quinta-feira, 24 de março de 2016

DELAÇÃO ATORMENTA ALIADOS CORRUPTOS


ODEBRECHT ANUNCIA COLABORAÇÃO DEFINITIVA COM A OPERAÇÃO LAVA JATO


Anúncio veio depois da 26ª fase da investigação, que revelou que construtora montou até um departamento voltado para pagamentos de propina.


A construtora Odebrecht vai fazer uma "colaboração definitiva", nas palavras da empresa, com a Operação Lava Jato. A informação foi dada em primeira mão no Jornal Nacional. O anúncio veio depois da 26ª fase da investigação, que revelou que a Odebrecht montou até um departamento voltado só para pagamentos de propina que movimentou milhões.

A maioria dos presos da 26ª fase da Operação Lava Jato passou a noite na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. As investigações dessa fase foram sobre um departamento da Odebrecht, chamado de "setor de operações estruturadas".
Para os investigadores, o setor se dedicava exclusivamente à atividade ilícita na Odebrecht.

O dinheiro administrado por esse grupo ficava em contas controladas por doleiros e nas planilhas de contabilidade recebiam apelidos como “carioquinha” e “paulistinha”. A Polícia Federal afirma que apenas a conta "paulistinha" tinha R$ 65 milhões em novembro do ano passado.

A propina era paga em contas no exterior e também no Brasil, com depósitos em contas e entregas em dinheiro vivo.

Os pagamentos eram feitos pelos chamados “prestadores” que recebiam uma listagem com o valor total “que deveriam entregar naquela semana e a senha que estava associada a cada uma das entregas”.

“A gente chegou a observar mais de 9 milhões entre ... De um dia pro outro, isso em dinheiro em espécie. O que nos faz crer que existia de fato uma estrutura profissional de pagamento de propina dentro da Odebrecht”, afirmou a procuradora do MPF Laura Tessler.

Os investigadores afirmam que os pagamentos só eram feitos com a autorização de executivos de alto escalão da empresa, inclusive do ex-presidente Marcelo Odebrecht.

“A nosso ver, a não há qualquer dúvida da atuação direta e pessoal do senhor Marcelo Bahia Odebrecht não só de ter o conhecimento dessa estruturação no âmbito da Odebrecht, mas também de pessoalmente agir para pedir pagamento de terceiros”, disse a delegada da Polícia Federal Renata Rodrigues.

A sigla MBO – de Marcelo Bahia Odebrecht – aparece como responsável por um repasse de R$ 1 milhão, segundo as investigações. O beneficiário é “FEIRA”, apelido ligado ao marqueteiro do PT João Santana e a mulher dele, Mônica Moura.

A data do pagamento: 13 de novembro de 2014, logo após a reeleição de Dilma Rousseff. João Santana trabalhou na campanha.

A Polícia Federal diz ainda que o repasse da Odebrecht de recursos de origem espúria a João Santana e Mônica Moura era para quitar compromissos financeiros referentes à campanha eleitoral de 2014, como provável contrapartida por contratos na Petrobras.

Os investigadores afirmam que os pagamentos de propina continuaram mesmo depois que Marcelo Odebrecht foi preso, em junho do ano passado.

Os investigadores descobriram o setor de pagamento de propina depois da delação premiada de Maria Lúcia Tavares, secretária da Odebrecht. Ela admitiu que era responsável pela distribuição dos “acarajés”, como o grupo se referia a propina em dinheiro vivo.

No despacho que autorizou as prisões, o juiz Sérgio Moro destacou que nas planilhas de Maria Lúcia, há pagamentos para João Santana e Mônica Moura que se estendem de outubro de 2014 a maio de 2015, somando R$ 22,5 milhões.

Os investigadores dizem que o departamento de contabilidade paralela da Odebrecht foi responsável por pagamentos a pessoas ligadas a diversas obras municipais, estaduais e federais, como o Aeroporto de Goiânia, a Arena Corinthians, e o Metrô da Zona Oeste no Rio de Janeiro.

O vice-presidente do Corinthians, André Luiz de Oliveira, foi levado em condução coercitiva, para prestar depoimento. Ele chegou a ser preso por posse ilegal de arma, mas pagou fiança e foi liberado.

Repórter: – O que são aquelas transferências de valores que a investigação atribui a você.

André Luiz de Oliveira: – Eu não sei, eu não sei de valores nenhum. Pra mim não tem valor nenhum, pra mim não foi atribuído valor nenhum.

Nesta terça-feira (22), o Grupo Odebrecht anunciou que vai colaborar com a investigação sediada em Curitiba. Além do acordo de leniência, já em curso com a Controlaria-Geral da União, todos os executivos da empreiteira concordaram em fazer acordos de delação premiada, que, em nota, a Odebrecht chama de “colaboração definitiva”.

Embora não cite nomes, a decisão inclui até o ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht. Acordos de delação precisam, segundo a lei, ser sigilosos.

Caberá ao Ministério Público Federal avaliar as vantagens de selar ou não esses acordos com a empresa.

Os procuradores da força tarefa da Lava Jato informaram que não existem acordos de colaboração fechados com executivos da Odebrecht, mas disseram que terão prioridade acordos de delação que se revelarem mais importantes ao interesse público.

Em nota, a Odebrecht disse que “vem mantendo contato com as autoridades para colaborar com as investigações, além da iniciativa de leniência já adotada em dezembro junto à Controladoria Geral da União”.

A Odebrecht afirma que espera “que os esclarecimentos da colaboração contribuam com a Justiça brasileira”.

A empresa promete “adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública”.

A nota diz ainda que a Odebrecht não tem “responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato”, mas que eles revelam “a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento partidário-eleitoral do país”.

A Prefeitura de São Paulo declarou que não fez nenhum pagamento em dinheiro para as obras da Arena Corinthians.
O advogado de João Santana disse que ainda não teve acesso ao teor da delação de Maria Lúcia Tavares.

O advogado de Mônica Moura disse que ela tem conhecimento do esquema mencionado por Maria Lúcia Tavares.

O Corinthians declarou que a obra da Arena ainda não está oficialmente concluída, que vai contratar uma auditoria técnica para avaliar as instalações, e que vai punir responsáveis por irregularidades que venham a ser apuradas.

A Concessionária Rio Barra, que é responsável pela Linha 4 do Metrô do Rio, não quis se manifestar por não ter informações sobre o inquérito.

A Infraero declarou que as obras no Aeroporto de Goiânia foram paralisadas em 2007, porque o Tribunal de Contas apontou sobrepreço. E que elas só foram retomadas em 2013.
Fonte: G1 – DF.

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