Decepção com Bento XVI deixa comércio de Aparecida indiferente à visita do papa Francisco
Comerciantes
dizem que arrecadação é melhor em fins de semanas sem atrações especiais
Bento XVI ainda não saiu da
lembrança dos comerciantes de Aparecida, em São Paulo. Muitos reforçaram os
estoques de artigos religiosos e alimentos na visita do então papa ao Santuário
Nacional em 2007. Em vão. A multidão de fiéis e romeiros não consumiu o
esperado, e o investimento não foi compensado. Por causa dessa decepção, muitos
lojistas e vendedores locais não acreditam que a vinda do papa Francisco, no
dia 24 de julho, proporcionará um boom nas vendas. O papa participará no Rio de
Janeiro da Jornada Mundial da Juventude. O ceticismo entre comerciantes
contraria a esperança de que o primeiro papa latino-americano possa atrair mais
fiéis do que o seu antecessor, por ser mais carismático e identificado com os
pobres. A Prefeitura de Aparecida trabalha com perspectiva de receber até 400
mil pessoas, mas a administração da Basílica de Aparecida estimou o número em
cerca de 200 mil. Houve desperdício de alimentos na passagem do último papa,
segundo o gerente de uma franquia internacional do ramo alimentar, Anderson
Fabiano, de 35 anos. "As lojas jogaram toneladas de frango e carne fora.
Houve prejuízo para muitos", disse. As garrafas de água compradas por Ida
Marcondes, de 53 anos, para a sua lanchonete na visita de Bento XVI levaram meses
para serem vendidas. Ela diz que há publicidade excessiva e pessoas, com medo
de tumulto, desistem da viagem. "É muita propaganda feita e as pessoas
sabem que terão dificuldades como o congestionamento da (Rodovia Presidente)
Dutra", afirma. "As pessoas vêm mais para ver o papa, e não para
comprar", afirma a gerente de um quiosque de venda de alimentos, Dora
Diniz, de 38 anos. "A pessoa pensa que vai vender uma coisa absurda, mas
não vai." Entre lojas e barracas que vendem artigos religiosos, a imagem
do papa Francisco já é explorada, mas ainda de forma tímida, em variedade e
quantidade pequenas. "A gente trouxe alguns produtos, medalhas e terços
relacionados. Esgotaram, mas estão vindos mais", diz a lojista Fátima
Cristina. Ela admite, porém, que os produtos são vendidos naturalmente, e não
por causa da vinda do papa. "Não vai ser preciso aumentar o estoque
especialmente para isso", diz, apesar de torcer por mais público. Vendedora
do sorvete "Itu", comercializado aos montes na cidade, Renata
Sampaio, de 23 anos, diz que não trocaria os lucros da vinda do papa pelos de
um fim de semana normal. "Ainda bem que o papa vem em uma quarta-feira,
para não afastar os clientes do domingo", diz. Para o comércio, a elevação
natural do fluxo de turistas no mês de julho devido às férias é um fator
favorável mais concreto do que a presença do papa. "Julho é sempre muito
bom para a gente por ser um mês de férias, é certeza de mais lucro",
afirma Dina Souza, gerente de um restaurante próximo ao santuário. Independência.
Por trás da indiferença alegada por alguns comerciantes quanto à vinda do papa
Francisco, existe outro aspecto: a constatação de que a economia de Aparecida
já é sustentada pelo turismo religioso, que atrai um número enorme de
visitantes independentemente de ocasiões especiais. Em 2012, o número de
turistas saiu da casa dos 10 milhões e chegou a 11,6 milhões, cerca de 1 milhão
por mês. O presidente da Associação Comercial e Industrial de Aparecida, Angelo
Reginaldo Leite, afirma que, só no fim de semana do Dia das Mães, houve 180 mil
visitantes – e maio ainda não é um mês de pico de comparecimento. "Aqui
não precisa vir papa nem celebridade. A imagem (de Nossa Senhora de Aparecida)
sempre está lá para ser louvada", afirma Leite. "Como a visita do
papa vai ser um dia só, a gente acha que vai ser uma invasão, mas será como um
fim de semana", diz. Segundo o Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes
da cidade, 65% das 33 mil vagas de hotéis da cidade já estão reservadas para o
dia 24 de julho. Há cinco mil novos leitos em comparação com 2007, ano da
última visita papal. O número atual de leitos é quase o mesmo do de habitantes,
36 mil. Um dos novos hotéis, a Rainha do Brasil, construído pelo próprio
Santuário Nacional e inaugurado em setembro passado, tem reservas esgotadas de
18 de julho até o fim do mês. São 330 apartamentos, que podem comportar uma,
duas ou três pessoas. Já o Hotel Central, na Praça Nossa Senhora de Aparecida,
onde fica a antiga Igreja de Aparecida, ainda não faz reservas para a data,
segundo um recepcionista. "Fazer uma crítica em termos comerciais a
Aparecida é até pecado", afirma Ernesto Elache, presidente do Sindicato de
Bares, Hotéis e Restaurantes da cidade. "Você não tem que investir para o
turista vir e consumir. Ele vem espontaneamente. A única coisa necessária é
abrir o comércio e ganhar em cima", argumenta. Anticlímax. Existe uma
ideia recorrente em Aparecida de que as datas especiais inibem muitos
visitantes por medo de superlotação. Até 12 de outubro, dia de Nossa Senhora de
Aparecida, estaria sujeito a isso. O secretário de Administração de Aparecida,
Domingos Léo Monteiro, reconhece: eventos chamativos podem gerar o que ele
descreve como "anticlímax". No entanto, afirma, a prefeitura espera
um público bastante elevado. "Pode acontecer o que aconteceu nas outras
vezes, um anticlímax, as pessoas imaginam que muita gente vai e desistem, mas a
prefeitura está trabalhando para receber até 400 mil pessoas", disse
Domingos. Quatrocentas mil pessoas em um único dia seria um número acima da
média, mas não superaria um fim de semana agitado, quando a cidade recebe entre
400 e 500 mil pessoas, segundo o secretário de Administração de Aparecida. Com
relação ao prejuízo alegado por comerciantes na última visita papal, Domingos
diz que o número esperado de visitantes pode ter sido superestimado e que os
estoques consideraram a presença papal por mais de um dia. Um dos dois
prefeitos de igreja da Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, Irmão Viveiros,
diz que a expectativa da igreja é receber por volta de 200 mil pessoas. A
basílica tem capacidade para, no máximo, no aperto, 40 mil fiéis, segundo
Viveiros. Por isso, o Santuário Nacional espera que a missa a ser realizada
pelo papa Francisco aconteça no pátio externo. "Se a missa for à Tribuna
Bento XVI, teríamos muito espaço e poderíamos receber um número infinitamente
maior", disse.
Fonte: O Estadão.OPINIÃO:
- A visita do Papa em qualquer cinscunstância, objetiva oração, - não é prioritário para comercialização - que enseja "lucro fácil" daqueles que confundem prover a comercialização da fé em todos os segmentos que desejam usar dessa premissa.
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