quarta-feira, 1 de outubro de 2014

COMENTÁRIO - SCARCELA JORGE - QUARTA-FEIRA, 01 DE OUTUBRO DE 2014

COMENTÁRIO
Scarcela Jorge

NÃO VAMOS INCIDIR OS PRÓPRIOS COSTUMES.
Nobres:
Será que está o eleitorado brasileiro maduro o suficiente para perceber o vazio retórico e não ser manipulado pelo discurso inflamado e emotivo dos candidatos? As palavras disertas impressionam, arrebatam e atraem principalmente a população menos escolarizada, exposta, assim, às armadilhas da retórica. Os candidatos, com o receio das futuras cobranças, evitam compromissos severos demais. No entanto, tiveram que acionar aos seus discursos as manifestações das ruas de junho e julho do ano passado, quando o povo levantou ruidosamente as bandeiras das mudanças na política, nos serviços prestados na saúde, na mobilidade urbana, na educação, na segurança. Em função disso, o eleitor deve dedicar maior atenção à fala dos candidatos. Eles têm obrigação de detalhar quando e como farão o que prometem, quantos recursos são necessários e de onde virão. Ninguém mais pode ser enganado pela retórica contaminada de armadilhas de linguagem, de rodeios e eufemismos e por expressões que amenizam o impacto das palavras, como se isso tivesse a capacidade de mascarar ou apagar o impacto da realidade adversa ou ampliar o efeito do que é favorável ao político. Desconforto hídrico equivale, de forma nua e crua, a racionamento de água. É um exemplo para ilustrar uma armadilha de linguagem na tentativa de mascarar os fatos. A realidade, no entanto, não muda só porque foi empregada linguagem mais suave. Quem acompanha os pronunciamentos dos candidatos e os programas do horário político eleitoral constata que proliferam termos como mudança, esperança, renovação, conquistas, continuidade. Palavras agradáveis aos ouvidos, porém vazias, sem conteúdo, pois são generalizantes. Precisam de compromisso claro, de projetos, de plano de ação, de programas de curto, médio e longo prazo. Política não é retórica. É a arte e a capacidade de governar, de estabelecer prioridades. Para tanto, procura-se um partido com programa e coerência. Um partido cujos candidatos “subam” nos mesmos palanques em Brasília, nos Estados e nos municípios. Procura-se um partido que tome partido, que não fique em cima do muro. Que tenha a coragem de assumir posição. Enfim, um partido que não seja partido internamente, mas que tenha parte, que tenha posição, que tenha discurso e também prática. É o nosso dever de cidadania no sentido de buscar a ética por ausência moral.

Antônio Scarcela Jorge.

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