COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
A CORRUPÇÃO E A CRISE.
Nobres:
A crise brasileira decorre de um modelo econômico
equivocado, de um aparelhamento do Estado por grupos em que a corrupção e a
concussão vicejaram, e por uma filosofia política ultrapassada. A concepção de
que o futuro da pátria estaria em prestigiar o eixo Sul-Sul, com oferta de
benesses às cambaleantes economias de Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e
Argentina e concessões praticamente sem contrapartidas fragilizaram nossa
participação no cenário internacional. A própria demolição do Ministério das
Relações Exteriores, por consultor da Presidência de nítida formação marxista,
terminou por neutralizar uma das instituições que, nos momentos de crise,
sempre foi de particular importância para o país. Por outro lado, o inchaço da
máquina burocrática para acomodar os “amigos dos reis” (113 mil comissionados,
contra 4 mil dos EUA e 600 da Alemanha), exigindo uma autofágica política
tributária (carga de aproximadamente 36% do PIB, contra 24% dos EUA e Coréia do
Sul, 29% do Japão e 28% da Suíça, gerou um desequilíbrio orçamentário que levou
às “pedaladas” e ao rebaixamento do grau de investimento. Se a presidente não
readquirir credibilidade, só há dois caminhos possíveis: renúncia ou
impeachment. A isto se acresce a notória inabilidade da presidente em dialogar;
e sua fantástica tendência a falar de improviso. sem pensar, e decidir com
rapidez, sem medir as conseqüências, o que terminou por gerar conflitos com o
Legislativo. A própria sociedade, quando se deu conta do estelionato eleitoral
praticado, reagiu, baixando sua popularidade à expressão quase nula. Esta
incapacidade de governar e sua falta de credibilidade acarretaram a fuga de
investimentos, o aumento do desemprego e da inflação, e a redução, mês após
mês, do PIB. A presidente só tem apoio de grupos radicais, contumazes
maculadores da lei, como o MST e o MTST. O impeachment (artigos 85 e 86 da
Constituição) é instrumento democrático e constitucional, sendo apenas mais
traumático que o voto de desconfiança de um governo nos sistemas parlamentares.
Se, em curtíssimo prazo, a presidente não readquirir credibilidade, só há dois
caminhos possíveis: renúncia ou impeachment. Este, todavia, depende
exclusivamente da decisão do presidente da Câmara dos Deputados, que titubeia
entre dar-lhe início ou aguardar os acontecimentos. Tem-se a impressão de serem
verdadeiras as notícias de que teria havido um acordo para que, de um lado, o
processo de cassação contra Eduardo Cunha não corra na Comissão de Ética e, de
outro, ele não dê seqüência ao pedido de impeachment da presidente. mas é
inegável que pode haver a conveniência mútua de se manter este instável
equilíbrio de ausência de medidas parlamentares e judiciais. Qualquer eventual
decisão nas duas áreas seria postergada para 2016, após o recesso parlamentar. Em
hipótese: Aberto o processo de impeachment, pelo menos os holofotes midiáticos
seriam retirados de cima de Cunha, passando para a presidente da República, com
o que seus advogados poderiam defendê-lo com mais tranqüilidade. E o eventual
impeachment guindaria o vice Michel Temer à Presidência. Se, com sua habilidade bastante conhecida em outros meios, pelo menos, fizesse um governo de coalizão, com um ministro da Fazenda experiente e
competente talvez o ambiente de pessimismo que impera no Brasil terminasse e
pudéssemos recomeçar a reconstrução moral e econômica do país.
Antônio
Scarcela Jorge.
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