domingo, 17 de novembro de 2013

PARLAMENTAR PENITENCIÁRIA

 NÚMERO DE DEPUTADOS PRESIDIÁRIOS CRESCE NO CONGRESSO E PROVOCA CONSTRANGIMENTO.

O Congresso abrirá a semana pressionada por um novo teste de credibilidade. As primeiras prisões dos condenados do mensalão, somadas ao impasse sobre a perda automática ou não dos mandatos, criam um novo constrangimento: a criação da “bancada do presídio”.

A situação do deputado José Genoino (PT-SP), que se apresentou a Polícia Federal na sexta-feira, já causa desconforto. Seus colegas Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP), também punidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), estão na iminência de integrar o grupo que já conta com Natan Donadon (ex-PMDB-RO). Condenado a 13 anos de prisão por desvio de recursos da Assembleia de Rondônia, ele está na penitenciária da Papuda há quase cinco meses e é o primeiro deputado presidiário do Brasil.

O novo abalo na imagem do Congresso é fruto da solidariedade entre os parlamentares. A votação secreta que salvou o mandato de Donadon ocorreu em agosto. No mês seguinte, foi aprovada no Senado uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que determina a perda automática do mandato de condenados criminalmente, sem espaço para recursos. Mas a PEC estacionou na Câmara. Se já tivesse virado lei, evitaria novos desgastes.

O corporativismo posterga ao máximo qualquer decisão capaz de ameaçar os parlamentares, diz o filósofo Luiz Felipe Pondé.

Veja quem são os 12 réus que tiveram prisão decretada

A Câmara terá de decidir o futuro de Genoino, Henry e Costa Neto. Se adotar o rito do caso Donadon, abrirá processos de cassação. Durante a tramitação, será possível que o deputado presidiário circule pelo Congresso. Segundo André Mendes, professor da FGV Direito Rio, como o trio cumprirá pena em regime semiaberto, juridicamente existe a chance de trabalho na Câmara e pernoite na cadeia.

No semiaberto, o trabalho é facultativo e depende da aprovação do juiz da execução, que neste caso é o STF.

Para o sociólogo Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a anomalia reforçará a imagem negativa que a atividade parlamentar tem no país.

Ter um político condenado por crimes e com manutenção de seu mandato é, no limite, assumir que não somos um país sério.

Na visão do cientista político Antonio Testa, da UnB, o Congresso terá de afastar qualquer deputado condenado. Contudo, não será suficiente para recuperar sua imagem. A saída está na aprovação da perda automática do mandato e no fim do voto secreto no Legislativo. Câmara e Senado terão de dar respostas concretas ao país.

Vão precisar cortar na própria carne. O problema é que o jogo corporativista é muito forte. É difícil fazer qualquer previsão.

Os personagens

José Genoíno: Um dos ícones do PT, José Genoino (PT-SP) era presidente do partido durante a execução do mensalão. Foi condenado pelo STF a seis anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha – a segunda condenação será julgada outra vez, nos embargos infringentes. Começou, na sexta-feira, a cumprir pena no semiaberto.
Pedro Henry: Deputado pelo Mato Grosso, Pedro Henry (PP) foi condenado pelo STF por ter recebido dinheiro em troca de apoio ao governo Lula. Sua pena é de sete anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Apesar de não ter direito, sua defesa apresentou embargos infringentes. Pode renunciar ao mandato.

João Paulo Cunha: O STF entendeu que o deputado do PT de São Paulo beneficiou empresas de Valério em contratos da Câmara. Foi condenado a nove anos e quatro meses por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Como ganhou direito a apresentar mais um embargo de declaração, não será preso agora. Ainda tem direito a embargos infringentes.

Valdemar Costa Neto: Era presidente do extinto PL, atual PR, à época do mensalão. O STF entendeu que o deputado paulista recebeu dinheiro para apoiar o governo Lula. Foi condenado a sete anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A amigos, afirmou que pretende renunciar para evitar constrangimento aos colegas de partido.

Natan Donadon: Primeiro deputado a ser preso, Natan Donadon (ex-PMDB-RO) foi condenado por desvio de R$ 8 milhões da Assembleia de Rondônia. Pegou 13 anos de prisão por peculato e formação de quadrilha. Está há quase cinco meses na penitenciária da Papuda. Em agosto, escapou da cassação, mas teve o mandato suspenso.

