PF DEFLAGRA OPERAÇÃO PARA INVESTIGAR A ODEBRECHT E PESSOAS LIGADAS A LULA.
Justiça
expediu quatro mandados de busca e dois de condução coercitiva.
Ex-presidente não é alvo direto das diligências feitas em SP e no RJ.
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira
(20) uma operação batizada de Janus que investiga contratos da construtora
Odebrecht com o empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira
mulher do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, um dos sócios da empresa de construção civil de
Santos (SP) Exergia Brasil.
O petista não é foco direto das diligências realizadas
pelos policiais federais em São Paulo, em Santos e no Rio de Janeiro, mas é
citado nas investigações.
O Ministério Público Federal (MPF) afirma que a
operação apura se Lula praticou tráfico internacional de influência em favor da
Odebrechte facilitou
ou agilizou a tramitação de financiamentos de interesse da empreiteira junto ao
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A Operação Janus é um desdobramento do inquérito
aberto em julho de 2015, a pedido da Procuradoria da República no Distrito
Federal, para
investigar suposto tráfico de influência internacional do
ex-presidente.
O alvo das investigações eram viagens internacionais feitas por
Lula que teriam sido bancadas pela Odebrecht.
Entre os países visitados pelo
petista com patrocínio da maior construtora brasileira estão Cuba, República
Dominicana, Gana e Angola.
Atualmente, informou a assessoria do MPF, o alvo do
inquérito do ano passado foi ampliado e, além de Cuba, República Dominicana,
Gana e Angola, são apuradas suspeitas de irregularidades em outros
financiamentos concedidos pelo BNDES a Odebrecht para a realização de obras no
exterior.
São investigados os empréstimos destinados à construção do Porto de
Mariel, em Cuba, do Metrô de Caracas, na Venezuela, além de algumas obras no
Panamá, destacou o Ministério Público.
Os alvos da Operação Janus são suspeitos de terem
cometido os crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro, informou a
assessoria da PF.
Responsável pelo processo, o juiz Vallisney Souza de
Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, expediu quatro mandados de busca e
apreensão e dois de condução coercitiva (quando a pessoa é obrigada a ir
depor).
Além disso, autorizou quebra de sigilos bancários, fiscais e de dados
telemáticos de nove suspeitos. O inquérito que embasou os mandados judiciais
foi aberto em 23 de dezembro.
Apesar de ser sobrinho da primeira mulher do petista,
Taiguara era conhecido como "sobrinho de Lula". O sócio do empresário
santista, José Emmanuel de Deus Camano, também foi obrigado a prestar
depoimento nesta sexta à PF.
Os dois estavam hospedados em um hotel no bairro de
Copacabana, no Rio de Janeiro, e foram levados para prestar esclarecimentos na
superintendência da Polícia Federal na capital
fluminense.
Já os alvos dos mandados de busca e apreensão foram as residências
dos dois empresários e também dois escritórios de contabilidade que prestavam
serviços à Exergia Brasil.
Ao G1, a assessoria da Odebrecht
informou que a empresa não irá comentar a nova operação da PF. O G1
também procurou a assessoria do Instituto Lula, mas até a última atualização
desta reportagem não havia obtido resposta.
As defesas de Taiguara dos Santos e
José Emmanuel Camano não foram localizadas.
A Polícia Federal explicou que o nome da operação é
uma referência ao deus romano Janus (ou Jano).
Ainda de acordo com a corporação,
a menção à divindade latina de duas faces, que olha ao mesmo tempo para o
passado e para o futuro, tem o objetivo de mostrar "como deve ser
realizado o trabalho policial, sempre atento a todos os lados e aspectos da
investigação".
Obra em
Angola.
Sobrinho de Maria de Lourdes da Silva – primeira
mulher de Lula que morreu na década de 1970 –, Taiguara é um dos donos da
Exergia Brasil, uma empresa do ramo da construção civil sediada em Santos que
foi contratada pela Odebrecht para atuar em obras complexas de um
empreendimento da construtora em Angola.
A empreiteira brasileira executou, entre 2012 e 2015,
as obras de ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe.
No mesmo ano,
a Odebrecht obteve um financiamento de US$ 464 milhões junto ao BNDES para executar
o projeto no continente africano.
Segundo a PF, a Operação Janus pretende investigar se
a Odebrecht utilizou os contratos com a empresa do sobrinho da primeira mulher
de Lula para pagar "vantagens indevidas".
A construtora de Taiguara,
conforme os investigadores não teriam capacidade operacional para executar a
obra da hidrelétrica em Angola e sequer teria empregados registrados.
A apuração, informou a assessoria da Polícia Federal,
teve início quando foi enviado para a corporação um procedimento de
investigação criminal do Ministério Público Federal que solicitava a
investigação de suposto pagamento de propina pela Odebrecht, entre 2011 e 2014,
em troca de facilidades na obtenção de empréstimos de interesse da empreiteira
junto ao BNDES.
Os investigadores identificaram que Taiguara registrou
uma grande evolução patrimonial após sua empresa fechar o contrato com a
Odebrecht.
O aumento do patrimônio do empresário de Santos é considerado
"incompatível" com seus rendimentos declarados.
Exergia Brasil
Funcionários do prédio onde, segundo os registros oficiais, está sediada a Exergia Brasil informaram ao G1 que a empresa está fechada há, pelo menos, um ano.
Desde então, relataram os funcionários, não tiveram mais
notícias de Taiguara. O imóvel, um dos mais antigos de Santos, fica ao lado da
sede da superintendência local da Polícia Federal.
Os policiais federais também vistoriaram o apartamento
de Taiguara, localizado na Ponta da Praia, por volta das 6h. O empresário mora
em uma cobertura duplex com a mulher.
Os agentes saíram do local com vários
objetos e documentos do sobrinho da ex-mulher de Lula.
De acordo com
funcionários do edifício residencial, Taiguara não estava no local.
A PF informou que ouviu nesta sexta-feira, em Santos,
o depoimento de dois contadores da Exergia Brasil, mas não revelou a identidade
deles.
"Foram feitas perguntas sobre a prestação de
serviço, a origem e o escopo dessas empresas.
Eles [os contadores] não tinham
conhecimento das obras em Angola nem dos contratos com a Odebrecht. Não
trabalham para o Taiguara há três anos.
A polícia não apontou irregularidades
e, neste momento, apenas colheu informações. Nada foi levado da casa dessas
pessoas, mas foi feito uma cópia dos arquivos referentes a essas empresas do
Taiguara, lá no escritório de contabilidade", relatou o advogado Armando
de Matos Jr, responsável pela defesa dos contadores da Exergia Brasil.
CPI do
BNDES.
Em outubro do ano passado, Taiguara dos
Santos prestou depoimento à CPI criada na Câmara para investigar
contratos do BNDES com empresas investigadas na Operação Lava Jato.
Na
ocasião, o empresário de Santos negou que sua ligação familiar com Lula tivesse
o ajudado a fechar o contrato de prestação de serviços com a Odebrecht.
Taiguara admitiu aos deputados que mantém contato com
Lula e disse ser próximo do filho mais velho do ex-presidente, Fábio Luís Lula
da Silva, o Lulinha.
O empresário, porém, negou ter havido interferência por
parte do petista para que ele fechasse os contratos.
Ele chegou a ressaltar que
sua amizade com Lula e com Lulinha não interferia nem positivamente nem
negativamente na obtenção dos clientes de sua empresa.
Fonte: G1 – DF.
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