GOVERNO TEMER QUER MUDAR CONSELHOS DAS ESTATAIS.
Os conselhos têm em sua
composição muitos representantes do governo Dilma Rousseff.
O governo do presidente em exercício Michel Temer
prepara uma grande reformulação nos conselhos de administração dos bancos
públicos e das empresas estatais. Os conselhos - instâncias em que são tomadas
as decisões estratégicas das empresas - têm em sua composição muitos representantes
do governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Em entrevista ao ‘Estado’, o
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, revelou que o objetivo é evitar “o
conflito de interesses”.
Na visão do ministro, as pessoas que ocupam esses
postos, indicadas pelo governo anterior, certamente contestarão as novas
propostas administrativas, da mesma forma como fizeram durante a votação da
revisão da meta fiscal, no Congresso, na madrugada de quarta-feira, quando
ficou claro o clima de confronto e enfrentamento em relação às posições
defendidas por Temer.
Padilha evitou usar o termo “devasso” para classificar
a atuação do novo governo nas empresas estatais, no Banco do Brasil, na Caixa
Econômica Federal e em outros bancos públicos. “Essa palavra soa mal. Penso que
tem de se fazer uma análise, uma auditoria”, disse, acrescentando que “a
orientação do presidente Michel é que não haja caça às bruxas”. E emendou: “Nós
não estamos procurando pessoas; estamos procurando solução do ponto de vista da
gestão”.
Padilha não citou casos específicos nem nomes de
conselheiros. Mas, uma busca em dados de empresas controladas pelo governo
mostra ao menos sete integrantes do primeiro escalão da gestão Dilma: o
ex-ministro Jaques Wagner (Casa Civil) e o assessor especial da Presidência Giles
Azevedo, no conselho da hidrelétrica de Itaipu; os ex-ministros Luís Inácio
Adams (Advocacia Geral da União) e Waldir Simão (Planejamento), ambos nos
conselhos da Brasilprev e da Brasilcap, duas coligadas do Banco do Brasil; os
ex-ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Edinho Silva, na BB Mafre, empresa
de seguros do BB, e Miguel Rossetto (Trabalho), no BNDES. O ex-governador do
Rio Grande do Sul Alceu Collares, Maurício Requião, filho do ex-governador do
Paraná Roberto Requião, e Roberto Amaral, que ocupou o ministério de Ciência e
Tecnologia no governo Lula, também integram o conselho de Itaipu.
Pela Lei das Sociedades Anônimas (S/A), há três formas
de retirar conselheiros de administração em empresas de capital aberto: fim do
mandato (usualmente de dois anos, com possibilidade de prorrogação), renúncia
ou destituição em assembleia geral de acionistas.
Ao defender as mudanças nos Conselhos para se
adequarem às novas orientações, o ministro Padilha explicou que irá buscar um
alinhamento dos conselheiros. Para ele, a gestão do governo deve ser feita “com
pessoas que queiram que a proposta seja adotada e não com quem a conteste
diametralmente”. Em seguida, defende rapidez nessas mudanças.
“Em tendo havido uma mudança no governo e uma mudança
de orientação do governo, é obvio que estas substituições deveriam ter
acontecido ontem”, afirmou. “Como não deu para acontecer ontem, de hoje em
diante é obvio que têm de acontecer, porque senão teremos um conflito de
interesses dentro do órgão, o que é inadmissível”.
Ao ressaltar a necessidade de substituição dos
conselheiros, Eliseu Padilha lembrou o enfrentamento que ficou claro entre o
governo anterior e o novo, em todas as esferas. “Haja vista o debate que se
estabeleceu ontem na Câmara dos Deputados. Se as pessoas que hoje estão nestes
conselhos representam aquela posição que foi expressa no debate de ontem,
dentro do Parlamento, é obvio que essas substituições já deveriam até ter sido
feitas”, observou o ministro.
Questionado sobre o risco de Judicialização, já que a
função de conselheiro tem mandato definido, Eliseu Padilha respondeu: “Não vou
discutir direito adquirido de ninguém. Vou tomar as providências que entendo
defender os interesses do Estado brasileiro. Se isso derivar em alguma demanda
judicial, estamos preparados para enfrentá-la.”
Recentemente foi aberto um questionamento jurídico em
mudanças determinadas pelo governo na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).
Em meio a uma intervenção do Planalto, o presidente Ricardo Melo, eleito para o
período de quatro anos pelo conselho da empresa, foi demitido. Melo, que havia
sido empossado dois dias antes da saída de Dilma, está recorrendo ao Supremo
Tribunal Federal (STF).
O ministro disse que não está definido ainda por qual
conselho devem ser iniciadas as mudanças. Disse apenas que algumas já foram
feitas e que outras virão. Procurada, a assessoria da presidente afastada Dilma
Rousseff não comentou as declarações de Padilha.
Fonte: Agência Brasil.
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