COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
ELEITOR EM SUA MAIORIA TORNOU-SE INDIFERENTE
AS QUESTÕES POLÍTICAS DO BRASIL.
Nobres:
Ao contrário das perspectivas que
se robusteceram durante a campanha eleitoral, as manifestações de rua do ano
passado não chegaram a se refletir nas urnas de forma significativa. Em sua
maioria, lideranças do movimento que se candidataram a cargos públicos foram
ignoradas pelos eleitores. E os principais temas levantados nos protestos
sequer apareceram nas agendas dos candidatos durante a campanha. Além disso,
houve uma predominância na eleição e na reeleição de políticos tradicionais.
São sinais evidentes de que os brasileiros ainda precisam de mais tempo para
amadurecer algumas práticas inerentes às liberdades democráticas. Uma das
interpretações possíveis sobre esse fenômeno é a de que, ao derivarem para a
violência e para as depredações, promovidas por grupos minoritários mais
barulhentos, as manifestações acabaram rejeitadas pela maioria da população. A
visão forçada e maniqueísta de fazer política, que acabou se sobrepondo muitas
vezes à relevância das causas, pode ter gerado um efeito oposto. Ainda assim,
mesmo sem influência nos votos, temas levantados a partir de junho de 2013 não
poderão ser ignorados pelos governantes e representantes parlamentares ao longo
de seus mandatos. Entre as reivindicações reforçadas nas ruas, ganham destaque às
relacionadas à melhor qualidade de vida, que dependem basicamente de um avanço
na eficiência dos serviços prestados pelo poder público. É o caso tanto de
áreas tradicionais como saúde, educação e segurança quanto de investimentos em
aspectos como infraestrutura, saneamento e transporte público. Ao mesmo tempo,
a qualidade da política também precisa avançar. Isso vai exigir dos eleitos em
primeiro e segundo turnos menos corrupção e mais cuidado no gerenciamento e na
aplicação de recursos públicos, permitindo um retorno para os contribuintes sob
a forma de investimentos mais eficazes, além de mais investimentos. Assim como
a democracia brasileira, as manifestações de massa ainda precisam evoluir muito
até resultarem em mudanças concretas na forma de o país fazer política, favorecendo
o conjunto da população em todos os sentidos.
Antônio Scarcela Jorge.
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