Dilma prepara discurso
otimista e PT 'acalma' revoltados para preservar Lula
Na tentativa de conter o desgaste
na seara política, a presidente Dilma Rousseff usará o pronunciamento de fim de
ano para fazer um balanço otimista da primeira metade de seu mandato, apesar do
fiasco na economia, e destacar que o País criou alicerces para o crescimento.
Dilma avalia que a oposição só está empenhada em desconstruir a imagem do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para enfraquecê-la na disputa pela
reeleição, em 2014, e quer mostrar que o Brasil vive hoje uma "nova
fase". O pronunciamento de Dilma, em rede nacional de rádio e TV, ocorrerá
perto do Natal, como de praxe, e será gravado nesta semana. No momento em que a
economia tem desempenho pífio, o PT é alvejado pelo julgamento do mensalão e
Lula fica na berlinda, denunciado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de
Souza, o marqueteiro João Santana alertou o governo sobre a necessidade de
jogar os holofotes sobre as conquistas da gestão Dilma. Ao mesmo tempo, emissários
do PT tentam acalmar petistas revoltados, como Rosemary Noronha, ex-chefe de
gabinete da Presidência, em São Paulo, Freud Godoy, ex-assessor de Lula, e
Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Todos foram
flagrados em escândalos, perderam os seus cargos e fazem ameaças veladas de
envolver integrantes do governo nas operações irregulares. A estratégia do
Palácio do Planalto para conter o que o PT define como tentativa da oposição de
"matar" Lula para atingir Dilma tem várias frentes. Uma delas é a
defesa do legado lulista. A outra consiste em tirar projetos parados do papel e
criar uma agenda para mostrar que o terceiro ano de governo é sempre melhor. A
tática prevê, ainda, o apoio à criação de uma CPI para investigar a
"privataria tucana", em 2013. O objetivo declarado da CPI, ainda não
aprovada, é vasculhar o processo de privatização de estatais no governo
Fernando Henrique (1995-2002). Na prática, porém, o PT está dando o troco à
ofensiva liderada pelo PSDB, DEM e PPS, que pedem investigação contra Lula na
Procuradoria-Geral da República. A representação foi feita depois que Marcos
Valério, operador do mensalão, disse ao Ministério Público, em depoimento
divulgado pelo Estado, que o esquema da compra de votos parlamentares ajudou a
bancar despesas de Lula. "Parece que ele (Marcos Valério) pegou uma série
de fatos e fez um bandejão para ver se colava, mas não há prova de nada",
disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Trata-se de uma
tentativa desesperada de alguém condenado a 40 anos de prisão, no julgamento do
Supremo Tribunal Federal, para conseguir pena menor." Em viagem
internacional, Dilma enviou recado pedindo a ministros, parlamentares e
governadores do PT que saíssem em apoio a Lula, como ela própria fez, ao
considerar "lamentáveis" as tentativas de desgastar o ex-presidente.
No Planalto, auxiliares da presidente afirmam que Lula "é como um gato,
que tem sete vidas" e não será acuado por um réu "sem
credibilidade". O ambiente hostil entre governo e oposição antecipa a briga
pela Presidência, daqui a dois anos. "Vamos deixar que o Brasil julgue e
avalie se Marcos Valério tem ou não credibilidade", provocou o senador
Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano à cadeira de Dilma. "O que eu
vejo é que esse empresário assusta, e assusta muito, grande parte do PT, que
manteve com ele relações muito íntimas." Enquanto petistas passaram os
últimos dias apontando o dedo para o "mensalão tucano", com origem em
Minas, o PSDB explorou os escândalos que chegaram até o escritório da Presidência,
em São Paulo. Nomeada por Lula, Rosemary foi demitida por Dilma, mas a máfia
dos pareceres fraudulentos desvendada pela Operação Porto Seguro, da Polícia
Federal, pode ter ramificações que vão além das agências reguladoras e da
Advocacia-Geral da União. "É preciso um freio de arrumação na política do
País e do governo", afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC). "Com tanta
coisa que temos para fazer, consumir o tempo com esse enfrentamento estéril não
leva a nada." Para Viana, Dilma deve aproveitar sua popularidade e andar
mais pelo País, em 2013, assim como Lula, que pretende reeditar as
"caravanas" feitas nas campanhas. "Ela precisa adotar uma
posição firme e dizer a todos que virem essa página do confronto político, para
a gente poder trabalhar", insistiu o senador, que é ex-governador do Acre
e tem bom relacionamento com o PSDB. Nesta semana, porém, uma nova batalha
entrará em campo no Congresso, quando a oposição tentará, mais uma vez, pôr o
PT na defensiva e aprovar as convocações de Marcos Valério, de Rosemary e do
advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. "Estamos numa guerra onde quem
bate, leva", admitiu o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). Futuro
secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo, Tatto foi criticado até
no PT pela iniciativa de propor a convocação de Fernando Henrique, que acabou
aprovada. "Eu confesso que a capacidade do PT de produzir uma agenda
negativa é maior do que nossa capacidade de enfrentá-la", ironizou Aécio.
Fonte: O Estadão.
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