Para analistas, oposição tentará desgastar Dilma com caso Petrobras.
RIO - Em meio ao suspense das
revelações a conta-gotas da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, a corrupção deve se consolidar como
o tema mais frequente no debate político do segundo turno, dizem analistas
ouvidos pelo GLOBO. Ainda que o escândalo do mensalão, em 2005, não tenha
inviabilizado a reeleição do ex-presidente Lula um ano depois, Dilma Rousseff
(PT) certamente terá no escândalo da Petrobras a maior vulnerabilidade diante
do rival Aécio Neves (PSDB).
Mais do que apontar a sangria dos
cofres públicos, o caso servirá também para a oposição questionar a capacidade
administrativa de Dilma e desconstruir sua imagem de gestora implacável. Dilma,
por outro lado, deve insistir na tentativa de resgatar o personagem da “faxina
ética” do início de seu governo, enumerando suas ações de combate à corrupção.
- A discussão mais forte será
sobre gestão pública. E nesse âmbito entra a corrupção — analisa a cientista
política Christiane Romeo, professora do Ibmec-RJ.
A historiadora Maria Aparecida
Aquino, professora da USP, acredita que, mesmo não tendo sido a corrupção uma
influência decisiva nos últimos pleitos, o segundo turno pode trazer de volta a
indignação das manifestações de 2013. Por outro lado, ela avalia que o
movimento ficou fora da campanha porque não conseguiu amadurecer e se
viabilizar no mundo da política.
- A corrupção será muito
debatida. Se for redundar em algo concreto, é outra conversa, diz Maria
Aparecida. Os políticos têm sido eleitos acima dessa temática, mas as pessoas
nunca deram tanta atenção a esse assunto como agora. A prisão de políticos até
pouco tempo era impensável. É um tema inevitável, que não ficará restrito ao
atual governo federal, porque entrou na agenda política com mais força. Ainda
que não eleja um ou derrote outro, afeta a decisão do voto.
ECONOMIA SERÁ PRINCIPAL CAMPO DE BATALHA
A reviravolta na última semana da
campanha que levou Aécio Neves (PSDB) a ultrapassar Marina Silva (PSB) nas
urnas restabeleceu, no segundo turno, a polarização entre petistas e tucanos.
Para analistas políticos, isso deverá aumentar o peso da economia no embate
entre os dois finalistas.
Na avaliação de Felipe Borba,
professor de Ciência Política da Uni Rio, Dilma Rousseff (PT) vai insistir na
estratégia de comparação entre os 12 anos de governos do PT e os oito de
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), especialmente nas áreas de emprego, renda e desigualdade.
Aécio, por sua vez, tentará puxar o debate para o momento atual da economia,
tentando limitar a comparação entre Dilma e Lula, já que a presidente tem
resultados piores nos principais indicadores em relação ao antecessor.
- Em 2006 e em 2010, os tucanos
Geraldo Alckmin e José Serra não conseguiram superar essa comparação, porque a
conjuntura era excepcional. Hoje, existem condições diferentes, porque a
situação da economia não é boa — diz Borba, para quem a convicção com que Dilma
defende sua política econômica a deixará mais segura nesse campo do que no da
corrupção, mesmo com o baixo crescimento econômico. - Ela não foge desse debate.
Para a cientista política
Christiane Romeo, a economia terá destaque no segundo turno, porque Dilma e
Aécio representam campos ideológicos claramente distintos nessa área.
- Vamos ter dois modelos bem
claros em discussão: o neodesenvolvimentismo intervencionista de Dilma, cuja
falta de resultados Aécio vai tentar ressaltar, e a visão liberal de Aécio, que
contempla moderação dos gastos públicos. O desafio dele é mostrar como vai
compatibilizar a manutenção de políticas de inclusão social com o rigor fiscal
do modelo liberal, que também está em crise nos países desenvolvidos.
- Maria Aparecida Aquino, da USP,
também avalia que Aécio terá como principal desafio convencer o eleitor de que
não colocará conquistas sociais em risco. Para ela, Dilma vai tentar
estabelecer uma comparação também no debate sobre as políticas de redução da
pobreza e da desigualdade.
- A redução da desigualdade é uma
bandeira dos governos do PT e um dos principais compromissos de Dilma. Ela foi
capaz de manter alguns programas, mas não conseguiu colocar outros em plena
execução. A discussão neste segundo turno será em torno de políticas efetivas
para a diminuir ainda mais a desigualdade e a pobreza.
Para Felipe Borba, a discussão em
torno da economia e da eficiência dos serviços públicos será aguçada, mas corre
o risco de perder espaço para ataques pessoais numa disputa que promete ser
acirrada.
- Há o risco de a eleição
descambar para uma discussão de atributos pessoais, área nas quais os dois têm
fragilidades. Uma disputa tão acirrada tende a levar os candidatos a apostar
muito na desconstrução do adversário.
Fonte: Agência O Globo.
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