Ex-agente
da Ditadura diz que Dilma integrou grupos terroristas para implantar o
comunismo no Brasil
Declaração foi dada à Comissão da Verdade por Carlos Ustra,
ex-comandante do DOI-CODI.
O coronel reformado Carlos
Alberto Brilhante Ustra disse, nesta sexta-feira (10), em depoimento à Comissão
Nacional da Verdade, que se não fosse a atuação dos militares, o comunismo
existiria hoje no Brasil.
— Estávamos lutando pela
democracia e estávamos lutando contra o comunismo. Se não fosse a nossa luta,
se não tivéssemos lutado, eu não estaria aqui porque eu já teria ido para o
paredón. Os senhores teriam um regime comunista, um regime como o de Fidel
Castro. O Brasil teria virado um "Cubão" em referência a Cuba.
Ustra também se referiu à atuação
da presidenta Dilma Rousseff, durante a ditadura militar.
— Ela integrou quatro grupos
terroristas [que tinham como objetivo final] a implantação de uma ditadura do
proletariado, o comunismo. Derrubar os militares e implantar o comunismo. Isso
consta de todas as organizações.
O coronel comandou o DOI-CODI-SP
(Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa
Interna do 2º Exército em São Paulo), órgão de repressão da ditadura militar,
entre 1970 e 1974.
Durante a ditadura, a presidente
Dilma integrou as organizações clandestinas Polop (Política Operária), Colina
(Comando de Libertação Nacional) e VAR-Palmares (Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares), dedicado a combater a ditadura militar. Condenada por
"subversão", ela passou três anos presa no Presídio Tiradentes, em
São Paulo, entre 1970 e 1972.
O coronel compareceu hoje à
Comissão da Verdade e, apesar de decisão judicial que
lhe garantia o direito de não se pronunciar durante o depoimento,
Ustra falou aos membros da comissão e negou também que tenha cometido
assassinato, tortura e sequestro. O ex-comandante afirmou ainda que nenhuma
tortura foi cometida dentro das instalações do órgão de repressão do governo
militar.
Antes do início do depoimento,
Ustra fez um pronunciamento em que reiterou que as ações de repressão foram
respostas aos atos das “organizações terroristas que queriam implantar o
comunismo no Brasil”.
Ustra citou ações praticadas
pelos grupos de esquerda contra o regime militar.
— Quando fui transferido para São
Paulo no início dos anos 70, os terroristas já haviam assaltado mais de 300
bancos e carros-fortes. Tinham encaminhado mais de 300 militantes para a China
para treinar a guerrilha, já haviam atacado quartéis, roubado armas e
sequestrado três diplomatas. Em face disso foi criado o DOI-CODI. Eramos homens
prontos para o combate, cumprindo ordens.
O coronel acentuou que seria
apenas mais um na cadeia de comando.
Durante o seu depoimento, ao ser
indagado sobre o desaparecimento de vários militantes políticos, Ustra negou
que tenha havido qualquer morte no DOI-Codi.
— No meu comando ninguém foi
morto no DOI [Codi]. Foram mortos em combate, de arma na mão, na rua.
Para Cláudio Fonteles, um dos membros da Comissão da Verdade, Ustra, ao ser confrontado com a documentação reservada do DOI-CODI, Ustra “deu uma versão insustentável de mortes em combate”. Documentos apresentados pela CNV apontam em 50 o número de mortos no órgão durante o período em que foi dirigido pelo coronel.
Para Cláudio Fonteles, um dos membros da Comissão da Verdade, Ustra, ao ser confrontado com a documentação reservada do DOI-CODI, Ustra “deu uma versão insustentável de mortes em combate”. Documentos apresentados pela CNV apontam em 50 o número de mortos no órgão durante o período em que foi dirigido pelo coronel.
Já o advogado e ex-defensor de
presos políticos José Carlos Dias, que também integra a CNV, o depoimento foi
emocionalmente forte e mexeu com os presentes.
— Hoje foi um dia muito penoso
para mim. Eu defendi mais de 500 presos políticos e a maior parte vítimas do
coronel Ustra. Defendi pessoas que foram mortas sob as ordens dele.
DE VÁRIAS FONTES.
“uma só versão”
‘Nunca fui assassino, diz coronel
Ustra à Comissão Nacional da Verdade’.
Convocado pelo colegiado para falar sobre crimes
ocorridos durante a ditadura, o militar defendeu sua atuação no período: 'Quem
tem que estar aqui é o Exército, não eu'
"Coronel Ustra em depoimento à Comissão da
Verdade"
SÃO PAULO - O coronel reformado
do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra afirmou nesta sexta-feira, 10, que
"lutou pela democracia" e negou ter cometido crimes durante o regime
militar. "Nunca fui assassino", disse Ustra aos integrantes da Comissão
Nacional da Verdade. Em seu depoimento afirmou ainda que a presidente Dilma
Rousseff participou de "organizações terroristas".
O coronel foi convocado como
parte das atividades do colegiado. Antes das perguntas, Ustra fez um depoimento
inicial em que defendeu sua atuação no período militar. "Estávamos cientes
de que estávamos lutando para preservar a democracia. Lutávamos contra o
comunismo. Se não fosse a nossa luta, hoje eu não estaria aqui porque eu já
teria ido para o 'paredon'", afirmou. "Hoje não existiria democracia
nesse País", completou.
Em sua defesa, Ustra afirmou que
combatia o "terrorismo". "O objetivo das organizações
terroristas era a implantação de uma ditadura do proletariado, do comunismo.
Isso está escrito no estatuto de todas as organizações terroristas, inclusive
no das quatro que a presidente da República participou", disse em
referência à Dilma Rousseff, que fez parte de grupos de resistência à ditadura
e foi presa em 1970.
O coronel comandou o Destacamento
de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-Codi), do 2º Exército, em São Paulo, entre 1970 e 1974. O nome dele é um
dos mais citados em denúncias de violações de direitos humanos no período.
"Quem tem que estar aqui é o Exército, não eu", disse em tom
exaltado.
"Eu não vou me entregar. Eu
lutei, lutei e lutei. Tudo que eu tenho a declarar está no meu livro",
afirmou ao final da sua fala. Ustra obteve decisão liminar na Justiça para
ficar em silêncio durante a sessão, mas respondeu parte das questões.
Perguntado sobre um caso de
estupro nas dependências do DOI-CODI, Ustra reagiu com irritação. "Nunca,
nunca, nunca ninguém foi estuprado dentro daquele órgão. Digo isso em nome de
Deus. É verdade o que estou falando."
Ustra também negou a ocorrência
de mortes no DOI-CODI durante o seu comando. "Sempre admitimos que houvesse
mortos durante o regime militar. No meu comando ninguém foi morto dentro do
DOI. Todos foram mortos em combate. Dentro do DOI, nenhum."
Nesta sexta, a comissão ouviu
também o ex-agente Marival Chaves Dias do Canto. Ele confirmou que Roberto
Artone era agente da repressão e poderia dar informações sobre desaparecidos
político, conforme revelou o Estado, nesta sexta. Pela primeira vez, os
depoimentos foram abertos ao público.
Fontes: Agência Brasil e o Estadão.
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