ABRIGAR
CONDENADOS NA CÂMARA SERIA 'VIOLAÇÃO GRAVE', DIZ BARBOSA.
O presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Joaquim Barbosa, disse nesta quinta-feira que a eventual recusa
da Câmara em acatar uma ordem de prisão para os deputados federais condenados
no julgamento do mensalão seria uma afronta à Constituição. "A proposição
de uma medida dessa natureza, acolher os condenados pela Justiça no plenário de
uma das Casas do Congresso, é uma violação das mais graves à Constituição
brasileira", afirmou Barbosa, durante entrevista coletiva no STF. Horas
antes, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), voltou a defender que cabe
ao Legislativo a palavra final sobre a perda dos mandatos dos congressistas.
Maia insinuou que a Câmara poderia abrigar os deputados condenados – João Paulo
Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) – caso o
Supremo decrete a prisão dos três antes de o Congresso analisar o tema. Para
Barbosa, porém, a posição não tem fundamento legal. "Acho que se trata de
desconhecimento puro do funcionamento das instituições brasileiras." Nesta
sexta-feira, Barbosa decidirá sobre o pedido do procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, para que os condenados no julgamento sejam presos
imediatamente. O presidente do STF se recusou a dizer qual será sua decisão.
Posteriormente, porém, sinalizou que não acatará o pedido ao dar uma declaração
sobre Maia. Barbosa afirmou que Maia "não será a autoridade do Poder
Legislativo que terá a incumbência de dar cumprimento à decisão do Supremo.
Portanto, o que ele diz hoje não terá nenhuma repercussão no futuro ou no
momento adequado de execução das penas". A declaração sugere que a prisão
não será decretada ainda neste ano, mas somente após o trânsito em julgado do
caso, quando não houver possibilidade de recursos - ocasião em que Maia não
ocupará mais a Presidência da Câmara, pois seu mandato acaba em fevereiro. Segundo
Barbosa, no sistema presidencial com separação de poderes, modelo que vigora no
Brasil, o Supremo exerce um importante papel de "controle e
estabilização". "A condenação de um parlamentar corrupto que se vale
de seu cargo para enriquecer indevidamente é um elemento desse sistema de
controle." Nesse modelo, diz Barbosa, o Supremo tem o dever de se
contrapor à "tentação tirânica da maioria, do grande número". "E
a tirania do grande número se estabelece nos Parlamentos, a tirania massiva,
ignorante", afirmou.
LULA
Barbosa também comentou
depoimento recente à Procuradoria-Geral da República feito pelo empresário
Marcos Valério, condenado no julgamento do mensalão. Em setembro, após ter sido
considerado culpado pela corte, Valério acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva de ter avalizado os empréstimos fraudulentos que alimentaram o
mensalão, o que Lula nega. "Caso o Ministério Público entenda que (o
depoimento) tem consistência, determinará a abertura de um inquérito", diz
Barbosa. Segundo ele, o Ministério Público tem o dever de investigar denúncias
com as feitas por Valério. "No nosso sistema, o Ministério Público não
goza da prerrogativa de escolher quais casos deve levar adiante, ele é regido
pelo princípio da obrigatoriedade, tem o dever de fazê-lo".
FONTE: BBC BRASIL.
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