QUAIS OS PRÓXIMOS PASSOS NA BATALHA DO IMPEACHMENT?
Além disso, na sexta-feira, a Polícia Federal fez uma
ação contra Lula, que foi levado coercitivamente a depor sobre suspeitas de
beneficiamento no esquema de corrupção da Petrobras.
Nesta terça-feira, às 16h, está prevista uma reunião
dos líderes da oposição com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Ricardo Lewandowski.
A intenção é pedir que sejam analisados o mais breve
possível os embargos movidos pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na
tentativa de modificar a decisão do Supremo sobre o rito do impeachment.
No momento, a tramitação do pedido de impedimento
contra Dilma está paralisado à espera que o STF se pronuncie sobre esses
embargos.
É a corte que dará a palavra final sobre como deverá ser composta a
Comissão Especial da Câmara que emitirá um parecer a favor ou contra a abertura
do processo contra a presidente.
Nesta segunda-feira, foi finalmente publicado o
acórdão com o resumo da decisão tomada no fim do ano passado, o que abre espaço
para que os embargos sejam analisados semana que vem.
Como estratégia de
pressão para que o STF decida logo a questão, a oposição combinou de obstruir a
pauta de votação da Câmara, disse o deputado Paulo Pereira, o Paulinho da
Força, líder do Solidariedade.
"Decidimos sexta que vamos obstruir a pauta para
exigir o que o Supremo decida logo os embargos do rito do impeachment. Como as
coisas se agravaram mais do que a gente esperava, e isso afeta profundamente a
vida de milhões de brasileiros, nós precisamos que o Supremo decida
rapidamente".
Julgamento.
No julgamento realizado em dezembro, a maioria dos
ministros seguiu o voto do ministro Luís Roberto Barroso e decidiu por anular a
votação secreta que elegeu a chapa de oposição para ocupar a maioria das
cadeiras da comissão.
Sob o argumento de que deveria ser mantido o rito do
impeachment do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992), eles entenderam que
não poderia haver chapa avulsa pois o correto seria que os líderes de cada
partido na Câmara indicassem seus representantes (os número de membros de cada
legenda é proporcional ao tamanho de sua bancada). Decidiram também que uma
eventual eleição teria que ser aberta.
Na tentativa de modificar essa decisão, o DEM
peticionou para que fosse incluído no processo a ata da sessão em que foram
escolhidos os membros da comissão de impeachment de Collor.
O partido argumenta
que a eleição só não foi secreta porque os membros indicados foram confirmados
por aclamação, já que havia consenso entre os parlamentares.
Para justificar a possibilidade de candidatura avulsa
(sem ser por indicação dos líderes), o DEM também cita um trecho em que o então
deputado Adylson Motta (PDS-RS) questiona o então presidente da Câmara, Ibsen
Pinheiro, sobre a possibilidade de se candidatar de forma avulsa a uma vaga de
titular da comissão, já que não queria ser indicado como suplente.
Pinheiro
responde que era permitido candidatura avulsa, mas que o prazo para inscrição
já tinha terminado.
O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), disse à BBC
Brasil que ele e mais três parlamentares da oposição – o líder do PPS, Rubens
Bueno (PR), Raul Jungmann (PPS-PE) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) – se reuniram
com o ministro Barroso em fevereiro. Avelino, Bueno e Aleluia eram
parlamentares em 1992.
"Contamos ao ministro que nós três tínhamos
participado do julgamento do Collor e ele ficou mais interessado nos nossos
argumentos", contou Avelino.
Delcídio.
Apesar de a existência da delação de Delcídio não ter
sido oficialmente confirmada, os parlamentares da oposição dão como certa sua
existência e confiam que seu conteúdo será homologado ainda esta semana pelo
ministro do Supremo Tribunal Federa (STF), Teori Zavascki.
Segundo parlamentares da oposição ouvidos pela BBC
Brasil, a estratégia é que, assim que isso acontecer, os três juristas que
apresentaram o pedido de impeachment aceito por Cunha – Hélio Pereira Bicudo,
Miguel Reale Júnior e Janaina Conceição Paschoal, venham a Brasília para um ato
político, em que solicitarão oficialmente que seja acrescentada à denúncia
original o depoimento de Delcídio.
A principal acusação do pedido original de impeachment
se baseia nas supostas irregularidades fiscais cometidas pela administração
Dilma em 2014, o que teria permitido ao governo inflar os gastos em ano
eleitoral. A intenção agora é usar as supostas revelações do senador para dar
fôlego as acusações de corrupção no governo.
"Depois da revelação da delação do Delcídio não
tem como o Supremo rejeitar a homologação", acredita Paulinho da Força.
Delcídio, que era líder do governo no Senado quando
foi preso em novembro, teria dito no suposto depoimento que a presidente e seu
antecessor sabiam do esquema de corrupção da Petrobras. Além disso, afirmou que
Dilma tentou usar a nomeação de ministros para o STJ (Superior Tribunal de
Justiça) como meio de conseguir a soltura de executivos que estão
preventivamente presos pela Lava Jato.
Essa acusação foi negada pelos magistrados citados. O
governo diz que Delcídio mente por vingança porque o Planalto não tentou
intervir para soltá-lo.
Manifestações.
Para os adversários do governo, a revelação da suposta
delação de Delcídio e a ação da PF contra Lula devem contribuir para aumentar a
adesão às manifestações antigoverno convocadas para o próximo domingo. A ideia
é que os parlamentares da oposição participem em peso.
"As manifestações já estavam marcadas há muito
tempo. Os fatos (da última semana) contribuíram para que venha a dar uma
mobilização grande", acredita Rubens Bueno.
Essa visão, no entanto, não é consenso entre analistas
políticos.
Segundo Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão
de Políticas Públicas da USP, a presença de partidos políticos nos protestos
pode afastar as pessoas das ruas.
Ele vem acompanhando os protestos com
pesquisas juntos aos manifestantes e sua conclusão é que prevalece um
sentimento de rejeição a toda a classe política, não só ao PT, embora o partido
seja o mais criticado pelo grupo.
"Quando analisamos a evolução das mobilizações
pelo impeachment em 2015, observamos um efeito aparentemente paradoxal: quanto
mais o processo de impeachment se torna viável, do ponto de vista da tramitação
parlamentar, menor é a mobilização", nota ele.
"As mobilizações podem ter diminuído no decorrer
de 2015 porque, à medida que a tramitação avançava, ficava claro que grupos
políticos acusados de corrupção se beneficiavam do processo - em particular o
deputado Eduardo Cunha. Essa manipulação política da indignação contra a
corrupção deve ter gerado desconfiança e provocado desmobilização",
pondera.
Fonte: G1 – DF.
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