COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
NÃO VAMOS INCIDIR OS PRÓPRIOS COSTUMES.
Nobres:
Será que está o eleitorado
brasileiro maduro o suficiente para perceber o vazio retórico e não ser
manipulado pelo discurso inflamado e emotivo dos candidatos? As palavras disertas
impressionam, arrebatam e atraem principalmente a população menos escolarizada,
exposta, assim, às armadilhas da retórica. Os candidatos, com o receio das
futuras cobranças, evitam compromissos severos demais. No entanto, tiveram que acionar
aos seus discursos as manifestações das ruas de junho e julho do ano passado,
quando o povo levantou ruidosamente as bandeiras das mudanças na política, nos
serviços prestados na saúde, na mobilidade urbana, na educação, na segurança.
Em função disso, o eleitor deve dedicar maior atenção à fala dos candidatos.
Eles têm obrigação de detalhar quando e como farão o que prometem, quantos
recursos são necessários e de onde virão. Ninguém mais pode ser enganado pela
retórica contaminada de armadilhas de linguagem, de rodeios e eufemismos e por
expressões que amenizam o impacto das palavras, como se isso tivesse a
capacidade de mascarar ou apagar o impacto da realidade adversa ou ampliar o
efeito do que é favorável ao político. Desconforto hídrico equivale, de forma
nua e crua, a racionamento de água. É um exemplo para ilustrar uma armadilha de
linguagem na tentativa de mascarar os fatos. A realidade, no entanto, não muda
só porque foi empregada linguagem mais suave. Quem acompanha os pronunciamentos
dos candidatos e os programas do horário político eleitoral constata que
proliferam termos como mudança, esperança, renovação, conquistas, continuidade.
Palavras agradáveis aos ouvidos, porém vazias, sem conteúdo, pois são
generalizantes. Precisam de compromisso claro, de projetos, de plano de ação,
de programas de curto, médio e longo prazo. Política não é retórica. É a arte e
a capacidade de governar, de estabelecer prioridades. Para tanto, procura-se um
partido com programa e coerência. Um partido cujos candidatos “subam” nos mesmos
palanques em Brasília, nos Estados e nos municípios. Procura-se um partido que
tome partido, que não fique em cima do muro. Que tenha a coragem de assumir
posição. Enfim, um partido que não seja partido internamente, mas que tenha
parte, que tenha posição, que tenha discurso e também prática. É o nosso dever
de cidadania no sentido de buscar a ética por ausência moral.
Antônio Scarcela Jorge.
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