Para
manter o projeto de poder do partido, Dilma simbolicamente passa a faixa ao
antecessor. Oficialmente, o ex-presidente-ministro terá como grande meta
sufocar o impeachment.
Alvo de uma denúncia por lavagem de dinheiro e
falsidade ideológica e na mira da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva decidiu nesta quarta-feira assumir o Ministério da Casa
Civil do governo Dilma Rousseff.
A manobra garante ao petista foro privilegiado
- e o livra das mãos do juiz federal Sergio Moro, que conduz as ações da Lava
Jato em Curitiba. Já Dilma, que há muito não governa, apenas se contorce em
manobras para permanecer no cargo, entrega ao antecessor o pouco poder que lhe
restava.
A nomeação de Lula, oficialmente tratada pelo governo como uma
estratégia para evitar o impeachment, coloca o petista no mais importante
ministério do governo - pasta que o PT transformou em uma usina de escândalos
desde que chegou ao poder. Pouco mais de cinco anos após tomar posse pela
primeira vez, Dilma inverte a propalada 'faxina' a que deu início quando
assumiu a Presidência: em vez de expulsar do governo alguém pilhado em
malfeitos, a presidente abre as portas do Planalto a quem foge da Justiça.
Depois de dias de negociação, o martelo sobre a
questão foi batido durante o café da manhã no Palácio do Planalto. A informação
foi confirmada por parlamentares petistas pouco após a reunião, na Câmara dos
Deputados.
O Palácio do Planalto se pronunciou cerca de duas horas depois, por
meio de nota, confirmando a alteração e anunciando ainda o peemedebista Mauro
Lopes na Secretaria de Aviação Civil. Embora a presidente tenha simbolicamente
entregado a faixa ao seu padrinho político, o líder do PT na Câmara, Afonso
Florence (BA), afirmou que a nomeação não reduzirá o poder da presidente Dilma
Rousseff.
"Lula vai ajudar a impedir o impeachment", disse. Segundo o
petista, a decisão não transformará a presidente em uma "rainha da
Inglaterra". Ou seja, alguém cujo poder é meramente simbólico. Pelo
Twitter, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirmou: "Ministro Wagner, no
dia de seu aniversário, mostra grandeza e desprendimento ao deixar a Casa
Civil! Lula novo ministro da pasta!".
Jaques Wagner, o ministro
aniversariante que acaba de perder o emprego, foi alocado na chefia de gabinete
de Dilma. O presidente do PT, Rui Falcão, anunciou também pelas redes sociais
que a posse de Lula será na próxima terça-feira.
A avaliação do governo é que a nomeação de Lula para a
Casa Civil não estanca a crise política, já que, segundo um aliado do Planalto,
"ainda é preciso administrar o problema Mercadante". O atual titular
da Educação foi flagrado em gravações tentando comprar o silêncio do senador
Delcídio do Amaral, como revelou VEJA na terça-feira.
Nos
bastidores, calcula-se que a ida de Lula para a Casa Civil deve provocar um
rearranjo ministerial, a começar justamente pela Educação.
Lula e Mercadante
sempre foram desafetos e o ex-presidente já teria pedido a cabeça do colega de
partido, um dos maiores aliados da presidente Dilma no governo.
Com a saída de
Mercadante, Lula ficaria ainda com uma pasta de orçamento polpudo nas mãos para
dar início à sua articulação política.
Na noite de quarta-feira, parlamentares especulavam
que a Educação pudesse ser oferecida justamente ao PMDB do Senado, Casa que
será o fiel da balança no processo de impeachment. "90% da atual crise
está localizada no Congresso. Agora, Dilma contratou Pep Guardiola, o melhor
técnico do mundo, para cuidar de seus jogadores", afirma o deputado Silvio
Costa (PTdoB-PE), vice-líder do governo na Câmara.
Nos bastidores, governistas dão como certo que Lula
embarca na Casa Civil já com as linhas gerais para montar um entourage de
aliados. Uma das hipóteses defendidas pelo petista seria abrigar o
ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles de volta na equipe econômica.
Desde que protagonizou o embate pela queda do ex-chefe da Fazenda Joaquim Levy,
Lula articulava pelo retorno de Meirelles.
Com poderes de um terceiro mandato
travestido de ministério, as pressões serão cada vez mais evidentes. "Você
acha que o Lula, assumindo o comando do time do governo, não vai querer montar
a sua própria equipe?", confidenciou um aliado. "Não é simplesmente a
vinda para a articulação política.
O presidente vem mexer no governo, dar uma
sacudida", disse o deputado petista Wadih Damous (PT-RJ), um dos mais
ferrenhos defensores do Planalto no Congresso.
A estratégia de blindagem de Lula ao conquistar foro privilegiado
assumindo um ministério foi inaugurada pelo próprio ex-presidente petista, que
em 2004 fez uma manobra para proteger o mesmo Meirelles de ser investigado por
suspeitas de fraude em contratos para ocultar o crescimento exponencial do
patrimônio.
Na época, para evitar que o então chefe da autoridade monetária
pudesse ter seus sigilos quebrados por ordem da justiça, Lula editou uma medida
provisória conferindo status de ministro ao cargo de presidente do Banco
Central e levou o caso para o Supremo Tribunal Federal. No STF, o episódio
envolvendo Meirelles, suspeito de crime contra a ordem tributária, acabou
arquivado.
Nas conversas que teve antes de aceitar assumir a Casa
Civil, Lula defendeu ainda nomes de seu interesse para, se não assumirem cargos
oficiais no governo, pelo menos orbitarem uma composição extra-oficial de
consultores.
Um desses nomes seria o ex-presidente do Supremo Nelson Jobim.
Atualmente, Jobim já atua como o mentor da estratégia de defesa das
empreiteiras enroladas na Operação Lava Jato e, com essa função, ele seria mais
útil do que, pelo menos oficialmente, se assumisse um cargo de primeiro escalão
na administração Dilmista.
Com Lula sendo ele próprio um dos alvos principais
das apurações do petrolão, Jobim atuaria mais do que nunca na linha de frente
no "controle de danos" na Lava Jato.
O ministério assumido por Lula articula o
funcionamento interno do governo e os interesses do Planalto no Congresso.
Caberá ao ex-presidente, que costuma indicar ministros a Dilma Rousseff,
referendar ou não nomeações a diretorias de estatais e a cargos no segundo e terceiro
escalões do governo.
A liberação de emendas parlamentares, decisiva em votações
de interesse da Presidência no Congresso, e a negociação delas com os
parlamentares serão outras das atribuições de Lula. O ex-presidente também
deverá acompanhar o andamento de grandes obras e projetos do governo, como a
usina de Belo Monte e a Minha Casa Minha Vida.
Fonte: Agência Brasil.
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