismo, agregando valor de relaxamento ("deitado em uma rede em baixo de coqueiros à beira da praia"). Mas muito antes ela também já teve seu papel fúnebre no interior nordestino, como transporte de defuntos nos cortejos daqueles que menos tinham posses.



Mas é entre as tecnologias de hoje, com televisões 3D com aplicativos smarts, conectividades com a internet por meio de redes sem fio (wireless), mp3s players, blurays, home cinemas, que a rede hoje no Brasil tem duas finalidades: decoração e leito para dormir.


ADEUS À CAMA - Rosário Guimarães, médica acupunturista, já deu o adeus à cama há mais de 20 anos. No quarto, em casa, ela já nem existe mais. A senhora do espaço agora é a rede, que armada, não muito alto do chão, serve como o acolhedor repouso para as noites.


A paixão entre a médica e a rede surgiu ainda na época em que estudava para medicina, quando vivia em uma república estudantil. "Chegava do curso, e colocava os livros sobre a cama. No fim do dia estava tão atulhado de coisa na cama que era muito mais prático armar a rede para dormir", diz ela.

A companheira de todas as noites, e da hora do repouso após o almoço, sempre esteve presente. Desde os primeiros contatos, na casa do avó, que por obra do destino ou mera coincidência, era vendedor de redes de porta em porta, na Serra da Meruoca, região Norte do Ceará. Vinda do Acre para passar as férias, as redes eram as únicas dormidas na casa do avó. "Para enfrentar o frio da serra, muitas vezes ele colocava duas redes pra gente dormir. Uma armada e outra pra proteger do frio", explica Rosário.

Depois do Acre e do Ceará, a médica passou por São Paulo. Na conhecida terra da garoa, Rosário precisou mandar instalar nas paredes da sala do apartamento, os armadores para a colega rede. "Das várias situações, a mais engraçada era quando nos balançávamos e o armador fazia aquele barulho típico na parede. A vizinha muitas vezes batia na parede para que a "barulheira parasse". "Acho que ela nem sabia o que causava aquele barulho".

Em Fortaleza, a paixão entre Rosário e a rede só aumentou. Além de não ter mais a cama no quarto de casa, o Centro de Medicina Chinesa, onde Rosário atende, já tem um espaço específico para rede. Até ganhar uma rede bordada a mão por uma das pacientes, com direito a nome gravado, Rosário já ganhou.



DECORAÇÃO - Muito além de um canto para repousar, a rede também ganhou estética de decoração. Arquitetos em várias capital do País já a usam como elemento atrativo ou de composição de varandas, salas, espaços de descanso.


Paulo Mesquita, arquiteto em Fortaleza há 15 anos, usa as redes como elemento para agregar valores a espaços. Entre projetos que faz, recebia muitos pedidos de clientes que queria um espaço na varanda ou dentro de casa para armar uma rede.

"Foi por meio desses pedidos que fomos encontrando várias possibilidade para integrar a rede à decoração dos ambientes", diz Paulo. Para ele o equilíbrio das cores do ambiente com o tecido da rede e até mesmo o tipo de varanda é o truque principal para a harmonia do ambiente.

E muitas vezes não sai barato. Um dos pontos que o arquiteto indica para procurar as redes em Fortaleza são o Mercado Central e algumas lojas no entorno do equipamento. E para quem se interessar, o preço pode, as vezes, amargar o sonho. As rede mais simples custam R$ 25 porém as mais trabalhadas, podem sair por até R$ 300.

*Eliseu Silva – Bacharel em DIREITO - novarrussense –

Blogueiro – (NOVA RUSSAS NOS TRILHOS) – residente em São Paulo –SP.

EM TEMPO: - recomendo acessar  o blog "NOVA RUSSAS NOS TRILHOS" - PARA VISUALIZAR AS FOTOS POSTADAS na matéria em evidência não sendo possível por "problemas gerados para o "nosso" BLOG/FACEBOOK. (desculpas!).


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