Nas últimas
semanas o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) está assumindo o papel de novo homem-bomba da Operação Lava Jato.
Após amargar quase três meses de prisão preventiva por
suspeita de tentar obstruir as investigações do escândalo de corrupção na Petrobras,
o parlamentar aos poucos se torna protagonista no caso. Informações vazadas
sobre um eventual acordo de delação firmado pelo petista com a Justiça publicados na revista IstoÉ implicaram os principais nomes do
Governo, incluindo a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Agora, novas informações publicadas na imprensa podem dividir o
foco da operação, até agora majoritariamente sobre o PT e parte do PMDB.
Informações ainda não confirmadas oficialmente dão conta de que o senador
também citou o envolvimento do colega de parlamento Aécio Neves (PSDB-MG), de
o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL) em irregularidades.
Aécio teria negociado com o petista durante a CPI dos Correios,
em 2006. A comissão foi um embrião das investigações que culminaram com o caso
mensalão. À época, o PSDB de Minas Gerais – então governado pelo tucano -
entrou na mira dos parlamentares por supostamente ter usado esquema irregular
de financiamento campanhas.
Em nota, a assessoria do senador afirmou que “Aécio
Neves nunca tratou de assuntos relacionados à CPI dos Correios com o senador
Delcídio do Amaral”. O presidente do PSDB já foi citado por outros delatores da
Lava Jato, mas os processos contra ele foram arquivados pelo procurador-geral
da República, Rodrigo Janot.
A coluna Painel, também da Folha de S. Paulo, afirmou que o senador teria dito que o peemedebista
foi “o grande patrocinador” da indicação de Jorge Zelada para assumir a
diretoria da área internacional da Petrobras.
Apontado como o elo do PMDB no
esquema de corrupção da estatal, o ex-diretor foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 12 anos
de prisão.
A assessoria da vice-presidência da República afirmou que Zelada foi
indicado pela bancada mineira do partido.
Não foram divulgados detalhes sobre a
suposta citação a Renan – em que contexto o nome do presidente do Senado foi
mencionado e se ele teria cometido alguma irregularidade. O peemedebista é alvo
de diversos inquéritos que investigam sua suposta participação nos desvios da Petrobras.
Dilma e cúpula
petista na delação
De acordo com a reportagem da IstoÉ, o acordo
de delação firmado pelo senador teria 400 páginas e foi fechado no dia 19 de
fevereiro. Nele, Delcídio diria que a presidenta e o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo tentaram
interferir na Lava Jato em pelo
menos três ocasiões.
No mesmo dia, Cardozo reagiu desqualificando o
senador, que "não tem credibilidade" e "não prima por dizer a
verdade".
Um dia depois, a presidenta Dilma fez questão de rebater em
pronunciamento, ponto a ponto, as acusações feitas na revista IstoÉ.
A
mandatária criticou o que considera "vazamentos seletivos" da
operação.
“Se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo
e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade”, disse.
A presidenta
afirmou ainda que é "absolutamente subjetiva e insidiosa a fala do
senador, se é que ela foi feita".
Delcídio também teria dito que “Dilma Rousseff, como
então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha pleno
conhecimento de todo o processo de aquisição da Refinaria de Pasadena e de tudo o que esse encerrava",
segundo informa a revista.
Sobre Lula, Delcídio disse: “Lula pediu expressamente
a Delcídio do Amaral para ajudar o (empresário José Carlos) Bumlai porque
supostamente ele estaria implicado nas delações de Fernando Soares e Nestor
Cerveró. No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró
com recursos fornecidos por Bumlai", diz o texto reproduzido pela revista.
Entre os supostamente citados, Lula foi o único que não se manifestou.
O desafio das
provas e novas delações.
Para que a delação do senador seja homologada pela
Justiça, é preciso que ele convença ao procurador-geral, Rodrigo Janot, de que ele tem elementos, ou sabe como consegui-los,
capazes de embasar suas declarações - gravações, comprovantes bancários, por
exemplo.
Então, o ministro do STF responsável pelo inquérito tem de aceitá-la (no caso, Teori Zavascki). Tendo em vista a natureza de alguns dos delitos citados nos seus depoimentos, isso pode ser bastante complicado.
A maioria das acusações se baseia em conversas que Delcídio teve com outros interlocutores, e em última instância seria a palavra
dele contra a dos implicados, a não ser que ele tenha a gravação dos diálogos.
A delação de Delcídio do Amaral é tão esperada quanto
a de executivos de duas grandes construtoras, a Odebrecht e a Andrade
Gutierrez, ainda sem acordo com a Justiça.
O conjunto delas, somada à de Leo
Pinheiro, presidente da OAS, poderia levar a Lava Jato para um novo patamar de
estrago no sistema político.
Fonte: Agência Brasil.
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