Um
relatório da agência do governo de combate à lavagem de dinheiro revela que os
quatro, entre outros petistas, movimentaram quase meio bilhão de reais em
transações com indício de irregularidades.
Há duas semanas, analistas do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras, mais conhecido pela sigla Coaf, terminaram o trabalho mais difícil que já fizeram. O
Coaf, subordinado oficialmente ao Ministério da Fazenda, é a agência
do governo responsável por combater a lavagem de dinheiro no Brasil.
Reúne, analisa e compartilha com o
Ministério Público e a Polícia Federal informações sobre operações financeiras
com suspeita de irregularidades. Naquela sexta-feira, dia 23 de outubro, os
analistas do Coaf entregavam à chefia o Relatório de Inteligência Financeira
18.340. Em 32 páginas, eles apresentaram o que lhes foi pedido: todas as
transações bancárias, com indícios de irregularidades, envolvendo, entre
outros, os quatro principais chefes petistas sob investigação da PF, do
Ministério Público e do Congresso.
Eis o quarteto que estrela o relatório: Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República, líder
máximo do PT e hoje lobista; Antonio Palocci, ministro da Casa Civil no primeiro
mandato de Dilma Rousseff, operador da campanha presidencial de 2010 e hoje
lobista; Erenice Guerra, ministra da Casa Civil no segundo mandato de Lula,
amiga de Dilma e hoje lobista; e, por fim, Fernando Pimentel, ministro na primeira gestão Dilma, também operador
da campanha presidencial de 2010, hoje governador de Minas Gerais. O relatório foi
enviado à CPI do BNDES. As informações contidas nele ajudarão, também,
investigadores da Receita, da PF e do MP a avançar nas apurações dos esquemas
multimilionários descobertos nas três operações que sacodem o Brasil: Lava Jato, Acrônimo e Zelotes.
Essas investigações, aparentemente díspares entre si,
têm muito em comum. Envolvem políticos da aliança que governa o país e grandes
empresários. No caso da CPI do BNDES, os parlamentares investigam as suspeitas
de que os líderes petistas tenham se locupletado com as operações de
financiamento do banco, sobretudo as que beneficiaram o cartel de empreiteiras
do petrolão.
Ao todo, foram examinadas as contas bancárias
e as aplicações financeiras de 103 pessoas e 188 empresas ligadas ao quarteto
petista. As operações somam, prepare-se,
quase meio bilhão de reais. Somente as transações envolvendo
os quatro petistas representam cerca de R$ 300 milhões.
Palocci, por exemplo, movimentou na conta-corrente de sua empresa de
consultoria a quantia de R$ 185 milhões. Trata-se da maior devassa já realizada
nas contas de pessoas que passaram pelo governo do PT. Há indícios de diversas
irregularidades. Vão de transações financeiras incompatíveis com o patrimônio a
saques em espécie, passando pela resistência em informar o motivo de uma grande
operação e a incapacidade de comprovar a origem legal dos recursos.
O Coaf não faz juízo sobre as operações. Somente
relata movimentações financeiras suspeitas de acordo com a lei e regras do
mercado, como saques de dinheiro vivo na boca do caixa ou depósitos de larga
monta que não tenham explicação aparente. O Coaf recebe essas informações
diretamente dos bancos e corretoras. Eles são obrigados, também nos casos
previstos em lei, a alertar o Coaf de operações “atípicas” envolvendo seus
clientes. É obrigação de a Coaf avisar as autoridades sobre operações suspeitas
de crimes. A lavagem de dinheiro existe para esquentar recursos que tenham
origem ou finalidade criminosa, como pagamentos de propina. Não cabe ao Coaf
estipular se determinada transação é ilegal ou não. Cabe a ele somente informar
a existência dessa transação às autoridades competentes, caso essa transação
contenha características de uma operação de lavagem de dinheiro. Foi isso que o
Coaf fez no caso do quarteto petista. Cabe agora à PF, ao MP e ao Congresso
trabalhar detidamente sobre as informações reveladas pelo Coaf.
Fonte: Reuters.
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