ODEBRECHT ANUNCIA
COLABORAÇÃO DEFINITIVA COM A OPERAÇÃO LAVA JATO
Anúncio
veio depois da 26ª fase da investigação, que revelou que construtora montou até
um departamento voltado para pagamentos de propina.
A construtora Odebrecht vai fazer uma
"colaboração definitiva", nas palavras da empresa, com a Operação
Lava Jato. A informação foi dada em primeira mão no Jornal Nacional. O anúncio
veio depois da 26ª fase da investigação, que revelou que a Odebrecht montou até
um departamento voltado só para pagamentos de propina que movimentou milhões.
O dinheiro administrado por esse grupo ficava em
contas controladas por doleiros e nas planilhas de contabilidade recebiam
apelidos como “carioquinha” e “paulistinha”. A Polícia Federal afirma que
apenas a conta "paulistinha" tinha R$ 65 milhões em novembro do ano
passado.
A propina era paga em contas no exterior e também no
Brasil, com depósitos em contas e entregas em dinheiro vivo.
Os pagamentos eram feitos pelos chamados “prestadores”
que recebiam uma listagem com o valor total “que deveriam entregar naquela
semana e a senha que estava associada a cada uma das entregas”.
“A gente chegou a observar mais de 9 milhões entre ...
De um dia pro outro, isso em dinheiro em espécie. O que nos faz crer que
existia de fato uma estrutura profissional de pagamento de propina dentro da
Odebrecht”, afirmou a procuradora do MPF Laura Tessler.
Os investigadores afirmam que os pagamentos só eram
feitos com a autorização de executivos de alto escalão da empresa, inclusive do
ex-presidente Marcelo Odebrecht.
“A nosso ver, a não há qualquer dúvida da atuação
direta e pessoal do senhor Marcelo Bahia Odebrecht não só de ter o conhecimento
dessa estruturação no âmbito da Odebrecht, mas também de pessoalmente agir para
pedir pagamento de terceiros”, disse a delegada da Polícia Federal Renata
Rodrigues.
A sigla MBO – de Marcelo Bahia Odebrecht – aparece
como responsável por um repasse de R$ 1 milhão, segundo as investigações. O
beneficiário é “FEIRA”, apelido ligado ao marqueteiro do PT João Santana e a mulher dele, Mônica Moura.
A data do pagamento: 13 de novembro de 2014, logo após
a reeleição de Dilma Rousseff. João Santana trabalhou
na campanha.
A Polícia Federal diz ainda que o repasse da Odebrecht
de recursos de origem espúria a João Santana e Mônica Moura era para quitar
compromissos financeiros referentes à campanha eleitoral de 2014, como provável
contrapartida por contratos na Petrobras.
Os investigadores afirmam que os pagamentos de propina
continuaram mesmo depois que Marcelo Odebrecht foi preso, em junho do ano
passado.
Os investigadores descobriram o setor de pagamento de
propina depois da delação premiada de Maria Lúcia Tavares, secretária da
Odebrecht. Ela admitiu que era responsável pela distribuição dos “acarajés”,
como o grupo se referia a propina em dinheiro vivo.
No despacho que autorizou as prisões, o juiz Sérgio Moro destacou
que nas planilhas de Maria Lúcia, há pagamentos para João Santana e Mônica
Moura que se estendem de outubro de 2014 a maio de 2015, somando R$ 22,5
milhões.
Os investigadores dizem que o departamento de
contabilidade paralela da Odebrecht foi responsável por pagamentos a pessoas
ligadas a diversas obras municipais, estaduais e federais, como o Aeroporto de
Goiânia, a Arena Corinthians, e o Metrô da Zona Oeste no Rio de Janeiro.
O vice-presidente do Corinthians, André Luiz de
Oliveira, foi levado em condução coercitiva, para prestar depoimento. Ele
chegou a ser preso por posse ilegal de arma, mas pagou fiança e foi liberado.
Repórter: – O que são aquelas transferências de
valores que a investigação atribui a você.
André Luiz de Oliveira: – Eu não sei, eu não sei de
valores nenhum. Pra mim não tem valor nenhum, pra mim não foi atribuído valor
nenhum.
Nesta terça-feira (22), o Grupo Odebrecht anunciou que
vai colaborar com a investigação sediada em Curitiba. Além do
acordo de leniência, já em curso com a Controlaria-Geral da União, todos os
executivos da empreiteira concordaram em fazer acordos de delação premiada,
que, em nota, a Odebrecht chama de “colaboração definitiva”.
Embora não cite nomes, a decisão inclui até o
ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht. Acordos de delação precisam, segundo
a lei, ser sigilosos.
Caberá ao Ministério
Público Federal avaliar as vantagens de selar ou não esses acordos
com a empresa.
Os procuradores da força tarefa da Lava Jato informaram
que não existem acordos de colaboração fechados com executivos da Odebrecht,
mas disseram que terão prioridade acordos de delação que se revelarem mais
importantes ao interesse público.
Em nota, a Odebrecht disse que “vem mantendo contato
com as autoridades para colaborar com as investigações, além da iniciativa de
leniência já adotada em dezembro junto à Controladoria Geral da União”.
A Odebrecht afirma que espera “que os esclarecimentos
da colaboração contribuam com a Justiça brasileira”.
A empresa promete “adotar novas práticas de
relacionamento com a esfera pública”.
A nota diz ainda que a Odebrecht não tem
“responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato”, mas
que eles revelam “a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de
financiamento partidário-eleitoral do país”.
A Prefeitura de São Paulo declarou
que não fez nenhum pagamento em dinheiro para as obras da Arena Corinthians.
O advogado de João Santana disse que ainda não teve
acesso ao teor da delação de Maria Lúcia Tavares.
O advogado de Mônica Moura disse que ela tem
conhecimento do esquema mencionado por Maria Lúcia Tavares.
O Corinthians declarou que a obra da Arena ainda não
está oficialmente concluída, que vai contratar uma auditoria técnica para
avaliar as instalações, e que vai punir responsáveis por irregularidades que
venham a ser apuradas.
A Concessionária Rio Barra, que é responsável pela
Linha 4 do Metrô do Rio, não quis se manifestar por não ter informações sobre o
inquérito.
A Infraero declarou
que as obras no Aeroporto de Goiânia foram paralisadas em 2007, porque o
Tribunal de Contas apontou sobrepreço. E que elas só foram retomadas em 2013.
Fonte: G1 – DF.
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