Derrubada do voto secreto patina

Desde 2001, tramita no Congresso uma PEC que elimina o voto secreto do Legislativo. Enquanto a discussão se arrasta, deputados e senadores são beneficiados pelo sigilo nas votações de perda de mandato, como ocorreu com Natan Donadon.

Parlamentares e especialistas divergem sobre a extensão do voto aberto. O cientista político João Feres Júnior, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é favorável ao voto aberto somente em cassações de mandato. Considera importante o sigilo na análise de vetos presidenciais e aprovação de autoridades indicadas pela Presidência:

O parlamentar ficará desprotegido de pressões do Executivo e da imprensa. Vai inibir a independência, o que é importante.

Feres Júnior alerta para o excesso de críticas ao Congresso, prejudicial para o equilíbrio político do país. Segundo ele, o corporativismo existe, mas a discussão sobre o voto aberto é típica da democracia. Já o sociólogo Rodrigo Prando considera o voto secreto, em qualquer procedimento do Congresso, fere a Constituição.

O político, que representa o povo, usa do segredo para fazer política, não deixando clara sua posição acerca das mais variadas matérias, observa.

Feres Júnior e Prando acreditam que, diante das manifestações de rua e da proximidade das eleições do próximo ano, o voto aberto será aprovado ainda em 2013.
  
Parece que a sociedade está absolutamente saturada de uma atuação dos políticos desconectada dos interesses dos cidadãos afirma Prando.

Projetos empacados

Fim do voto secreto legislativo

Apresentada em maio de 2001, tramita há 12 anos no Congresso. O texto elimina o voto secreto no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais. O eleitor poderá saber as escolhas do seu parlamentar em situações como cassação de mandato, vetos presidenciais, eleição da Mesa Diretora e escolha de autoridades indicadas pela Presidência, como ministros do STF.

Situação: A proposta foi aprovada pela Câmara (primeiro turno, em 2006, e segundo, em setembro passado). Na última quarta-feira, passou no primeiro turno no Senado, onde será votada novamente na próxima semana. Se o texto for alterado, voltará à Câmara. Há muita resistência contra a matéria.

Voto aberto só para cassações

— Apresentada em setembro de 2007, a PEC tramita há seis anos. O texto termina com o voto secreto na Câmara e no Senado nas votações para cassação de mandatos. Pela proposta, será possível saber se deputados e senadores votaram a favor ou contra a perda dos mandatos de seus colegas em casos como condenação criminal com sentença transitada em julgado e quebra de decoro parlamentar.

— Situação: A proposta foi aprovada pelo Senado em setembro de 2012 e encaminhada à Câmara. O texto passou na Comissão de Constituição e Justiça e em uma comissão especial. Falta passar pelos dois turnos em plenário. Se a proposta for alterada, voltará ao Senado.

Perda automática de mandatos

Apresentada em abril de 2013, a proposta tramita há sete meses no Congresso. O texto prevê a perda automática do mandato de deputado ou senador que tiver condenação definitiva, sem possibilidade de recursos, por improbidade administrativa ou delitos criminais. O projeto também termina com o voto secreto em sessões para perda de mandato na Câmara e no Senado.

Situação: O texto foi aprovado em dois turnos no Senado e chegou à Câmara em setembro. A PEC já passou pela Comissão de Constituição e Justiça, mas estacionou em uma comissão especial. Ainda precisa ser votada no plenário da Câmara. Se for alterada, voltará ao Senado.

Próximos passos

— O STF expede os mandados de prisão de todos os deputados condenados e informa à Câmara.

Não há consenso se o STF pode mandar cassar imediatamente os mandatos dos condenados ou se as perdas dependem de decisão da Câmara. Parlamentares entendem que a decisão final é deles.

No caso de Donadon, foi aberto processo de cassação na Câmara. Se for adotado o mesmo rito, os processos serão analisados pela Comissão de Constituição e Justiça. Aprovados, seguirão para plenário.

As cassações serão definidas em votação secreta. Para cassar os mandatos, são necessários pelo menos 257 votos – a Casa tem 513 integrantes.

Existe a possibilidade de o presidente Henrique Alves afastar os deputados, assim como fez com Donadon. Assim, serão empossados os suplentes.

Fonte: Agência Brasil.






Nenhum comentário:

Postar um comentário